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CONTAS PÚBLICAS
Concessão do auxílio-doença terá novas regras, e benefícios irregulares serão cassados, mesmo após dez anos
Pacote tenta reduzir rombo da Previdência
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo divulgou ontem um
conjunto de medidas para tentar
reduzir em aproximadamente
40% o déficit da Previdência Social nos próximos dois anos. Foram anunciadas modificações para tornar mais rígida a concessão
do auxílio-doença e ações de melhoria de gestão para tentar aumentar a arrecadação e diminuir
as fraudes.
O governo decidiu tornar mais
rígidos os critérios para o pagamento do auxílio-doença porque
o valor gasto com esse benefício
vem aumentado desde 2001.
Eram gastos aproximadamente
R$ 2,5 bilhões por ano e esse total
subiu para cerca de R$ 9 bilhões
por ano. O auxílio-doença representa 30% do aumento de despesas da Previdência.
Para tentar solucionar o problema, o governo editará uma medida provisória e um decreto modificando as regras do benefício. O
ministro Romero Jucá (Previdência) explicou que, com as modificações, a pessoa que contribuía
com o INSS, mas deixou de fazê-lo por 12 meses, terá de voltar a
contribuir novamente por mais 12
meses para ter direito ao auxílio.
No caso de uma pessoa que contribuiu por oito meses e deixou de
fazê-lo por seis meses, por exemplo, ela precisa pagar pelo menos
mais quatro meses para completar 12 meses de pagamento e ter
direito ao auxílio-doença.
Outro exemplo: alguém que
contribuía por mais de um ano,
parou de contribuir por seis meses, voltando a contribuir já terá
direito ao auxílio. Isso porque essa pessoa não perdeu a condição
de segurado, o que acontece
quando ela fica 12 meses sem pagar as contribuições.
Outra mudança no auxílio-doença será na forma de cálculo
do valor a ser recebido. Passarão a
ser levadas em conta as últimas 36
contribuições e haverá um teto
equivalente à remuneração mensal atual do segurado.
Hoje, a carência (prazo mínimo
de pagamento) para receber o auxílio-doença também é de 12 meses, mas há possibilidade de reduzir esse tempo para um terço, e, na
prática, o benefício acabava sendo
concedido em quatro meses, com
valor calculado com base em 80%
das contribuições pagas.
A possibilidade de receber o benefício com carência de quatro
meses valia para quem já havia
perdido a condição de segurado,
mas tinha feito pelo menos oito
contribuições no passado.
"O objetivo não é acabar com o
auxílio-doença, é tornar o benefício mais justo", disse Jucá. Segundo ele, as distorções possibilitavam que pessoas recebessem como auxílio-doença valores mais
altos do que a renda mensal.
O governo também decidiu acabar com a impossibilidade de cassar benefícios irregulares depois
que eles foram pagos por mais de
dez anos. Hoje, se o INSS descobre que está pagando um benefício irregular há mais de dez anos,
não pode suspender o pagamento. Essa limitação será abolida, e
os benefícios irregulares poderão
ser cassados a qualquer tempo.
Déficit
O déficit projetado da Previdência para 2005 é de aproximadamente R$ 40 bilhões. Com as medidas, o governo espera que caia
para R$ 32 bilhões. Em 2006, o déficit esperado é de R$ 38 bilhões,
mas o governo espera reduzi-lo
para R$ 24 bilhões.
O pacote foi anunciado pelos
ministros Romero Jucá (Previdência), Paulo Bernardo (Planejamento), Antonio Palocci Filho
(Fazenda) e José Dirceu (Casa Civil), em entrevista no Planalto.
Parte das medidas já havia sido
anunciada pelo ex-ministro da
Previdência, senador Amir Lando
(PMDB-RO), em janeiro. Na ocasião, Lando disse que a Previdência precisava de um "choque de
gestão" e citou o combate às filas e
o problema do aumento dos gastos com o auxílio-doença.
O governo pretende também
adotar medidas para aumentar a
eficiência da arrecadação e combater as fraudes. Para isso, deverá
melhorar seus sistemas de informática de forma a permitir cruzamentos das bases de dados dos
ministérios da Previdência, da Fazenda e da Saúde e intensificar
ações judiciais e administrativas
para receber dívidas.
Haverá ampliação da atuação
das força-tarefa (equipes que reúnem fiscais da Previdência, promotores públicos e policiais federais) no combate às fraudes.
De acordo com Jucá, haverá
atenção especial em relação às
grandes empresas, principais fontes de arrecadação da Previdência. "Estamos montando uma estrutura para acompanhar e monitorar 70% da arrecadação corrente, ou seja, os grandes contribuintes estarão sendo acompanhados
para que qualquer diferença possa ser detectada rapidamente."
Previdência Complementar
O governo também editará decretos para criar a Superintendência de Previdência Complementar. A entidade funcionará como a
Susep (que regula o serviço de seguros privados), só que irá regulamentar a atuação de fundos de
pensão e de previdência.
Ainda não há data para a criação da Secretaria da Receita do
Brasil. "Será para o momento em
que as coisas estiverem prontas
para acontecer", disse o ministro.
(EDUARDO SCOLESE, HUMBERTO MEDINA E LUCIANA CONSTANTINO)
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