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entrevista
Ritmo menor impõe cortes, afirma Furlan
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
Luiz Fernando Furlan,
presidente do conselho da
Sadia, afirma que a empresa
estava preparada para um
período de grande crescimento, o que gerou contratações e investimentos. Mas a
mudança de cenário com a
crise fez com que ela cortasse
funcionários. "Não adianta
ficar com uma estrutura, esperando que lá adiante o cenário retome. Então é melhor fazer já", diz Furlan.
O ex-ministro do Desenvolvimento no governo Lula
ainda prevê crescimento das
vendas em 2009, mas em um
ritmo mais moderado do que
o dos dois anos anteriores.
Depois do tombo com os
derivativos, as operações financeiras cambiais que levaram-na à perda de R$ 760
milhões no ano passado, a
Sadia tem buscado se capitalizar. Mas a principal novidade, no entanto, é a busca por
um sócio para o Concórdia
Banco. A intenção, diz Furlan, é encontrar um interessado com capilaridade para
explorar negócios com os 118
mil clientes e outros tantos
fornecedores da empresa.
Furlan, que participa do 5º
Family Workshop, organizado pela Dória Associados, em
Mogi das Cruzes, concedeu a
seguinte entrevista.
FOLHA - Surpreendentemente,
os empresários presentes no encontro passam a impressão não
de pessimismo, mas de estarem
quase que otimistas. Janeiro foi
um mês bom?
LUIZ FERNANDO FURLAN - No
nosso setor, as coisas tendem
à normalidade. O mercado
externo está num período de
acomodação e o interno está
mais tranquilo. Em dezembro, nós tivemos no mercado
interno recorde [de vendas],
tanto em volume quanto em
valor. O que está diferente é
que vínhamos num ritmo de
crescimento muito forte e
agora ele diminuiu substancialmente. As perspectivas
para este ano continuam
sendo de crescimento, mas
mais moderado do que os de
2007 e 2008, porque avançamos 50% em dois anos. O setor de alimentos cresce mais
do que o PIB, e nós vamos
avançar mais do que o PIB.
FOLHA - Se a perspectiva é continuar crescendo, quais os motivos
das demissões recentes feitas pela Sadia?
FURLAN - A empresa se preparou para uma grande fase
de expansão, contratou gente e fez investimentos. Aliás
uma parte do pessoal que
saiu tinha sido contratada no
ano passado. Só que o cenário mudou e não adianta ficar
com uma estrutura, esperando que lá adiante o cenário
retome. Então é melhor fazer já.
FOLHA - Não houve a possibilidade de acordo ou flexibilização?
FURLAN - Eram todos de quadros de chefia e administrativos, não foi cortado ninguém de chão de fábrica. Não
havia essa possibilidade.
FOLHA - Há várias empresas da
área, frigoríficos principalmente,
em recuperação judicial. A Sadia
vai aproveitar as oportunidades
para se expandir?
FURLAN - Nós crescemos
muito nos últimos três anos.
Este é o momento de consolidar o que fizemos. Temos
seis fábricas novas e estamos
procurando ajustar a oferta à
demanda. Não adianta, para
produtos que têm prazo de
validade, produzir e estocar.
Estamos fazendo um trabalho interno de redução de estoques porque o custo do capital está muito alto. Passamos a virada do ano com algumas centenas de milhares
de reais em estoque, com os
atrasos na exportação devido
aos problemas do porto de
Itajaí. Com os investimentos
novos, há um volume muito
grande adicional em plantéis, em animais em criação.
O momento é de consolidar o
grande avanço dos últimos
três anos. Alguns investimentos, como a fábrica nos
Emirados Árabes Unidos, foram suspensos, mas há uma
grande expectativa de que o
segundo semestre vá ser melhor do que o primeiro.
FOLHA - Como vai a capitalização da empresa?
FURLAN - Estamos trabalhando nisso. Há um processo de alienação de ativos e estamos analisando com um
fundo imobiliário que possa
aproveitar terrenos que temos na Vila Leopoldina [onde está a sede da Sadia]. Ele
será investidor dos terrenos
e, como são quatro terrenos
contínuos, pode-se fazer um
projeto amplo, que seja implantado em etapas.
FOLHA - A alienação será em
que linha?
FURLAN - Temos dezenas de
milhares de hectares de reflorestamento. Foi feito um
elenco de imóveis não essenciais à operação. O que nos
interessa no reflorestamento é a madeira. Há quem tenha interesse em investir
nisso. Tem o banco também,
que é um ativo com o qual
podemos fazer associação.
Estamos abertos a alternativas, com uma vantagem: temos 118 mil clientes ativos
com os quais temos relação
favorável. Para alguém que
trabalha no mercado financeiro, conhecer a trajetória e
as transações do seu cliente
por tanto anos é uma grande
vantagem.
FOLHA - Mas o banco já começou a operar?
FURLAN - Estamos mantendo
em banho-maria. Ele foi
aberto há três meses, mas os
118 mil clientes da Sadia são
clientes potenciais do banco
em algum tipo de produto.
Para poder atender a esses
clientes como instituição financeira, precisamos da parceria de um banco de varejo.
Nós somos um banco de um
andar e não temos capilaridade. Nem valeria à pena
criar agências, o ideal é ter
um banco de varejo que seja
parceiro, com interesse em
desenvolver esse potencial
de clientes e fornecedores
que hoje têm relação com a
Sadia e são naturais parceiros de longa data.
FOLHA - E os derivativos?
FURLAN - Eles vão vencendo
a cada mês. Ao mesmo tempo, estamos exportando US$
250 milhões mensalmente.
Há uma perda que não muda,
mas não dá para reescrever o
passado. O importante é que
a operação está gerando caixa dentro da normalidade e,
com o tempo, vai fechar.
A jornalista CRISTIANE BARBIERI participa do 5º Family Workshop a convite da Dória Associados
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