São Paulo, domingo, 25 de agosto de 2002

Texto Anterior | Índice

Mercado é para 17 milhões, mas atende a 207 mil

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O sistema de microcrédito atende no Brasil estimadas 77 mil pessoas via ONGs (organizações não-governamentais) e outras 130 mil por meio de bancos e programas oficiais. Contigente quase irrisório se considerado que há no país um universo potencial de 13 milhões de clientes, apenas no mercado informal, e outra parcela de 4,4 milhões de micro e pequenas empresas que, segundo o Sebrae, não têm acesso a crédito.
Já diminuto, o microcrédito está praticamente vetado a novos empreendedores. Grande parte das linhas de crédito oferecidas por órgãos oficiais ou via entidades privadas exigem do candidato o mínimo de seis meses de experiência no ramo de atividade.
As cerca de 110 ONGs, governos, mais os bancos oficiais, como o BNB (Banco do Nordeste), oferecem empréstimos entre R$ 100 e R$ 10 mil -em sua esmagadora maioria, as operações não ultrapassam a média de R$ 1.200.
Como as linhas de crédito são estabelecidas a partir de financiamentos repassados por organismos como o BID e o BNDES, no caso de algumas entidades, ou de recursos dos cofres municipais e estaduais, além de doações de particulares, os juros representam a metade dos cobrados pelos bancos - são juros médios de 3,9% a 4,6% ao mês, contra os 8% de empréstimos para pessoas físicas nos bancos tradicionais.
Na cidade de São Paulo, a prefeitura estabeleceu um programa de linhas de crédito com mínimo de 0,48% de juros ao mês (este, para participantes de projeto de renda mínima e com financiamento limitado a R$ 1.500).
Por sua vez, o governo do Estado, instituiu o chamado ""Banco do Povo", que empresta entre R$ 200 e R$ 25 mil (o valor médio dos contratos até julho fora de R$ 1.250) com juros de 1% ao mês.
Nos dois casos, apenas agora começam a ser testados programas para novos empreendedores.
O ""Banco do Povo" estadual decidiu submeter os candidatos novatos a um curso com normas de gerenciamento de negócios, antes de avaliar a concessão de eventual crédito. De cada dez candidatos, seis desistem de montar negócio próprio, ao final do curso. ""Na maioria das vezes, quem se propõe a abrir um empreendimento não tem nenhuma noção sobre cálculo de custos e administração. Resultado: os novos negócios têm uma mortandade muito grande", diz José Roberto Generoso, presidente do banco. ""Depois de seis meses atuando, o indivíduo alcançou alguma estabilidade, daí ser um prazo mínimo para avaliação de empréstimo", completa.
Segundo o último levantamento sobre empresas, realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 1997 a taxa de mortalidade de empreendimentos (novos ou estabelecidos) fora de 24% em relação aos existentes no ano anterior. E a de natalidade -criação de novas empresas- foi de 30,7%. Assim, no período houve aumento líquido de 6,7 pontos percentuais no número de novas empresas. Mas esses dados se referem apenas ao mercado formal. Não há estatísticas oficiais sobre o nível de ""mortalidade" em negócios informais ou de trabalhadores que são obrigados a abandonar a atividade.
Maior operador oficial de microcrédito, o BNB iniciou seu programa em 1998. Até julho, sua carteira ativa somava 104 mil clientes, com contratos que totalizavam R$ 56,9 milhões. Os programas atendem somente pessoas que tenham atividade anteriormente estabelecida -também pelo prazo mínimo de seis meses.
Em quatro anos, foram fechadas 777 mil operações, no total R$ 583,8 milhões. De acordo com pesquisa do banco, em 1998, ano em que o programa foi iniciado, 84% dos clientes eram pessoas que não tinham acesso ao sistema financeiro tradicional. E apenas 12% mantinham acesso a algum tipo de crédito por meio de fornecedores ou agiotas.


Texto Anterior: Filme estréia nesta sexta e já está pago
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.