São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 2005

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RECEITA ORTODOXA

Ata do Copom revela preocupação com inflação nos EUA e alta do petróleo, o que pode adiar queda da Selic

Juro depende da economia mundial, diz BC

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de sete meses consecutivos de aumento dos juros, o ciclo do aperto monetário pode não ter chegado ao fim. Ou, numa interpretação mais positiva da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada ontem, o processo de redução da taxa básica (Selic) levaria mais tempo do que se previa inicialmente para começar.
A diretoria do BC dá a entender que, se dependesse somente dos fatores internos, a seqüência de elevação dos juros teria terminado neste mês, quando a Selic subiu 0,5 ponto percentual, para 19,25% ao ano. No entanto destaca que a deterioração do cenário externo pode comprometer esse quadro benigno.
"O Comitê considera que os efeitos do ciclo de aumento da taxa de juros iniciado em setembro de 2004 já se fazem sentir [...]. A atividade econômica continua em expansão, mas a um ritmo menor e mais condizente com as condições de oferta, de modo a não resultar em pressões significativas sobre a inflação", informa a ata.
Ou seja, os juros já teriam provocado o resultado desejado, reprimindo o crescimento de modo a impedir reajustes de preços que pudessem comprometer o cumprimento das metas de inflação.
O BC ressalta que começa a olhar mais para a meta de inflação de 2006 (4,5%, com dois pontos percentuais de tolerância) do que para a deste ano (ajustada para 5,1%, com dois pontos e meio de tolerância). Como as projeções do mercado e do próprio BC para o ano que vem estão abaixo da meta, não seriam necessários apertos adicionais na política monetária.
Mas o BC cita novos elementos de preocupação, ligados ao cenário internacional. Diz: "A existência de alguns focos localizados de pressão na inflação e a deterioração recente no cenário externo, com nova escalada nos preços do petróleo e maior incerteza acerca da condução da política monetária americana, aumentaram os riscos a que estão sujeitas as perspectivas de convergência da inflação para a trajetória de metas".
A ata lembra que o preço do petróleo subiu "de forma quase contínua". Destaca ainda que os preços internacionais da gasolina voltaram a superar os valores cobrados no Brasil.
Mas o BC manteve a expectativa de que não deverá haver reajustes dos combustíveis neste ano, uma vez que as razões para os aumentos estariam cercadas "de um grau razoável de incerteza", como o nível de estoque do produto nos principais mercados consumidores. No entanto o mesmo não aconteceria em relação aos preços de insumos derivados de petróleo, como plásticos.

Juros nos EUA
Nesta semana, o Fed (banco central americano) manifestou maior preocupação com a inflação nos EUA, o que levou o mercado a entender que poderia haver uma intensificação do aumento de juros nos EUA.
Quando os juros no mercado americano sobem consideravelmente, costuma haver migração de recursos das economias emergentes, como o Brasil, para lá. Isso provoca depreciação do câmbio, o que torna os produtos importados mais caros, gerando inflação.
Segundo levantamento realizado pelo BC, divulgado semanalmente no boletim Focus, a maioria dos analistas de mercado esperava um último aumento na Selic de 0,5 ponto neste mês, com início dos cortes entre o terceiro e o quarto trimestres.
Diante dos novos fatores, essa previsão pode não se confirmar. Ao justificar a elevação da taxa de juros, o BC destacou que iria "acompanhar atentamente a evolução do cenário prospectivo para a inflação até a sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na estratégia de política monetária implementada desde setembro de 2004".


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