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Governo admite desconforto com Dirceu
Apesar de alegação de que lobby na banda larga foi malsucedido, ele atinge área de atuação direta de Dilma Rousseff
OAB cobra explicações do governo Lula sobre ação de Dirceu; Ciro Gomes diz que ex-ministro petista precisa ter atuação mais discreta
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar do desconforto no governo com a revelação da Folha de que o ex-ministro José
Dirceu prestou consultoria a
um empresário com interesses
na futura Telebrás, a equipe do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva insiste na versão de que
não há com o que se preocupar
porque o cliente do ex-ministro
não seria beneficiado diretamente pelo Plano Nacional de
Banda Larga (PNBL), previsto
para março.
O cliente de Dirceu, o empresário Nelson dos Santos, espera
ganho (leia nesta pág.). Ele pagou pelo menos R$ 620 mil a
Dirceu e pode ser beneficiado
com a reativação da Telebrás
para implementar o PNBL.
Segundo um auxiliar de Lula,
o caso não seria um problema
do governo, mas do ex-ministro
"José Dirceu e de quem o contratou", porque a tentativa de
lobby teria sido frustrada.
A ação de Dirceu, contudo,
admitem os assessores, gerou
desconforto por criar notícia
negativa numa área de atuação
direta da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), pré-candidata
do PT à Presidência.
OAB
A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) reforçou o coro
da oposição ontem pedindo explicações do governo no caso.
Segundo o presidente da
OAB, o governo Lula precisa
dar explicações sobre a ligação
de Dirceu com a reativação da
Telebrás.
"O governo Lula não pode ficar com essa pecha, essa acusação de tráfico de influência de
um seu ex-ministro, e precisa
dar uma explicação à sociedade
brasileira neste momento",
afirmou o presidente nacional
da Ordem dos Advogados do
Brasil, Ophir Cavalcante, de
acordo com nota distribuída
pela entidade.
"A OAB vê com preocupação
as denúncias feitas contra José
Dirceu, que está afastado deste
governo, mas que tem uma ligação com o mesmo e com o Partido dos Trabalhadores, do qual
continua sendo uma grande liderança, como é fato público e
notório, inclusive noticiado durante recente encontro nacional do PT", disse Cavalcante.
Ele disse que, a princípio, entende que não seria necessária
a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), como quer a oposição.
Ciro
O deputado Ciro Gomes
(PSB-CE) também criticou o
ex-ministro. "O Zé Dirceu, que
é meu amigo, tem que assumir
uma posição de mais recato, de
mais discrição, da que tem assumido atualmente."
O senador Alvaro Dias
(PSDB-PR) fez um pedido para
que o Ministério da Fazenda e a
CVM (Comissão de Valores
Imobiliários) investiguem a valorização das ações da Telebrás,
de 35.000% desde dezembro de
2002. A pasta tem 30 dias para
dar as informações.
Os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE) e José Agripino
(RN), líder do DEM, criticaram
o envolvimento de Dirceu. Já o
líder do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB-RR), rebateu que "o governo já prestou
todas as informações, não há irregularidade e a prioridade é levar a banda larga para todas as
regiões do Brasil".
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