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RELAÇÕES PERIGOSAS
Segundo depoimento de alto funcionário do banco norte-americano, Opportunity cometeu irregularidades
Executivo do Citi acusa Dantas de chantagem
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK
O depoimento de um alto executivo do Citigroup revela que o
grupo norte-americano tinha
mais do que apenas divergências
nos negócios com o Opportunity,
de Daniel Dantas.
O Citi acusa o brasileiro de
chantagem, de transferir a custódia das ações de um banco independente para um sob sua guarda
e de impedir a auditoria num fundo em que investiu US$ 728 milhões.
O depoimento foi de Paulo Caldeira, executivo do Citi responsável pelo contato com o Opportunity, durante recente audiência na
Justiça de Nova York que confirmou a destituição do banco de
Dantas da gestão do fundo CVC
internacional.
O primeiro lance público da história começou quando o Opportunity anunciou que venderia sua
participação na Telemig Celular e
na Amazônia Celular, no dia 4 de
março, uma sexta-feira.
Por trás do anúncio, havia meses de negociações entre os dois
grupos. O Citi afirmou que sempre recusou o negócio, que não
achava interessante e jamais deu
sua autorização para a venda.
Mesmo assim, o Opportunity
anunciou a intenção de vender
sua participação. Diante da forte
oposição do Citi em trocas de e-mails e telefonemas no final de semana, Dantas colocou as cartas
na mesa numa reunião na segunda-feira seguinte, em Nova York,
ao lado de sua irmã, Verônica.
Só desistiria da venda se conseguisse um "tag along" nas ações
das duas teles. Por esse mecanismo, o Citi só poderia vender sua
participação, majoritária, se o
comprador concordasse em pagar também pelos papéis de Dantas, e pelo mesmo preço.
Em seu depoimento, Paulo Caldeira acusa Dantas também de
"ameaçar utilizar sua posição como controlador do fundo para
entrar em "acordos" antes de ser
destituído". Segundo Caldeira,
"no passado Dantas entrou em
acordos semelhantes supostamente em nome do CVC que beneficiaram apenas o brasileiro,
em detrimento" do Citi.
O Citi e Daniel Dantas tinham
uma parceria no fundo CVC, gerido pelo brasileiro, que controla,
além da Telemig e da Amazônia
Celular, a Brasil Telecom.
O depoimento do executivo
consta da ação que o Citigroup
moveu em Nova York para destituir Dantas do comando dos investimentos que tinham no Brasil.
No último dia 18, a Justiça norte-americana acatou o pedido e determinou que o Opportunity obedecesse a decisão "o mais rápido
humanamente possível". Dantas
registrou a sua destituição no dia
seguinte.
Além da chantagem, o Citi também acusa o Opportunity de ter
cometido vários atos para impedir sua substituição. O exemplo
mais claro ocorreu no início de
2005. Em janeiro, Dantas, sem
consultar o parceiro norte-americano, transferiu o responsável pela custódia das ações das empresas, que deixou de ser o Itaú e passou a ser o próprio Opportunity.
Segundo Caldeira, o Itaú é o
"maior e mais respeitado depositário no Brasil", enquanto o banco Opportunity "é uma subsidiária de Dantas que normalmente
não oferece serviços de custódia".
O Citi pediu várias vezes o retorno
para o primeiro banco, uma vez
que a mudança não tinha nem sequer a aprovação do conselho
consultivo.
"Eu não acredito que seja uma
coincidência que Dantas tenha tirado a custódia dos livros de registro das ações de uma respeitada e independente instituição financeira no mesmo momento em
que nossas discussões ficavam
mais difíceis e estava cada vez
mais claro que ele ia ser dispensado", afirmou Caldeira ao tribunal.
"Dantas disse que cobrava menos
que o Itaú, mas não explicou por
que tomou a decisão em janeiro,
em vez de qualquer hora nos sete
anos anteriores."
A terceira rodada de acusações
do Citi contra Dantas também
aconteceu no início deste ano. Os
norte-americanos acusam Dantas
de ter sistematicamente impedido
uma auditoria no negócio que estava prevista em contrato.
No dia 19 de janeiro, o Citi informou ao Opportunity de sua decisão. A auditoria começaria em 14
de fevereiro, mas o Opportunity
se recusou a fornecer as informações. Mesmo com uma carta no
dia 22 sobre os problemas, o banco não resolveu a questão, "na
prática enterrando o direito básico de auditar os livros e registros
de um fundo em que investiu US$
728 milhões".
Ontem, o Citi não quis se pronunciar sobre o tema. Apenas
afirmou, por meio de sua assessoria, que "ficou satisfeito com a decisão do juiz".
Outro lado
Procurado pela Folha, o Opportunity preferiu não se pronunciar
sobre o depoimento de Paulo Caldeira. De acordo com o Opportunity, o caso corre em segredo de
Justiça e o juiz já deu a sentença,
que foi acatada pelo banco.
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