São Paulo, Quinta-feira, 25 de Fevereiro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ECONOMIA REAL
Presidente decide não esperar pelos Estados para fechar acordo que deve evitar demissões nas montadoras
FHC corta IPI para reduzir preço de carro

da Sucursal de Brasília

O presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu ontem à noite reduzir, unilateralmente, o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) cobrado do setor automotivo, para permitir o acordo destinado a reduzir preços dos carros e manter empregos dos metalúrgicos.
Ao fazer o anúncio, o porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, disse que o presidente decidiu pela redução do imposto "para a manutenção do emprego e para a revitalização da indústria automotiva".
Amaral disse que a decisão foi tomada independentemente de haver a decisão dos Estados em reduzir o ICMS, como se pretendia inicialmente, "como forma de o presidente reiterar a sua preocupação com a manutenção dos empregos".
O acordo prevê a queda do IPI de 10% para 5% no caso de carros populares (até 1.000 cilindradas). Para carros médios, o IPI, que hoje varia de 25% a 30%, cai para 17%.
Em contrapartida, as montadoras se comprometem a não demitir por 90 dias e a manter seus preços por 60 dias. Na aquisição de carros populares e médios, os consumidores recebem descontos de R$ 350 e R$ 250, respectivamente.
Com a mudança das alíquotas do IPI, o preço dos carros seria reduzido em até 8%, segundo o vice-presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. A Anfavea, que reúne as montadoras, prevê queda de até 6%.
O porta-voz disse que o governo espera que agora os Estados resistentes a essa redução decidam por ela, "como já sinalizaram os governos de São Paulo e do Paraná". Amaral disse que Minas Gerais e Rio Grande do Sul impedem que a decisão seja tomada pelos Estados.
A decisão de reduzir o IPI foi tomada após reunião de FHC ontem, no fim da tarde, Paulinho, e com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Luiz Marinho.
Segundo Amaral, o presidente quer que, em contrapartida, as montadoras "não aumentem os preços e mantenham o nível de emprego".

Nos pátios
Na sexta-feira, o secretário deComércio e de Serviços do Ministério do Desenvolvimento, Hélio Mattar, estará em São Paulo para discutir com representantes das revendedoras as formas de a redução do IPI também atingir os carros estocados nos pátios.
"Após esse encontro é que serão dados detalhes (do acordo), pois o governo espera que a redução atinja não só os carros que venham a ser produzidos como aqueles que já estão estocados", afirmou.
Até então, o governo vinha divulgando que seria impossível fechar o acordo sem a participação dos Estados -que deveriam reduzir o ICMS sobre as vendas de automóveis de 12% para 9%.
Ainda anteontem, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Pedro Parente, ressaltou que a participação dos Estados era essencial para que o acordo fosse fechado. "Sem a redução do ICMS, não é possível haver uma queda de preços que compense a redução de impostos."
Desde que concordou em participar do acordo, o governo vem agindo predominantemente por orientação política. A equipe econômica, que formalmente deu o aval ao acordo, tem orientação contrária a políticas desse tipo.
A Receita Federal chegou a falar abertamente contra a redução do IPI, estimando que a medida vá gerar uma perda de R$ 820 milhões anuais aos cofres públicos. A Receita não acredita que o esperado aumento das vendas compense a renúncia fiscal.


Texto Anterior: Bolsa tem saldo positivo de capital externo
Próximo Texto: Reajuste em Itaipu deve pressionar tarifa
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.