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São Paulo, domingo, 25 de maio de 2003

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VAGÕES DA ECONOMIA

Países em desenvolvimento devem crescer o dobro da média mundial; América Latina, porém, decepciona

Emergentes puxam expansão global em 2003

CÍNTIA CARDOSO
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio à desaceleração da economia norte-americana e à ameaça de recessão na União Européia, os países emergentes aparecem como um alento para o desempenho da economia mundial. Pelas projeções da OEF (Oxford Economic Forecast), o PIB dos mercados emergentes vai se expandir 4% (na média) neste ano, enquanto o crescimento da economia global será metade disso.
A Ásia (o cálculo exclui o Japão), a exemplo do que ocorrera em 2002, puxará a expansão, com taxa de 5,7%. Se considerado o desempenho da economia japonesa, o PIB asiático crescerá não mais que 2,5%. No topo da lista, está a China: seu PIB deve crescer 8,5% neste ano.
Vicent Koen, economista-sênior da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), afirma que não vê risco iminente de deflação global. Mas alerta que o caso do Japão mostra o quanto difícil pode se reverter um quadro de deflação. ""Poderemos ter deflação em algumas economias sem que isso se converta em uma espiral de deflação. Nesse sentido, como defende Alan Greenspan (presidente do Fed, o Banco Central dos EUA), deflação não é sempre nem em todos os lugares perniciosa."
Diante dos primeiros impactos da epidemia de Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) nos emergentes asiáticos, a OEF decidiu rever as previsões de crescimento de algumas das principais economias da região. No caso de Hong Kong e Cingapura, a previsão de expansão do PIB foi reduzida em um ponto percentual -a estimativa de crescimento de Hong Kong passou para 1,7% e a de Cingapura para 2,2%. Em Cingapura, por exemplo, durante a terceira semana de abril, o número de turistas despencou 74%. Outros países dependentes de turismo, como Tailândia e Malásia, também tiveram revistas suas previsões de crescimento. Mesmo assim, a Tailândia deve crescer 4,5% neste ano e a Malásia, 3,7%.
Depois de ver seu PIB encolher 0,9% em 2002, os emergentes da América Latina (considerados Argentina, Brasil, Chile, México e Venezuela) vão experimentar crescimento global de irrisório 1,6%. A OEF prevê que o Brasil cresça 1,7% -a estimativa das instituições financeiras, de acordo com o último relatório Focus, do Banco Central, são de crescimento do PIB em 1,87% este ano.
Os emergentes do Leste Europeu (leia-se Rússia, Hungria, Polônia e República Tcheca) devem acumular crescimento de 4,3%.
""Não há meio-termo: a economia mundial só se recupera quando os EUA se recuperarem", avalia Fernando Ferreira, diretor da consultoria Global Invest. ""A Europa, como um todo, terá crescimento zero neste ano, os EUA vão crescer de forma marginal. Asiáticos e o resto dos emergentes é que estão crescendo um pouco mais."
A despeito desse crescimento, baseado em competitividade comercial, os emergentes, argumenta o economista, não têm força para ""ocupar" (provisoriamente) o lugar de EUA e mesmo da Europa como motrizes da economia mundial. ""Se juntarmos todos os emergentes da Ásia, que são os que mais crescem, não chega ao PIB do Japão. Não são locomotivas, são vagão", diz Ferreira. "O que temos é um mundo dependente da economia dos EUA. Mesmo a Europa, que teria capacidade de estimular o globo, está a reboque dos norte-americanos."
Ferreira enumera quatro fatores que podem fomentar a recuperação dos EUA nos próximos meses. 1) a manutenção das taxas de juros baixas; 2) melhora nos indicadores do mercado de ações (que teve sua confiança abalada com os escândalos contábeis de empresas como a Enron); 3) recuo nos preços do petróleo, depois da guerra do Iraque; 4) desvalorização do dólar, que deve favorecer as exportações dos EUA -e consequentemente, a melhora da balança comercial do país.
Para Zbyszco Tabernacki, diretor do departamento de estudos para a Europa emergente da consultoria Global Insight, as economias da região têm uma certa blindagem contra o desaquecimento dos EUA, do Japão e até mesmo contra a iminente recessão da economia alemã.
A receita desses países para assegurar o crescimento é a intensificação do comércio intra-regional. "Os países do Leste Europeu e da Europa Central, por exemplo, têm um fluxo de comércio modesto com os EUA e também com a Ásia. Com isso, as exportações desses países são absorvidas pelos próprios países do continente."
No caso da economia russa, além das exportações- óleo e gás- para a Europa, há outros motivos. O incremento de investimentos produtivos, sobretudo na área petroquímica, e o aumento da demanda de consumo interno, impulsionado pelo maior acesso ao crédito, são apontados como os principais fatores para seu dinamismo econômico. A consultoria projeta taxas de crescimento do PIB neste ano de 4,5%, 3,6% e 2,7% para Rússia, Hungria e República Tcheca, respectivamente.

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