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LUÍS NASSIF
O câmbio e a pulga
Na coluna de ontem, tentei explicar didaticamente
a importância do conceito de
"equilíbrio" em economia e o
modelo por trás do conceito de
"metas inflacionárias" praticado pelo Banco Central. Pelo modelo, o BC define uma meta de
inflação e depois baliza o desempenho da economia por
meio da taxa de juros. Quanto
maior a inflação, maiores os juros. Acontece que parte relevante da inflação brasileira é dada
em razão da volatilidade do
câmbio, que impacta produtos
importados e indexadores de
contratos e não é afetada pelos
juros. Se reduzisse essa volatilidade, o BC não precisaria elevar
tão violentamente os juros.
Por que todas as grandes crises
internacionais -México, Ásia,
Rússia- provocaram um terremoto na economia brasileira?
Justamente por conta dessa vulnerabilidade externa. O país fica dependente de capitais externos e, a cada crise internacional,
esses capitais fogem, o dólar dispara, a inflação aumenta, o BC
é obrigado a aumentar os juros
para segurar os preços e os capitais, e a dívida interna e externa
aumentam ainda mais, ampliando a dependência dos capitais de risco e a necessidade de
juros altos -um círculo vicioso
infernal. Toda essa conta vai
para o contribuinte, obrigado a
pagar mais impostos e juros e a
receber menos serviços públicos,
porque a arrecadação é desviada para pagamento dos juros.
No ano passado, por conta da
crise internacional, do medo do
risco e das eleições brasileiras, o
capital internacional sumiu e o
país quebrou mais uma vez,
precisando da ajuda do FMI para fechar as suas contas. Mas, aí,
ocorreu o milagre. A desvalorização do dólar permitiu que as
exportações brasileiras disparassem, o superávit comercial
crescesse de US$ 4 bilhões para
US$ 16 bilhões ao ano e a vulnerabilidade externa caísse substancialmente.
Tecnicamente, qual seria a
política prudencial? Manter o
dólar desvalorizado, assegurando os superávits comerciais e reduzindo a vulnerabilidade externa. O preço a pagar seria
uma meta inflacionária um
pouco maior, nada de substancialmente dramático. Para
manter o real desvalorizado,
bastaria adquirir dólares, para
reforçar as reservas cambiais,
ou reduzir a rolagem dos títulos
cambiais, para levar as empresas a trocar títulos por dólares.
O que o BC fez? Estipulou uma
meta inflacionária extremamente rígida, jogou os juros lá
em cima, permitiu a valorização do real e não reforçou as reservas cambiais. Se os superávits
comerciais caírem novamente,
a vulnerabilidade continuará
mantida indefinidamente. Se os
superávits comerciais fossem
mantidos, pelo contrário, acabaria o mercado para esse ganho fácil do capital especulativo
internacional.
Por isso se entende a enorme
gritaria de alguns analistas financeiros, contra o aumento
dos superávits comerciais. É a
história do filho do médico que,
formado médico, descobriu que
a doença do principal cliente do
pai era uma pulguinha no umbigo. Voltou contente para contar ao pai que tinha resolvido o
problema matando a pulguinha. E o pai: "Imprudente, foi
aquela pulguinha que garantiu
seus estudos".
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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