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TELES
Presidente da Anatel diz que indicador será usado neste ano "pois está no contrato" e que em 2006 preço será "mais justo"
IGP-DI reajustará telefonia, afirma Ziller
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
PATRÍCIA ZIMMERMANN
DA FOLHA ONLINE
A Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações) vai aplicar o
IGP-DI no reajuste de telefonia fixa, em junho. Para o engenheiro
eletricista Pedro Jaime Ziller de
Araújo, 58, que assumiu no início
do mês o comando da agência, a
decisão da Justiça pelo IPCA só
valeu para o aumento do ano passado. Este ano, vale o contrato,
que estabelece o IGP-DI.
Pelo IPCA, os itens da cesta de
serviços de telefonia fixa (assinatura, pulso, habilitação etc.) foram reajustados em 2003 em percentuais que variam de 6,04% a
23,95%. Se o IGP-DI tivesse sido
aplicado, esses percentuais iriam
variar de 10,74% a 41,75%.
Ziller trabalha há 33 anos no setor, mas teve sua carreira marcada principalmente pela atuação
como sindicalista, em Minas Gerais. Era secretário de Telecomunicações do ex-ministro Miro Teixeira (Comunicações) e foi indicado por ele para o cargo, em um
processo tumultuado que levou à
saída do ex-presidente da Anatel
Luiz Guilherme Schymura.
Segundo o novo presidente da
Anatel, os reajustes de telefonia fixa, a partir de 2006, serão "mais
justos" para o consumidor, porque estarão baseados em um índice setorial. Leia trechos de entrevista de Ziller concedida à Folha.
Folha - Como foram os primeiros
dias na agência? O que tem preocupado mais o senhor?
Pedro Jaime Ziller - O que me
preocupava antes de vir para a
agência é o que continua me preocupando hoje. Não deu tempo de
resolver tudo em dez dias úteis. A
questão da competição continua
sendo uma preocupação nossa, a
questão da universalização também. A questão da Brasil Telecom
e da Telecom Italia já foi resolvida,
o que é muito bom. Agora temos
diversos outros problemas para
resolver. Temos a questão da tarifa fixo-móvel [custo das ligações
de telefones fixos para celulares],
que está em estudo. Não tenho
nenhum índice, não tenho nada.
Cumpriremos o que tem que ser
feito. Seguem as regras normais.
Folha - Não há nem a proposta
das empresas para o reajuste de tarifas de telefone fixo para celular?
Ziller - A referência básica é o
IGP-DI [acumulado em 7,67%
nos últimos 12 meses]. Agora nós
vamos discutir como é que faremos essas contas de chegada.
Folha - Quando sairá o aumento?
Ziller - O prazo é o início de fevereiro. Esperamos que na próxima
reunião do conselho [quarta-feira] isso deva ser colocado.
Folha - E para o reajuste de tarifas
de telefone fixo para fixo, em junho? Será o IGP-DI, contratual, ou o
IPCA, determinado pela Justiça?
Ziller - Aquela liminar se refere a
um aumento específico. No reajuste de tarifas aplicado no ano
passado, o tribunal [STJ, Supremo Tribunal Federal] decidiu por
um caminho, em cima de um reajuste específico. Então acabou.
Nós vamos discutir agora o reajuste dos outros 12 meses. Há uma
regra para ser seguida e nós vamos seguir a regra novamente.
Folha - Então será aplicado o IGP-DI, a menos que a Justiça decida
novamente em contrário?
Ziller - Exatamente. Mas se isso
não acontecer, aplica-se o IGP-DI,
aplica-se o contrato.
Folha - As operadoras podem
aproveitar o reajuste de junho para
repor perdas que alegam ter tido
por terem sido proibidas de usar o
IGP-DI ano passado?
Ziller - Se as empresas chegarem
dizendo que houve um desequilíbrio econômico-financeiro, vai
ser analisado. O contrato prevê a
prestação do serviço a preço justo
e razoável. Ninguém pode enriquecer com essa tarifa, e ninguém
pode receber um serviço sem pagar o preço justo por ele.
Folha - Enquanto esteve no ministério, o senhor participou das
negociações com as operadoras para tentar um reajuste menor de tarifas. O senhor pretende buscar essas negociações na agência?
Ziller - A fórmula do contrato é
uma fórmula que não pode ser interpretada sozinha. A fórmula faz
parte de um contrato que está
dentro de um arcabouço legal.
Ninguém, em nenhum momento,
contestou a aplicação dessa fórmula. Nem eu, nem o ministro
[ex-ministro Miro Teixeira], nem
o governo, ninguém contestou. A
agência [em junho de 2003] deu
uma solução [reajuste pelo IGP-DI], e o consumidor achou ruim.
