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RECEITA ORTODOXA
Ata do Copom revela preocupação com inflação nos EUA e alta do petróleo, o que pode adiar queda da Selic
Juro depende da economia mundial, diz BC
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de sete meses consecutivos de aumento dos juros, o ciclo
do aperto monetário pode não ter
chegado ao fim. Ou, numa interpretação mais positiva da ata da
última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada ontem, o processo de redução
da taxa básica (Selic) levaria mais
tempo do que se previa inicialmente para começar.
A diretoria do BC dá a entender
que, se dependesse somente dos
fatores internos, a seqüência de
elevação dos juros teria terminado neste mês, quando a Selic subiu 0,5 ponto percentual, para
19,25% ao ano. No entanto destaca que a deterioração do cenário
externo pode comprometer esse
quadro benigno.
"O Comitê considera que os
efeitos do ciclo de aumento da taxa de juros iniciado em setembro
de 2004 já se fazem sentir [...]. A
atividade econômica continua em
expansão, mas a um ritmo menor
e mais condizente com as condições de oferta, de modo a não resultar em pressões significativas
sobre a inflação", informa a ata.
Ou seja, os juros já teriam provocado o resultado desejado, reprimindo o crescimento de modo
a impedir reajustes de preços que
pudessem comprometer o cumprimento das metas de inflação.
O BC ressalta que começa a
olhar mais para a meta de inflação
de 2006 (4,5%, com dois pontos
percentuais de tolerância) do que
para a deste ano (ajustada para
5,1%, com dois pontos e meio de
tolerância). Como as projeções do
mercado e do próprio BC para o
ano que vem estão abaixo da meta, não seriam necessários apertos
adicionais na política monetária.
Mas o BC cita novos elementos
de preocupação, ligados ao cenário internacional. Diz: "A existência de alguns focos localizados de
pressão na inflação e a deterioração recente no cenário externo,
com nova escalada nos preços do
petróleo e maior incerteza acerca
da condução da política monetária americana, aumentaram os
riscos a que estão sujeitas as perspectivas de convergência da inflação para a trajetória de metas".
A ata lembra que o preço do petróleo subiu "de forma quase contínua". Destaca ainda que os preços internacionais da gasolina
voltaram a superar os valores cobrados no Brasil.
Mas o BC manteve a expectativa
de que não deverá haver reajustes
dos combustíveis neste ano, uma
vez que as razões para os aumentos estariam cercadas "de um
grau razoável de incerteza", como
o nível de estoque do produto nos
principais mercados consumidores. No entanto o mesmo não
aconteceria em relação aos preços
de insumos derivados de petróleo, como plásticos.
Juros nos EUA
Nesta semana, o Fed (banco
central americano) manifestou
maior preocupação com a inflação nos EUA, o que levou o mercado a entender que poderia haver uma intensificação do aumento de juros nos EUA.
Quando os juros no mercado
americano sobem consideravelmente, costuma haver migração
de recursos das economias emergentes, como o Brasil, para lá. Isso
provoca depreciação do câmbio,
o que torna os produtos importados mais caros, gerando inflação.
Segundo levantamento realizado pelo BC, divulgado semanalmente no boletim Focus, a maioria dos analistas de mercado esperava um último aumento na Selic
de 0,5 ponto neste mês, com início
dos cortes entre o terceiro e o
quarto trimestres.
Diante dos novos fatores, essa
previsão pode não se confirmar.
Ao justificar a elevação da taxa de
juros, o BC destacou que iria
"acompanhar atentamente a evolução do cenário prospectivo para
a inflação até a sua próxima reunião, para então definir os próximos passos na estratégia de política monetária implementada desde setembro de 2004".
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