São Paulo, sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

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EUA defendem vigilância sobre fundo soberano

MARIA CRISTINA FRIAS
ENVIADA ESPECIAL A DAVOS

O secretário-adjunto do Tesouro dos Estados Unidos, Robert Kimmit, disse ontem no Fórum Econômico Mundial, em Davos, que "não teme os fundos soberanos, mas o crescimento deles em número e importância indica que precisam de vigilância".
O diretor do fundo estatal do Kuait, que colocou bilhões no Citigroup e na Merrill Lynch recentemente, disse que os investimentos foram feitos por motivos comerciais, e não políticos.
"Fundos soberanos não são diferentes de outros grandes investidores. Por que só os soberanos têm de ter regulação?", disse Bader Al Sa'ad, diretor do Kuait Investment Authority (KIA).
Com o agravamento da crise nos EUA, a preocupação com a falta de transparência e a ausência de regras com que fundos governamentais de investimentos vêm operando é crescente.
Ao final do painel "Mitos e Realidades dos Fundos Soberanos", a ministra das Finanças da Noruega, Kristin Halvorsen, resumiu bem a percepção em Davos acerca do tema: "Por ora, parece que não gostam da gente, mas precisam do nosso dinheiro". O vice-primeiro-ministro da Rússia também defendeu a atuação desses fundos.
Com liquidez de sobra, especialmente pela alta do petróleo, e ativos em dificuldades, pelas fortes perdas no crédito de alto risco, vem crescendo a participação de fundos estatais, muitos deles de países asiáticos, em grandes companhias. Estima-se que fundos soberanos tenham acumulado US$ 2,5 trilhões e que venham a ter US$ 12 trilhões em 2015.
Halvorsen concorda, porém, com a proposta de Lawrence Summers, da Universidade Harvard, de os fundos estatais se reunirem e assinarem compromisso comum de não especular com câmbio e agir guiados apenas por motivos comerciais.
"Um compromisso assim acalmaria a platéia", disse ela diretamente para Al Sa'ad, do Kuait, que acabara de questionar "o que querem dizer com transparência?"
"É dinheiro de cada país. Querem que anunciemos tudo quando formos investir? Quanto dinheiro?"
A ministra norueguesa disse que, como são investimentos públicos, devem ser tratados com transparência. "Se é do seu interesse investir no longo prazo e não no curto prazo, não especular", disse Summers, "então por que não assinam um código de regras?"
"Estão colocando a carroça à frente dos bois", replicou Mohamed Al-Jasser, vice-presidente da Agência Monetária da Arábia Saudita. "Como se os fundos soberanos fossem culpados antes de provar inocência." Duas vezes durante o debate Al-Jasser pediu cautela no trato da questão.
O presidente do Lehman Brothers, Richard Fuld Jr., afirmou-se "market friendly" (pró-mercado, em tradução livre), mas que, no caso dos fundos soberanos, concorda com a necessidade de um código de regras.


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