São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

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FINANCIAMENTO

"Spread" cobrado por instituições financeiras nos empréstimos tem alta, apesar de recentes quedas da taxa Selic

Juro recua, mas bancos elevam margem

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mesmo com a recente redução dos juros promovida pelo Banco Central, o "spread" bancário chegou ao fim de 2005 em alta, se comparado com os números do final de 2004, e ajudou a empurrar para cima as taxas cobradas nos empréstimos concedidos pelo sistema financeiro.
Em dezembro de 2004, o "spread" era de 26,8 pontos percentuais -diferença entre o custo de captação dos bancos, de 17,8% ao ano, e da taxa dos financiamentos, de 44,6%.
Um ano depois, no final de 2005, esse mesmo "spread" havia subido para 28,8 pontos percentuais -porque, apesar de o custo de captação dos bancos ter recuado para 17,1% ao ano, os juros cobrados no empréstimos seguiram caminho oposto e subiram para 45,9%.
"Spread" é o nome dado à diferença entre os juros que os bancos pagam para captar recursos no mercado financeiro e a taxa que é cobrada nos empréstimos a clientes. Essa diferença serve para cobrir parte dos custos que as instituições financeiras, como pagamento de funcionários e despesas com impostos.
Também é do "spread" que sai parte dos ganhos do sistema financeiro. Embora os números finais de 2005 ainda não tenham sido divulgados, os bancos acumulavam, até o mês setembro, lucros recordes.
É esse aumento do "spread", segundo dados do Banco Central, que explica a alta da taxa média cobrada nos empréstimos bancários no ano passado.
O movimento contrasta com a melhora no cenário para crédito observada no último ano, já que, ao final de 2004, a taxa Selic apresentava uma forte tendência de alta, enquanto nos últimos meses de 2005 a situação era oposta, com o BC reduzindo um pouco o aperto monetário.
Para o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, os juros bancários subiram ao longo do ano passado porque "o "spread" reage um pouco mais lentamente" à queda na taxa Selic.
Essa demora das instituições financeiras em reduzir suas taxas, por sua vez, não têm uma explicação muito clara.
De acordo com Miguel Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças), "os bancos foram muito conservadores na sua política de crédito", e, por isso, o "spread" sofreu uma elevação.
Entre setembro e dezembro, a taxa Selic passou de 19,75% ao ano para 18% -hoje está em 17,25%-, enquanto, no mesmo período, o "spread" bancário médio passou de 29,4 pontos percentuais para 28,8 pontos. Lopes diz que, "sem dúvida", esse "spread" deve continuar caindo nos próximos meses.
O encarecimento do crédito ocorrido no ano passado foi mais sentido pelas empresas. Nesse segmento, os juros passaram, entre 2004 e 2005, de 31,0% ao ano para 31,7%. De acordo com Lopes, porém, o movimento não chega a preocupar porque "as taxas para pessoas jurídicas já são bem mais baixas do que nas demais modalidades".
Para pessoas físicas, os juros passaram, nesse mesmo período, de 60,5% ao ano para 59,3%. A taxa praticada em dezembro é a mais baixa já registrada desde 1995. "As taxas ainda são elevadas, de fato, mas são as que nós temos", diz Lopes. No cheque especial, por exemplo, os juros chegam a 147,5% ao ano.


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