São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

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entrevista

Ritmo menor impõe cortes, afirma Furlan

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Fernando Furlan, presidente do conselho da Sadia, afirma que a empresa estava preparada para um período de grande crescimento, o que gerou contratações e investimentos. Mas a mudança de cenário com a crise fez com que ela cortasse funcionários. "Não adianta ficar com uma estrutura, esperando que lá adiante o cenário retome. Então é melhor fazer já", diz Furlan.
O ex-ministro do Desenvolvimento no governo Lula ainda prevê crescimento das vendas em 2009, mas em um ritmo mais moderado do que o dos dois anos anteriores.
Depois do tombo com os derivativos, as operações financeiras cambiais que levaram-na à perda de R$ 760 milhões no ano passado, a Sadia tem buscado se capitalizar. Mas a principal novidade, no entanto, é a busca por um sócio para o Concórdia Banco. A intenção, diz Furlan, é encontrar um interessado com capilaridade para explorar negócios com os 118 mil clientes e outros tantos fornecedores da empresa. Furlan, que participa do 5º Family Workshop, organizado pela Dória Associados, em Mogi das Cruzes, concedeu a seguinte entrevista.

 

FOLHA - Surpreendentemente, os empresários presentes no encontro passam a impressão não de pessimismo, mas de estarem quase que otimistas. Janeiro foi um mês bom?
LUIZ FERNANDO FURLAN
- No nosso setor, as coisas tendem à normalidade. O mercado externo está num período de acomodação e o interno está mais tranquilo. Em dezembro, nós tivemos no mercado interno recorde [de vendas], tanto em volume quanto em valor. O que está diferente é que vínhamos num ritmo de crescimento muito forte e agora ele diminuiu substancialmente. As perspectivas para este ano continuam sendo de crescimento, mas mais moderado do que os de 2007 e 2008, porque avançamos 50% em dois anos. O setor de alimentos cresce mais do que o PIB, e nós vamos avançar mais do que o PIB.

FOLHA - Se a perspectiva é continuar crescendo, quais os motivos das demissões recentes feitas pela Sadia?
FURLAN
- A empresa se preparou para uma grande fase de expansão, contratou gente e fez investimentos. Aliás uma parte do pessoal que saiu tinha sido contratada no ano passado. Só que o cenário mudou e não adianta ficar com uma estrutura, esperando que lá adiante o cenário retome. Então é melhor fazer já.

FOLHA - Não houve a possibilidade de acordo ou flexibilização?
FURLAN
- Eram todos de quadros de chefia e administrativos, não foi cortado ninguém de chão de fábrica. Não havia essa possibilidade.

FOLHA - Há várias empresas da área, frigoríficos principalmente, em recuperação judicial. A Sadia vai aproveitar as oportunidades para se expandir?
FURLAN
- Nós crescemos muito nos últimos três anos. Este é o momento de consolidar o que fizemos. Temos seis fábricas novas e estamos procurando ajustar a oferta à demanda. Não adianta, para produtos que têm prazo de validade, produzir e estocar. Estamos fazendo um trabalho interno de redução de estoques porque o custo do capital está muito alto. Passamos a virada do ano com algumas centenas de milhares de reais em estoque, com os atrasos na exportação devido aos problemas do porto de Itajaí. Com os investimentos novos, há um volume muito grande adicional em plantéis, em animais em criação. O momento é de consolidar o grande avanço dos últimos três anos. Alguns investimentos, como a fábrica nos Emirados Árabes Unidos, foram suspensos, mas há uma grande expectativa de que o segundo semestre vá ser melhor do que o primeiro.

FOLHA - Como vai a capitalização da empresa?
FURLAN
- Estamos trabalhando nisso. Há um processo de alienação de ativos e estamos analisando com um fundo imobiliário que possa aproveitar terrenos que temos na Vila Leopoldina [onde está a sede da Sadia]. Ele será investidor dos terrenos e, como são quatro terrenos contínuos, pode-se fazer um projeto amplo, que seja implantado em etapas.

FOLHA - A alienação será em que linha?
FURLAN
- Temos dezenas de milhares de hectares de reflorestamento. Foi feito um elenco de imóveis não essenciais à operação. O que nos interessa no reflorestamento é a madeira. Há quem tenha interesse em investir nisso. Tem o banco também, que é um ativo com o qual podemos fazer associação. Estamos abertos a alternativas, com uma vantagem: temos 118 mil clientes ativos com os quais temos relação favorável. Para alguém que trabalha no mercado financeiro, conhecer a trajetória e as transações do seu cliente por tanto anos é uma grande vantagem.

FOLHA - Mas o banco já começou a operar?
FURLAN
- Estamos mantendo em banho-maria. Ele foi aberto há três meses, mas os 118 mil clientes da Sadia são clientes potenciais do banco em algum tipo de produto. Para poder atender a esses clientes como instituição financeira, precisamos da parceria de um banco de varejo. Nós somos um banco de um andar e não temos capilaridade. Nem valeria à pena criar agências, o ideal é ter um banco de varejo que seja parceiro, com interesse em desenvolver esse potencial de clientes e fornecedores que hoje têm relação com a Sadia e são naturais parceiros de longa data.

FOLHA - E os derivativos?
FURLAN
- Eles vão vencendo a cada mês. Ao mesmo tempo, estamos exportando US$ 250 milhões mensalmente. Há uma perda que não muda, mas não dá para reescrever o passado. O importante é que a operação está gerando caixa dentro da normalidade e, com o tempo, vai fechar.

A jornalista CRISTIANE BARBIERI participa do 5º Family Workshop a convite da Dória Associados


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