São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 2005

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Segundo depoimento de alto funcionário do banco norte-americano, Opportunity cometeu irregularidades

Executivo do Citi acusa Dantas de chantagem

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK

O depoimento de um alto executivo do Citigroup revela que o grupo norte-americano tinha mais do que apenas divergências nos negócios com o Opportunity, de Daniel Dantas.
O Citi acusa o brasileiro de chantagem, de transferir a custódia das ações de um banco independente para um sob sua guarda e de impedir a auditoria num fundo em que investiu US$ 728 milhões.
O depoimento foi de Paulo Caldeira, executivo do Citi responsável pelo contato com o Opportunity, durante recente audiência na Justiça de Nova York que confirmou a destituição do banco de Dantas da gestão do fundo CVC internacional.
O primeiro lance público da história começou quando o Opportunity anunciou que venderia sua participação na Telemig Celular e na Amazônia Celular, no dia 4 de março, uma sexta-feira.
Por trás do anúncio, havia meses de negociações entre os dois grupos. O Citi afirmou que sempre recusou o negócio, que não achava interessante e jamais deu sua autorização para a venda.
Mesmo assim, o Opportunity anunciou a intenção de vender sua participação. Diante da forte oposição do Citi em trocas de e-mails e telefonemas no final de semana, Dantas colocou as cartas na mesa numa reunião na segunda-feira seguinte, em Nova York, ao lado de sua irmã, Verônica.
Só desistiria da venda se conseguisse um "tag along" nas ações das duas teles. Por esse mecanismo, o Citi só poderia vender sua participação, majoritária, se o comprador concordasse em pagar também pelos papéis de Dantas, e pelo mesmo preço.
Em seu depoimento, Paulo Caldeira acusa Dantas também de "ameaçar utilizar sua posição como controlador do fundo para entrar em "acordos" antes de ser destituído". Segundo Caldeira, "no passado Dantas entrou em acordos semelhantes supostamente em nome do CVC que beneficiaram apenas o brasileiro, em detrimento" do Citi.
O Citi e Daniel Dantas tinham uma parceria no fundo CVC, gerido pelo brasileiro, que controla, além da Telemig e da Amazônia Celular, a Brasil Telecom.
O depoimento do executivo consta da ação que o Citigroup moveu em Nova York para destituir Dantas do comando dos investimentos que tinham no Brasil. No último dia 18, a Justiça norte-americana acatou o pedido e determinou que o Opportunity obedecesse a decisão "o mais rápido humanamente possível". Dantas registrou a sua destituição no dia seguinte.
Além da chantagem, o Citi também acusa o Opportunity de ter cometido vários atos para impedir sua substituição. O exemplo mais claro ocorreu no início de 2005. Em janeiro, Dantas, sem consultar o parceiro norte-americano, transferiu o responsável pela custódia das ações das empresas, que deixou de ser o Itaú e passou a ser o próprio Opportunity.
Segundo Caldeira, o Itaú é o "maior e mais respeitado depositário no Brasil", enquanto o banco Opportunity "é uma subsidiária de Dantas que normalmente não oferece serviços de custódia". O Citi pediu várias vezes o retorno para o primeiro banco, uma vez que a mudança não tinha nem sequer a aprovação do conselho consultivo.
"Eu não acredito que seja uma coincidência que Dantas tenha tirado a custódia dos livros de registro das ações de uma respeitada e independente instituição financeira no mesmo momento em que nossas discussões ficavam mais difíceis e estava cada vez mais claro que ele ia ser dispensado", afirmou Caldeira ao tribunal. "Dantas disse que cobrava menos que o Itaú, mas não explicou por que tomou a decisão em janeiro, em vez de qualquer hora nos sete anos anteriores."
A terceira rodada de acusações do Citi contra Dantas também aconteceu no início deste ano. Os norte-americanos acusam Dantas de ter sistematicamente impedido uma auditoria no negócio que estava prevista em contrato.
No dia 19 de janeiro, o Citi informou ao Opportunity de sua decisão. A auditoria começaria em 14 de fevereiro, mas o Opportunity se recusou a fornecer as informações. Mesmo com uma carta no dia 22 sobre os problemas, o banco não resolveu a questão, "na prática enterrando o direito básico de auditar os livros e registros de um fundo em que investiu US$ 728 milhões".
Ontem, o Citi não quis se pronunciar sobre o tema. Apenas afirmou, por meio de sua assessoria, que "ficou satisfeito com a decisão do juiz".

Outro lado
Procurado pela Folha, o Opportunity preferiu não se pronunciar sobre o depoimento de Paulo Caldeira. De acordo com o Opportunity, o caso corre em segredo de Justiça e o juiz já deu a sentença, que foi acatada pelo banco.


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