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ANÁLISE
BCs medem palavras para guiar mercado
JENNIFER HUGHES
DO "FINANCIAL TIMES"
Quando Jean-Claude Trichet, presidente do Banco
Central Europeu, descreveu os
movimentos monetários como
"brutais", há duas semanas, logo
viu o poder que a linguagem tem
nos mercados financeiros.
Analistas buscaram seus dicionários para comparar e discutir o
significado da palavra em francês
e inglês. O resultado foi que os comentários de Trichet conseguiram conter a alta do euro.
O crescimento dos mercados financeiros nos últimos 20 anos
elevou os banqueiros centrais a
um status de ícones. E ler as runas
de seus pronunciamentos tornou-se essencial para os investidores concentrados em movimentações de curto prazo. Mark
Cliffe, da ING Financial Markets,
disse: "É o equivalente à teologia
nos mercados financeiros. Por
trás da retórica sempre há a possibilidade de ação".
O BCE espera que falar agora seja mais barato que agir depois.
Mas a intervenção direta nos mercados cambiais pode ser um exercício dispendioso que os bancos
centrais preferem guardar como
reserva até que seus esforços verbais tenham sido esgotados.
Mas, até esse momento, as palavras são a arma preferida.
O mais poderoso cunhador de
palavras é Alan Greenspan. O presidente do Federal Reserve (BC
americano) é cuidadoso com a
linguagem, parecendo racionar o
estoque de palavras para manter
seu valor e aumentar seu impacto.
Em nenhum lugar isso fica tão
claro quanto nas declarações que
acompanham as decisões de política econômica do Fed. As percepções do mercado sobre o timing das taxas de juros nos Estados Unidos dependem da palavra
"acomodativo" e da expressão
"período considerável". Os investidores inferem que, ao usar continuamente essas expressões, o
banco está tentando reduzir as taxas de juros de longo prazo para
ajudar a reanimar a economia.
Quando o Fed omite essas expressões, o mercado espera um aumento de juros e um reforço equivalente nas taxas de longo prazo.
Greenspan é um mestre no poder da sugestão. Ele se aperfeiçoou na arte de testar a reação do
mercado por intermédio de sugestões e referências veladas.
Veja-se como ele abordou a
perspectiva de deflação em maio
passado. O Fed não usou a palavra temida, que teria causado pânico. Em vez disso, sua declaração
dizia "a probabilidade de uma
queda substancial e indesejável na
inflação, embora pequena, supera
a de uma retomada da inflação de
seu nível atual baixo". Os corretores de títulos desde então passaram horas debatendo as implicações exatas dessas palavras.
Se Greenspan é o mestre atual,
foi seu antecessor, Paul Volcker,
com mudanças de política repentinas, quem criou no mercado o
costume de observar o BC.
Mark Austin, do HSBC, disse:
"Nunca foi muito transparente o
que o Fed realmente estava fazendo, por isso as pessoas confiavam
nas nuances do que Volcker dizia". Mike Berg, da consultoria
econômica 4cast, disse que as reticências de Volcker faziam parte
de uma cultura dos bancos centrais na época. "Eles preferiam nada dizer a dar aos mercados uma
idéia errada."
Uma conversa descuidada pode
rapidamente causar problemas
aos BCs. Gafes de Wim Duisenberg, o antecessor de Trichet, prejudicaram tanto o euro quanto a
credibilidade do BCE. Quando,
em outubro de 2000, Duisenberg
disse que não esperava mais intervenções para conter a queda do
euro, a moeda única caiu a uma
baixa recorde.
"O mercado adora um vencedor", disse Nick Parsons, do
Commerzbank, segundo o qual a
cuidadosa coreografia da recente
advertência do BCE demonstrou
maior compreensão da psicologia
do mercado e reforçou a credibilidade do banco.
Mas a intervenção, verbal ou
real, é um bem consumível, e o
euro retomou sua recuperação
depois que uma reunião dos ministros da Economia da zona euro
não conseguiu fazer mais que
confirmar a linha do BCE, sem sinais de intervenção.
Tradução de Luiz Roberto Gonçalves
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