CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil perde 1,8 milhão de toneladas de soja por ano só durante a colheita. A quantidade de grãos desperdiçada corresponde a aproximadamente 4,5% da produção brasileira anual.
Traduzindo em números, o prejuízo chega a R$ 820 milhões.
As estimativas são da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Soja. A partir das informações recolhidas no Estado do Paraná, que registra anualmente dados de colheita de soja, são feitas projeções para as áreas de plantio da oleaginosa em outras regiões do país.
Segundo Nilton Pereira da Costa, coordenador do Programa de Redução dos Desperdícios da Soja, o manejo inadequado do maquinário agrícola é o responsável por 80% das perdas nas lavouras.
O principal problema está relacionado à velocidade excessiva das colheitadeiras durante o processo de colheita dos grãos.
De acordo com Costa, o deslocamento da máquina ao longo da lavoura deveria ser de 5 km/h. No entanto, estudos da Embrapa indicam que grande parte dos agricultores trabalham com velocidades de até 12 km/h.
Essa imperícia acarreta o amontoamento de grãos de soja no interior da colheitadeira. Com isso, entre 10% e 13% dos grãos colhidos são perdidos apenas durante esse processo.
Para o presidente da Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja), Iwao Myiamoto, o excesso de velocidade na operação das colheitadeiras reflete o despreparo da mão-de-obra envolvida na colheita. "Os sojicultores pensam que colher mais rápido traz vantagens. A maioria nem desconfia do volume do soja perdido. A média nacional é de 2 sacas/ha, mas existem produtores que perdem até 10 sacas/ha."

Combate às perdas
De olho na diminuição do desperdício durante a colheita, a Embrapa mantém há 20 anos um programa de combate às perdas nas lavouras de soja. Segundo a empresa, durante esse período foi economizado R$ 1,8 bilhão.
Dados da Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) Paraná revelam que, atualmente, o Estado é o líder na redução de perdas na colheita. A média paranaense é de 1,1 saca (60 kg) por hectare. O valor é aproximadamente 50% inferior à média nacional.
De acordo com Antonino Carlos Maurina, coordenador de mecanização agrícola da Emater, o incentivo à manutenção do maquinário após cada safra e o treinamento da mão-de-obra são os motivos do sucesso no combate ao desperdício no Estado.
Segundo especialistas, essas iniciativas têm custo pouco significativo em comparação com o valor desperdiçado a cada safra.
Nos Estados Unidos, maior produtor mundial de soja, as perdas não ultrapassam 1 saca/ha. A meta da Embrapa é limitar a média das perdas a 0,5 saca/hectare em cinco anos.

Desperdício
Embora o mau uso do maquinário agrícola seja um dos maiores responsáveis pelas perdas durante a colheita, outros fatores também influenciam.
Entre eles, Costa destaca o mau preparo do solo, que pode causar prejuízos na colheita.
"Os desníveis no terreno e a presença de pedras, por exemplo, provocam oscilações na barra de corte da colhedora. Com isso, muitas vagens deixam de ser colhidas", explica.



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