A fórmula permite a negociação.
Folha - Como ficam reajustes de
novos contratos, a partir de 2006?
Ziller - A diferença principal é
que hoje a tarifa tem um índice
preestabelecido, chamado IGP-DI, para indexar. O IGP-DI não
tem nenhuma relação direta com
o custo do setor. O novo modelo
também prevê um teto de preço.
Folha - Também prevê um indexador?
Ziller - Não. Você pode chamar
de indexador, se você quiser assim. Mas quando a gente fala indexador a gente associa imediatamente com IPCA, com IGP-DI. A
gente não usa a palavra indexador
porque o novo índice está relacionado a custos do setor. Você terá
um índice relacionado a esses custos. Claro, porque tem que ter alguma coisa que reajuste. Esse reajuste será baseado com um índice
setorial. E tem uma produtividade aferida, não preestabelecida.
Folha - Os consumidores terão
reajustes menores?
Ziller - Acho que tende a ter reajustes mais justos, não sei se serão
menores, mas serão mais justos.
Folha - Como a Anatel está avaliando a venda da Embratel?
Ziller - Eu não conheço nenhuma proposta de nenhuma empresa. Eu conheço pelos jornais. A
Anatel não comenta nada sobre
esse assunto até que haja uma
proposta colocada para a Anatel.
Folha - As concessionárias de telefonia fixa -Telefônica, Brasil Telecom e Telemar- podem comprar
a Embratel? A regulamentação do
setor permite isso?
Ziller - A interpretação correta
vai ser dada na hora em que houver uma proposta na mesa. Quando houver qualquer processo de
fusão, de venda, de transferência
de controle, cabe à Anatel pegar o
que vier como proposta e instruir
o Cade [Conselho Administrativo
de Defesa Econômica].
Folha - Por que a Anatel decidiu
permitir que a Brasil Telecom operasse telefonia de longa distância
no Brasil todo e telefonia celular, e
a Telecom Italia voltasse para o
grupo de controle da empresa?
Ziller - Toda decisão da Anatel
se pauta pela lei e pelo interesse
público maior. A lei prevê mais
concorrência. Isso provoca a concorrência [ter quatro empresas
operando na mesma área]. Então
o interesse público é beneficiado.
Folha - Mas com a Telecom Italia
no controle, a regulamentação do
setor não proíbe que a TIM e a Brasil Telecom operem telefonia celular na mesma área?
Ziller - Há um conflito de outra
parte que é o fato de existir uma
participação maior no controle
do que poderia ter para estar operando duas licenças simultâneas.
O que seria melhor para o interesse público? Tirar uma, falar que
não pode? Isso não resolveria o
problema.
Folha - Existe alguma expectativa da agência sobre de que maneira isso vai ser solucionado?
Ziller - Não. Isso é um problema
do mercado. São empresas particulares, regidas pelas leis de mercado, e elas vão resolver entre elas.
Folha - Como solucionar a falta de
competição na telefonia fixa?
Ziller - Existe dois modos clássicos de competição. Um deles é o
desenvolvimento tecnológico. A
tecnologia avança, e ao avançar a
tecnologia você cria outros modos de se chegar ao assinante. O
outro é o compartilhamento de
redes. A regulamentação da desagregação de redes, em todas as
modalidades, já está em estudo.
Folha - A agência está com uma
vaga aberta no conselho. Que perfil o senhor acha que deve ter a pessoa para ocupar esse cargo?
Ziller - O perfil que o presidente
Lula indicar e o Senado aprovar.
Folha - O ministro Miro Teixeira
deixou o ministério. O sr. se sente
de alguma forma enfraquecido?
Ziller - Em absoluto. A regulamentação diz qual é o papel da
agência e qual é o papel do ministério. Miro é uma pessoa que eu
conheci há um ano, tivemos um
trabalho que eu acho muito profícuo. E, com o novo ministro, certamente, também vamos ter uma
relação muito boa para trabalhar.
Folha - Em algum momento desse
processo de substituição do ex-presidente da Anatel, Luiz Guilherme
Schymura, o sr. se sentiu constrangido ou desconfortável?
Ziller - Em absoluto. Eu fui indicado pelo presidente Lula. Fui
aprovado por 20 votos a zero na
argüição do Senado, vou para o
plenário e sou 57 a 5. Acho que
ninguém pode se sentir desconfortável com uma situação dessa.
Folha - O senhor acha que o fato
de ser um ex-sindicalista causa
desconforto no mercado?
Ziller - No dia em que eu tomei
posse, a Bolsa caiu e as ações de telecomunicações subiram. No dia
seguinte, subiram de novo. Acho
que o mercado não tem nenhuma
preocupação com esse fato.
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