São Paulo, quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo admite desconforto com Dirceu

Apesar de alegação de que lobby na banda larga foi malsucedido, ele atinge área de atuação direta de Dilma Rousseff

OAB cobra explicações do governo Lula sobre ação de Dirceu; Ciro Gomes diz que ex-ministro petista precisa ter atuação mais discreta

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar do desconforto no governo com a revelação da Folha de que o ex-ministro José Dirceu prestou consultoria a um empresário com interesses na futura Telebrás, a equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva insiste na versão de que não há com o que se preocupar porque o cliente do ex-ministro não seria beneficiado diretamente pelo Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), previsto para março.
O cliente de Dirceu, o empresário Nelson dos Santos, espera ganho (leia nesta pág.). Ele pagou pelo menos R$ 620 mil a Dirceu e pode ser beneficiado com a reativação da Telebrás para implementar o PNBL.
Segundo um auxiliar de Lula, o caso não seria um problema do governo, mas do ex-ministro "José Dirceu e de quem o contratou", porque a tentativa de lobby teria sido frustrada.
A ação de Dirceu, contudo, admitem os assessores, gerou desconforto por criar notícia negativa numa área de atuação direta da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), pré-candidata do PT à Presidência.

OAB
A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) reforçou o coro da oposição ontem pedindo explicações do governo no caso.
Segundo o presidente da OAB, o governo Lula precisa dar explicações sobre a ligação de Dirceu com a reativação da Telebrás.
"O governo Lula não pode ficar com essa pecha, essa acusação de tráfico de influência de um seu ex-ministro, e precisa dar uma explicação à sociedade brasileira neste momento", afirmou o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante, de acordo com nota distribuída pela entidade.
"A OAB vê com preocupação as denúncias feitas contra José Dirceu, que está afastado deste governo, mas que tem uma ligação com o mesmo e com o Partido dos Trabalhadores, do qual continua sendo uma grande liderança, como é fato público e notório, inclusive noticiado durante recente encontro nacional do PT", disse Cavalcante.
Ele disse que, a princípio, entende que não seria necessária a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), como quer a oposição.

Ciro
O deputado Ciro Gomes (PSB-CE) também criticou o ex-ministro. "O Zé Dirceu, que é meu amigo, tem que assumir uma posição de mais recato, de mais discrição, da que tem assumido atualmente."
O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) fez um pedido para que o Ministério da Fazenda e a CVM (Comissão de Valores Imobiliários) investiguem a valorização das ações da Telebrás, de 35.000% desde dezembro de 2002. A pasta tem 30 dias para dar as informações.
Os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE) e José Agripino (RN), líder do DEM, criticaram o envolvimento de Dirceu. Já o líder do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB-RR), rebateu que "o governo já prestou todas as informações, não há irregularidade e a prioridade é levar a banda larga para todas as regiões do Brasil".


Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: Um pouco de sangue na crise
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.