São Paulo, sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

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Governo Lula tem restrições à compra da Xstrata pela Vale

Ao chegar ao Rio para encontro com Agnelli, presidente diz que ainda discutirá assunto

Integrantes da cúpula do governo têm objeção ao negócio com a mineradora anglo-suíça, que poderia chegar a US$ 90 bilhões

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

JANAINA LAGE
MALU TOLEDO

DA SUCURSAL DO RIO

Ao chegar ao Rio, ontem à noite, onde jantaria mais tarde na casa do presidente da Vale, Roger Agnelli, o presidente Lula admitiu que o governo pode interferir numa possível negociação entre a Vale e a mineradora anglo-suíça Xstrata. "O governo ainda não tem posição, porque ainda não discutiu o assunto. Em algum momento, o governo será chamado a discutir e nós discutiremos. Aí, quando conhecermos qual é a situação, qual é a proposta, nós poderemos dizer sim ou não."
Lula disse estar "neutro" em relação à possibilidade de a Vale comprar a Xstrata porque não conhece o assunto e ne negou que fosse tratar com Agnelli da negociação. Apesar do comentário, por avaliar que a Vale investe pouco no Brasil, sendo o maior grupo privado do país, Lula "não vê [o negócio] com bons olhos", segundo expressão de um auxiliar direto.
Lula já disse publicamente que a Vale investia pouco no Brasil. Para ele, um negócio da magnitude da compra da Xstrata só reforçaria isso. Como revelou ontem o jornal "Valor", há objeções no governo.
O mesmo auxiliar do presidente disse que Lula poderia ser convencido de eventuais benefícios do negócio para o Brasil caso a direção da Vale apresente bons argumentos.
Para o jantar na casa de Agnelli, o presidente iria acompanhado da primeira-dama, Marisa Letícia, e havia convidado o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e a mulher dele, Adriana, para o encontro. O governador da Bahia, Jaques Wagner, entrou no prédio do executivo em Ipanema. Agnelli tem bom trânsito com Lula e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que também tem objeção ao negócio, segundo apurou a Folha.
A Vale já confirmou interesse na compra da mineradora e o início de tratativas nesse sentido. O valor do negócio seria de US$ 90 bilhões -US$ 30 bilhões dos quais a serem quitados com a oferta de ações preferenciais da Vale. No mercado, estima-se o valor da empresa brasileira em US$ 120 bilhões.
Para integrantes da cúpula do governo, o negócio poderia transferir para propriedade estrangeira grande parte de uma empresa nacional que o governo julga estratégica para o desenvolvimento do país. A Vale foi privatizada em 1997.
Nos bastidores, Lula tem demonstrado preocupação com efeitos do agravamento da crise dos EUA no Brasil. Para ele, uma empresa do porte da Vale teria peso para amenizar eventuais reflexos externos negativos no crescimento do país. Daí sua preferência por investimentos internos.
Ironicamente, o próprio Lula estimula em seus discursos que os empresários nacionais façam negócios em outros países.
Segundo integrantes da cúpula do governo, o Planalto poderia inviabilizar a compra da Xstrata por meio do BNDESPar, subsidiária do BNDES que tem participações em empresas, e pela Previ (fundo de pensão dos funcionários do BB). BNDESPar e Previ têm participação na Vale e seus representantes no Conselho de Administração da companhia.
Analistas ouvidos pela Folha que acompanham o negócio afirmam que um dos principais entraves para a operação é o custo do crédito em um cenário de crise nos mercados e de prejuízos de bancos. A própria Vale citou a crise nos mercados mundiais como um empecilho em nota divulgada na semana passada ao mercado.
A assessoria da Vale disse que não se pronunciaria sobre as objeções do governo ao negócio porque considera prematuro abordar o tema, ainda não discutido no Conselho de Administração. A empresa é controlada por Previ, Bradesco, BNDES e a japonesa Mitsui.
Analistas dizem que o negócio pode ser bom para a Vale, em razão da diversificação de ativos. A Xstrata opera com cobre, carvão, níquel e zinco e atua na Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, República Dominicana, Nova Caledônia, Peru, Filipinas, África do Sul, Tanzânia e EUA e emprega 50 mil pessoas.


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