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Economista critica a falta de transparência
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O resultado ruim da Caixa no
terceiro trimestre e a polêmica
em torno da divulgação dos números oficiais reacenderam a
discussão sobre o uso social dos
bancos públicos e a transparência da prestação de suas contas.
Para o economista Armando
Castelar, o desempenho ruim
de um dos maiores bancos do
país, controlado 100% pela
União, só se justificaria se fosse
em razão de políticas públicas,
devidamente anunciadas pelo
governo e com total transparência nos resultados.
"A Caixa ter lucro pequeno
em relação aos bancos privados
ou um prejuízo deveria ser por
políticas definidas no Orçamento, e não uma surpresa. Todo mundo deveria saber, e o governo deveria mostrar a evidência de que esse resultado foi
fruto de projetos de interesse
público e com retorno para sociedade. Mas isso não se discute no Brasil. A população não
sabe nem para onde vai o dinheiro", afirma Castelar, pesquisador do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada),
órgão vinculado ao governo, e
um dos organizadores do livro
"Mercado de Capitais e Bancos
Públicos", coletânea de artigos
sobre o tema lançado há pouco.
Ele diz que uma análise da
atuação dos bancos federais entre 1995 e 2004 mostra que não
há comprovação de que essas
instituições geraram crescimento adicional nos locais onde investiram. "Os empréstimos feitos por Caixa, Banco do
Brasil e BNDES não explicam o
desempenho das cidades. Não
há comprovação de que quem
recebeu mais, cresceu mais."
Segundo ele, num país que
tem hoje um dos sistemas financeiros mais avançados no
mundo, os bancos públicos servem a todo tipo de discurso oficial. Se dão lucro, é prova de
que é possível ser público e lucrar como os privados. Se têm
resultado ruim, é porque não
estão no mercado só pensando
em lucro e têm funções sociais.
"Mas onde estão as evidências de que um resultado eventualmente ruim foi fruto de
uma opção de política, e não
por incompetência ou má gestão?", questiona. "Por que não
deixar claro o que é o resultado
de banco comercial e o de um
banco social?", completa.
O caso da Caixa ilustra bem a
questão. A Folha apurou que a
instituição vive hoje uma espécie de "crise de identidade", ao
misturar os custos das suas políticas sociais com a imagem
que tenta vender de um banco
comercial nos mesmo moldes
do BB e de outros privados.
Um exemplo é o setor imobiliário. Durante anos, o governo
avaliou que era uma distorção a
Caixa ser praticamente o único
agente financeiro na área, sensível aos gestores públicos. Como não havia interesse privado, a Caixa cumpriu esse papel
e externou sua vocação.
Agora que seus concorrentes
começam a explorar também
esse nicho, o que deveria aliviar
a Caixa para atuar em outras
áreas também lucrativas, com
retornos mais rápidos, a concorrência virou uma polêmica
entre executivos do banco que
não admitem perda de participação no ramo imobiliário.
Segundo integrante do governo ligado ao banco ouvido
pela Folha, o problema é que a
Caixa, ao mesmo tempo em
que tem fontes cativas de recursos baratos, carrega atribuições que pesam na sua contabilidade e não quer assumir isso
publicamente. Em vez disso,
luta para manter a imagem, ao
lado do BB, como exemplo de
"banco comercial, grande, público e com resultados gordos".
Talvez isso justifique a confusão gerada com a divulgação
do balanço do terceiro trimestre. Na coletiva para apresentar
os dados, a Caixa divulgou o resultado acumulado em nove
meses, com lucro de R$ 1,778
bilhão. E só apresentou parcialmente os números do trimestre, mostrando o lucro pífio de R$ 63 milhões, após queixa dos jornalistas.
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