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Governo Lula tem restrições à compra da Xstrata pela Vale
Ao chegar ao Rio para encontro com Agnelli, presidente diz que ainda discutirá assunto
Integrantes da cúpula do governo têm objeção ao negócio com a mineradora anglo-suíça, que poderia
chegar a US$ 90 bilhões
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
JANAINA LAGE
MALU TOLEDO
DA SUCURSAL DO RIO
Ao chegar ao Rio, ontem à
noite, onde jantaria mais tarde
na casa do presidente da Vale,
Roger Agnelli, o presidente Lula admitiu que o governo pode
interferir numa possível negociação entre a Vale e a mineradora anglo-suíça Xstrata. "O
governo ainda não tem posição,
porque ainda não discutiu o assunto. Em algum momento, o
governo será chamado a discutir e nós discutiremos. Aí,
quando conhecermos qual é a
situação, qual é a proposta, nós
poderemos dizer sim ou não."
Lula disse estar "neutro" em
relação à possibilidade de a Vale comprar a Xstrata porque
não conhece o assunto e ne negou que fosse tratar com Agnelli da negociação. Apesar do comentário, por avaliar que a Vale
investe pouco no Brasil, sendo
o maior grupo privado do país,
Lula "não vê [o negócio] com
bons olhos", segundo expressão de um auxiliar direto.
Lula já disse publicamente
que a Vale investia pouco no
Brasil. Para ele, um negócio da
magnitude da compra da Xstrata só reforçaria isso. Como revelou ontem o jornal "Valor",
há objeções no governo.
O mesmo auxiliar do presidente disse que Lula poderia
ser convencido de eventuais
benefícios do negócio para o
Brasil caso a direção da Vale
apresente bons argumentos.
Para o jantar na casa de Agnelli, o presidente iria acompanhado da primeira-dama, Marisa Letícia, e havia convidado o
governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e a mulher dele,
Adriana, para o encontro. O governador da Bahia, Jaques
Wagner, entrou no prédio do
executivo em Ipanema. Agnelli
tem bom trânsito com Lula e a
ministra da Casa Civil, Dilma
Rousseff, que também tem objeção ao negócio, segundo apurou a Folha.
A Vale já confirmou interesse na compra da mineradora e
o início de tratativas nesse sentido. O valor do negócio seria
de US$ 90 bilhões -US$ 30 bilhões dos quais a serem quitados com a oferta de ações preferenciais da Vale. No mercado,
estima-se o valor da empresa
brasileira em US$ 120 bilhões.
Para integrantes da cúpula
do governo, o negócio poderia
transferir para propriedade estrangeira grande parte de uma
empresa nacional que o governo julga estratégica para o desenvolvimento do país. A Vale
foi privatizada em 1997.
Nos bastidores, Lula tem demonstrado preocupação com
efeitos do agravamento da crise dos EUA no Brasil. Para ele,
uma empresa do porte da Vale
teria peso para amenizar eventuais reflexos externos negativos no crescimento do país. Daí
sua preferência por investimentos internos.
Ironicamente, o próprio Lula
estimula em seus discursos que
os empresários nacionais façam negócios em outros países.
Segundo integrantes da cúpula do governo, o Planalto poderia inviabilizar a compra da
Xstrata por meio do BNDESPar, subsidiária do BNDES que
tem participações em empresas, e pela Previ (fundo de pensão dos funcionários do BB).
BNDESPar e Previ têm participação na Vale e seus representantes no Conselho de Administração da companhia.
Analistas ouvidos pela Folha
que acompanham o negócio
afirmam que um dos principais
entraves para a operação é o
custo do crédito em um cenário
de crise nos mercados e de prejuízos de bancos. A própria Vale citou a crise nos mercados
mundiais como um empecilho
em nota divulgada na semana
passada ao mercado.
A assessoria da Vale disse
que não se pronunciaria sobre
as objeções do governo ao negócio porque considera prematuro abordar o tema, ainda não
discutido no Conselho de Administração. A empresa é controlada por Previ, Bradesco,
BNDES e a japonesa Mitsui.
Analistas dizem que o negócio pode ser bom para a Vale,
em razão da diversificação de
ativos. A Xstrata opera com cobre, carvão, níquel e zinco e
atua na Argentina, Canadá,
Chile, Colômbia, República
Dominicana, Nova Caledônia,
Peru, Filipinas, África do Sul,
Tanzânia e EUA e emprega 50
mil pessoas.
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