São Paulo, domingo, 25 de julho de 2004

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CAPITALISMO VERMELHO

Apesar de metade dar prejuízo, governo evita privatizações; meta é criar conglomerados multinacionais

China ainda tem 159 mil empresas estatais

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

Vinte e seis anos depois de iniciar a reforma de sua economia, a China ainda tem 159 mil empresas estatais, que empregam 85 milhões de pessoas e possuem patrimônio de US$ 1,4 trilhão, valor equivalente ao PIB do país.
Apesar de metade dessas empresas darem prejuízo, a palavra "privatização" não faz parte do vocabulário dos líderes do Partido Comunista. Pelo contrário. O governo está determinado a manter sob seu controle as grandes estatais consideradas estratégicas, transformando-as em empresas multinacionais capazes de competir no mercado global.
Para isso, está em marcha um processo de consolidação das estatais em imensos grupos empresariais, que estão tendo de adotar as mesmas regras de eficiência do setor privado. Até agora, a estratégia tem dado resultados.
Na última edição da "Fortune 500", com as 500 maiores companhias do mundo, a China aparece com o número recorde de 15 empresas -três a mais que no ano anterior-, das quais 14 são estatais. No conjunto, os ativos desses grupos somam US$ 358 bilhões.
Há dez anos, a China emplacava três empresas na lista, cujos ativos eram de US$ 41 bilhões. Na mesma época, o Brasil estava representado por duas companhias, com patrimônio de US$ 29 bilhões. Na edição mais recente da "Fortune 500", o Brasil conseguiu um avanço bem mais modesto que o dos chineses: passou de duas para três empresas, que têm ativos somados de US$ 61 bilhões.
Os conglomerados estatais chineses se autodefinem com expressões como "jumbo", "mega" e "ultra", que terminam parecendo acanhadas diante dos números que eles apresentam.
A China National Petroleum, por exemplo, tem 1 milhão de empregados e ativos de US$ 97,7 bilhões, divididos em 69 institutos de pesquisa e subsidiárias, das quais a maior é a PetroChina. A Petrobras, empresa brasileira mais bem colocada no ranking da "Fortune", possui 48,8 mil empregados e ativos de US$ 53 bilhões.
A comparação entre os dois grupos permite identificar um dos mais graves problemas que as estatais chinesas ainda enfrentam: a falta de eficiência. Apesar de ser menor que a China National Petroleum, a Petrobras teve em 2003 lucro de US$ 6,6 bilhões, US$ 200 milhões a mais que o registrado pela estatal chinesa.
Outra característica das empresas é a diversificação de atividades, que pode levar à reunião no mesmo conglomerado de negócios como construção de navios, tecnologia da informação e atividades imobiliárias.

Lucros
Dados oficiais indicam que o número de estatais está diminuindo, ao mesmo tempo em que aumentam seus lucros e ativos. Entre 1997 e 2002, o total de empresas sob controle do Estado passou de 262 mil para 159 mil. No mesmo período, o percentual das empresas que dão lucro passou de 34,1% para 50,1%. O valor dos ativos também está em alta e atingiu em 2002 US$ 1,4 trilhão, 8,2% a mais que no ano anterior.
As que saíram das mãos do Estado foram fechadas, incorporadas a outras estatais ou compradas por gerentes ou empregados. São processos fechados, nos quais outros interessados não participam, o que gera críticas de entidades como o Banco Mundial, em razão do risco de favorecimento e da falta de transparência.
William Mako, economista do Banco Mundial em Pequim especializado em estatais e privatizações, observa que a política adotada pela China é bem diferente da implementada na Rússia. Lá, houve um processo massivo de privatização, com a transferência de 80 mil empresas para mãos privadas em meados dos anos 90. "Privatizações massivas são provavelmente a forma menos desejável de privatização".
Na China, o governo criou em 2003 um organismo para consolidar e gerir o patrimônio das estatais com a missão transformá-las em empresas globais competitivas. Conhecido por Sasac (sigla em inglês para Comissão de Supervisão e Administração de Ativos Estatais), o órgão tem um "portfólio" de 196 empresas, consideradas as mais importantes.
A maior parte das estatais -141 mil das 159 mil- está sob controle dos governos provinciais e municipais. Segundo Mako, será inevitável que elas passem por um processo de fusões, em razão da enorme fragmentação da indústria chinesa. Não está claro quantas estatais vão sobreviver, mas Mako crê que o governo esteja disposto a manter cerca de 9.000, que são as grandes empresas.



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