São Paulo, sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

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CRISE NOS MERCADOS / FÓRUM DE DAVOS

Commodities não vão cair, dizem analistas

Demanda por produtos deve continuar forte pelo menos neste ano e preços podem até subir, segundo especialista em comércio

Steve Forbes, no entanto, diz que booms de commodities não duram para sempre e que é "bom que o Brasil se prepare"

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O Brasil não corre risco de ser afetado por uma redução de preços das commodities, seu grande produto de exportação, como conseqüência da crise nos Estados Unidos que tende a provocar um desaquecimento geral da economia, talvez uma recessão.
É, pelo menos, a opinião de dois especialistas externos.
Steve Forbes, presidente do grupo de mídia que leva seu sobrenome e ex-candidato presidencial nos Estados Unidos, matiza seu otimismo: "Neste ano, não, mas nos próximos três ou quatro anos haverá forte queda no preço das commodities".
Fred Bergsten, especialista em comércio e câmbio, ao contrário, diz que seria "bom para a economia mundial se Forbes estiver certo", mas acrescenta que, em sua opinião, "nos próximos dois anos veremos até aumento dos preços".
O raciocínio de Forbes está apoiado no passado: "A história mostra que booms de commodities não duram para sempre. Portanto, é bom que o Brasil se prepare".
Já Bergsten prefere raciocinar com a inoxidável lei da oferta e da procura. "A demanda ainda será bastante forte, ao passo que a oferta sofrerá constrangimentos", afirma. Bergsten apóia sua previsão no fato de que ele é um dos poucos economistas presentes em Davos que mostram otimismo a respeito das conseqüências da crise nos mercados.
Para ele, não haverá uma recessão global e, nos Estados Unidos, haverá desaceleração, mas não um retrocesso forte.
Por essa hipótese, é natural esperar que a demanda continue forte.
Na verdade, a preocupação de Bergsten, apoiada por Forbes, é exatamente oposta: problemas pelo lado do fornecimento de commodities, não pela queda de preços.
A lógica é simples: pelo menos no caso de commodities agrícolas, um dos principais itens do cardápio brasileiro, "a demanda está dada", até porque as pessoas não podem deixar de comer, como diz o banqueiro Michael Klein (Citi).
Pelo lado da oferta, o problema surgiria em especial no caso do petróleo, na hipótese de "alguma loucura dos Estados Unidos em relação ao Irã", como diz Gareth Evans, ex-chanceler australiano e hoje presidente do International Crisis Group.
Essa hipótese, no entanto, foi minimizada por todos os participantes de um debate ontem pela manhã exatamente sobre os "pontos quentes" do planeta e os riscos para os negócios por eles representados.
No caso do Brasil, o petróleo não é problema, no entanto. José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras, diz que a empresa produzirá, até 2012, 3,2 milhões de barris por dia, 900 mil barris acima da produção atual de 2,3 milhões de barris/dia. Em 2015, chegará a 4,1 milhões.
De todo modo, Mohammed Al Khalifa, executivo-chefe da empresa de Desenvolvimento Econômico de Bahrein, recomenda ao Brasil "diversificar suas exportações. Esse é o grande tema".
Completa: "Se agregar valor a suas exportações, o Brasil pode se tornar uma força poderosa no mundo".


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