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OPINIÃO ECONÔMICA
Os dois olhares!
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Chamo a atenção do leitor
para a diferença com que
têm sido recebidos os dados mais
recentes sobre o comportamento
da economia brasileira. De um
lado, aqueles que colocam a garantia da solvência do país como
ponto prioritário de suas preocupações; de outro, os que entendem
ser o crescimento econômico e a
geração de empregos a chave de
nosso futuro. São dois olhares distintos sobre a situação econômica
de hoje.
O primeiro grupo, claramente
majoritário no debate a que a sociedade brasileira assiste, extravasa ruidosamente seu otimismo
com os dias que vivemos e acenam com um futuro brilhante à
frente. A manutenção da política
econômica atual nos levará, no
fim desta década, a uma situação
privilegiada no segmento das economias emergentes. Em recente
trabalho publicado, uma das consultorias internacionais que
acompanho chama esse grupo de
ricardiano. Essa designação muito feliz baseia-se nos ensinamentos de David Ricardo, um dos primeiros economistas que ganharam fama por suas teorias sobre o
funcionamento das economias de
mercado.
Já o restrito grupo dos que criticam a política atual e apontam as
fragilidades estruturais da economia reage à divulgação dos dados
econômicos com advertências sobre as dificuldades à frente. Na
busca cega da preservação das
condições de solvência do governo, estamos agredindo, diariamente, a dinâmica de crescimento das economias de mercado. A
carga fiscal atual, as limitações de
nossa infra-estrutura econômica,
os juros elevados, a falta de crédito bancário e as limitações institucionais para que a energia empresarial possa ser exercitada
com eficiência são as grandes
preocupações desses analistas.
Para contrapor um nome ao grupo anterior, vou emprestar a designação dada pela consultoria
citada aos que assim pensam:
schumpeterianos, ou seguidores
dos ensinamentos do grande economista alemão da primeira metade do século passado Joseph
Schumpeter.
Vamos pegar um exemplo recente para explicar melhor essas
diferenças de pensamento e análises. O mercado e os ricardianos
receberam com gritos de euforia a
arrecadação de impostos do mês
passado, um novo recorde nacional. Já os seguidores de Schumpeter viram nesse dado mais um indicador negativo da conjuntura
econômica atual.
Os primeiros viram no recorde
de impostos um sinal importante
para a realização de um superávit primário maior do que o previsto e um reforço na garantia de
pagamentos dos juros da dívida
pública. Seus oponentes enxergaram no aumento de impostos
uma redução ainda maior da
renda disponível dos consumidores e na capacidade de investimento das empresas privadas.
Para os ricardianos, o que interessa na dinâmica econômica de
um país como o Brasil é a estabilidade macroeconômica de longo
prazo e o respeito às vantagens
comparadas de cada nação no
contexto do mundo globalizado.
Com equilíbrio fiscal e inflação
baixa, o desenvolvimento de um
país virá de forma natural e baseado apenas nas decisões autônomas do mercado. Um bom
exemplo de como pensa esse grupo de economistas é o caso da
Embraer, empresa que visitei recentemente e que emprega cerca
de 15 mil brasileiros na produção
de sofisticados aviões em São José
dos Campos.
Nas palavras de um dos mais
radicais ricardianos que conheço,
essa empresa não deveria existir,
pois a vocação natural do Brasil é
exportar soja e algodão, e não
aviões. Para esse radical do século
19, foi um erro o governo ter
apoiado a nossa indústria aeronáutica mobilizando recursos públicos no início de suas atividades
(hoje a Embraer é uma empresa
privada). Segundo seu raciocínio,
os 15 mil empregados da empresa,
que têm um salário médio de
mais R$ 1.500, deveriam estar
carpindo roça e ganhando salário
mínimo. Aliás, a crítica mais contundente que se pode fazer aos ricardianos é que eles esquecem o
fator tecnologia em suas análises
simplistas de vantagens comparadas.
Um outro exemplo desses olhares diversos para as nossas estatísticas econômicas foi a publicação
pelo Banco Central, na última
quarta-feira, dos resultados de
nossa balança de pagamentos no
mês de maio. Os mercados receberam com euforia mais um saldo
positivo em nossa conta corrente
externa. Belo sinal de capacidade
de pagamento de nossa dívida externa!
Já nós, schumpeterianos, suspiramos preocupados com mais esse sinal de que estamos exportando poupança para fora, em um
momento em que necessitamos
tanto de recursos de longo prazo e
estáveis para financiar nossos investimentos. Outro sinal muito
ruim para nosso grupo foram os
magros US$ 200 milhões de investimento direto estrangeiro no mês
passado. Já o mercado nem sequer suspirou por esse dado. Vamos ver em futuro próximo quem
está com a razão!
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 61,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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