São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

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NO DIA-A-DIA

Poder de compra tem recuperação lenta

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 39 milhões de brasileiros devem se beneficiar diretamente com o aumento do mínimo. Os R$ 50 a mais nos bolsos desses brasileiros devem gerar gasto adicional anual de R$ 25 bilhões ao longo de 2006.
É difícil estimar precisamente o número de brasileiros que tem seus rendimentos diretamente vinculados ao mínimo. O levantamento mais fácil é o dos beneficiários da Previdência. São 16 milhões de segurados beneficiados com o aumento do mínimo. Estima-se ainda, que 11 milhões de empregados sejam automaticamente beneficiados, bem como 4,4 milhões de trabalhadores domésticos e 7,8 milhões de trabalhadores por conta própria.
Mas, além desses 39 milhões, há um número grande de brasileiros que usam a evolução do mínimo como parâmetro de remuneração. O mínimo, argumenta o Dieese, exerce o "efeito farol", servindo como base em negociações salariais de diversas categorias sindicais. Assim, mesmo que as pesquisas mostrem que cerca de um terço dos trabalhadores ganha até um salário mínimo, uma proporção bem maior que essa é beneficiada pelos aumentos. Impacto, portanto, que existe, mas que é de difícil mensuração.
O mínimo existe desde 1940. Em dezembro daquele ano, valia cerca de R$ 900 em valores do mês passado, ou seja, o poder de compra do mínimo era duas vezes maior quando foi instituído. Desde então, a política do mínimo variou bastante. Ele perdeu valor sistematicamente até 1950, recuperou todo o seu poder de compra e chegou até a ser maior do que quando instituído, em termos reais, nas décadas de 50 e 60, para então perder valor de forma sistemática desde a década de 70 até os anos 90.
É em meados dos anos 90, com o fim do período de alta inflação, que o salário mínimo pára de perder poder de compra. Para ter uma idéia do quanto o valor do mínimo caiu em termos reais, é só comparar quanto de determinado produto ele comprava em cada período. Em 1959, um salário comprava 85 kg de carne. Em 1986, o trabalhador que ganhava mínimo só levaria 25 kg de carne para casa, se gastasse todo o salário no açougue. Em 2003, eram 29 kg.
É claro que essas oscilações não explicam só a perda do poder de compra. O preço dos produtos também oscilou. Os produtos básicos perderam espaço para serviços e bens mais sofisticados e seus preços, relativamente, ficaram menores em relação a esses serviços. Ainda assim, eles mostram, sim, a queda vertiginosa do poder de compra dos salários.
Em apenas um ano desde o início da estabilização econômica, com a implantação do Plano Real, o salário mínimo não teve aumento real, em 1996, quando ele chegou a perder poder de compra novamente. Mas, excluído este ano, a tendência foi de recuperação, ainda que lenta, do poder de compra do mínimo.


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