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CURTO-CIRCUITO
Proposta de controladores da Eletropaulo prevê repasse de ações que estão desvalorizadas e sem direito a voto
Plano da AES dá prejuízo de R$ 1 bi ao BNDES
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
A proposta da AES para zerar o
empréstimo de US$ 1 bilhão feito
pelo BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) para que a empresa comprasse as ações preferenciais da
Eletropaulo, em 2000, pressupõe
um prejuízo de US$ 250 milhões
(R$ 897,5 milhões) para o banco,
em relação ao valor emprestado,
sem contar os juros.
Somados a US$ 51,6 milhões
(R$ 182,5 milhões) que restam a
pagar, também sem contar juros e
encargos, do empréstimo de US$
888,6 milhões feito em 1998 para
que a Lightgás (hoje AES Elpa)
comprasse o controle da Eletropaulo no leilão de privatização, o
BNDES ainda teria a receber dos
valores originalmente emprestados US$ 301,6 milhões, equivalentes a R$ 1,083 bilhão pelo câmbio
livre de ontem.
Acrescida dos juros e encargos,
a dívida remanescente dos dois
empréstimos, segundo dados do
banco obtidos pela Folha, é de
US$ 1,131 bilhão (R$ 4,06 bilhões).
Do total, US$ 604 milhões (R$
2,16 bilhões) são remanescentes
do empréstimo à Transgás e deveriam ser pagos em duas parcelas,
uma em janeiro de 2003 e outra
em janeiro de 2004. Os US$ 527
milhões (R$ 1,9 bilhão) restantes
são devidos pela AES Elpa e o pagamento deveria ser concluído
em abril deste ano.
A proposta
Em entrevista à Folha publicada
no dia 19 deste mês, José Pio Borges, presidente do BNDES à época
da privatização da Eletropaulo e
hoje assessor da AES, disse que,
apesar de a empresa norte-americana ter-se declarado inadimplente com o BNDES, o empréstimo à Transgás para a compra das
ações preferenciais foi um bom
negócio para o banco.
Segundo ele, como o BNDES já
recebeu US$ 600 milhões e as
ações preferenciais, que são a garantia do empréstimo, valem
atualmente US$ 150 milhões, no
"pior cenário" o BNDES terá recebido US$ 750 milhões por papéis
que estão valendo a quinta parte
desse total.
Devolução
Borges explicou que a desvalorização das ações preferenciais
(sem direito a voto) atingiriam diretamente o BNDES, porque o
banco era o detentor da quase totalidade dos papéis comprados
em 2000 pela AES.
Segundo ele, como a venda foi
uma operação a termo, na qual os
bens só mudam juridicamente de
dono no final do pagamento, as
ações ainda seguem no nome do
BNDES, o que facilitaria a devolução.
O BNDES não comentou as declarações do seu ex-presidente.
Técnicos do banco argumentaram, extra-oficialmente, que a
prática do BNDES é de só vender
as ações da sua carteira, gerida pela subsidiária BNDESPar (BNDES
Participações), quando os preços
estão favoráveis. Em consequência, o prejuízo representado pela
permanência das ações da Eletropaulo em poder do banco seria
apenas contábil.
Pagar uma parte
Para resolver a outra parcela da
dívida com o BNDES, referente ao
empréstimo para a compra das
ações no leilão de privatização, a
AES está disposta a desembolsar
dinheiro.
De acordo com Pio Borges, caso
o banco aceite receber a usina termelétrica de Uruguaiana (RS) como parte do pagamento dos US$
527 milhões, "o restante daria para pagar".
O ex-presidente do BNDES não
deu o valor pelo qual a AES aceitaria entregar a Termelétrica. Disse
apenas que a empresa norte-americana investiu US$ 350 milhões
para construir a unidade.
A termelétrica de Uruguaiana é
uma parte das garantias do empréstimo feito para a compra da
Eletropaulo pela AES, incluída
quando a filial brasileira da empresa norte-americana já mostrava sinais de fraqueza. A outra parte é formada pelas próprias ações
financiadas.
Solução
Técnicos do governo também
não vêem com bons olhos o recebimento da usina de Uruguaiana
pelo BNDES. Eles argumentam
que, com o fim da escassez de
energia elétrica que levou ao racionamento de 2001/2002, a usina
ficou sem mercado para sua energia a preços competitivos.
A solução para a totalidade da
dívida da AES com o BNDES deverá sair até o final desta semana,
segundo disse o presidente do
banco, Carlos Lessa. A ministra
das Minas e Energia, Dilma Rousseff, já admitiu a pura e simples
reestatização da empresa.
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