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ANÁLISE
Fiesp perdeu representatividade e força
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo) que vai hoje às urnas está
longe da poderosa federação que
imperou sozinha na representação dos interesses do empresariado paulista até os anos 80.
"A burocratização das instituições sindicais e as profundas mudanças que ocorreram na economia tiraram o brilho da Fiesp", diz
o cientista político Murillo Aragão, da consultoria Arko Adviser.
Hoje, importantes setores como
o de agronegócios, responsável
por 40% do PIB (Produto Interno
Bruto), não se sentem representados na Fiesp, segundo Ademerval
Garcia, presidente da Abecitrus.
Aragão diz que a Fiesp perdeu
importância no cenário político
empresarial. "Nos últimos anos
os setores mais fortes da economia foram buscar uma representação independente das amarras
do sindicalismo criado nos tempos de Getúlio Vargas", diz ele.
Os interesses específicos dos pólos mais fortes da indústria paulista são representados por entidades como a Anfavea (montadoras), a Eletros (setor eletroeletrônico) e a Abdib (indústria de base
e infra-estrutura).
Enquanto isso, a Fiesp disputa
os votos de sindicatos tão díspares
como panificação e construção civil. "Quem decide os destinos da
Fiesp são sindicatos com pesos
econômicos diferentes e mesmo
poder de voto", diz Aragão.
Legitimidade
O cientista político Walder de
Góes, presidente do Ibep (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos), diz que a Fiesp tem "alguns
problemas de legitimidade em
meio à elite empresarial brasileira". Os avanços do setor exportador, nos últimos anos, não teria
sido bem absorvido pela Fiesp, segundo ele.
A federação continua representando mais os setores que produzem para o mercado interno.
"Muitos empresários do interior
paulista, que têm como referência
o mercado internacional, estão
fora da Fiesp", diz ele.
Os produtores de sucos, por
exemplo, embora filiados, têm
pouca participação na entidade.
"Temos uma agenda muito específica, que não é encampada pela
Fiesp", diz Garcia, da Abecitrus.
Segundo ele, sob o comando de
Horacio Lafer Piva houve mais
abertura para os industriais do
campo. "No passado, havia um
certo preconceito com a agroindústria, que era tratada como interiorana e de segunda classe."
Mesmo assim, ele afirma que os
industriais do setor não têm grande expectativa de mudança com
as eleições em curso. "A Fiesp
perdeu importância, pois representa setores do empresariado
que dependem muito de políticas
de governo. Nós falamos para o
mundo, a internacionalização dos
negócios ficou incompatível com
a estrutura da Fiesp", diz.
Garcia lembra que, quando vai à
sede da Fiesp, na avenida Paulista,
no coração de São Paulo, tem de
portar um selo na lapela e passar
por sete pessoas até chegar ao presidente da entidade. "É muita burocracia, o país mudou e a Fiesp
não."
A saída, na sua opinião, é a entidade reconhecer que não tem
mais o papel de liderança única e
encampar as bandeiras de outros
setores industriais. Nesse sentido,
ele diz que a federação deveria ter
uma ação mais forte na abertura
de novos mercados e lutar pela
desburocratização e a modernização da infra-estrutura do país.
Para Aragão, "o grande desafio
que se coloca para a Fiesp é ter
uma ação política pró-investimento e que dê sustentação ao
crescimento econômico". Essa
ação deveria ser feita junto com
outras entidades, rompendo os limites dos muros da Fiesp. "Ela
não é mais liderança única e deve
se aliar à Febraban, à Câmara
Americana e às entidades setoriais como a Anfavea e ter atuação
política nacional", afirmou.
Para exercer tal papel e ganhar
legitimidade no conjunto do empresariado paulista, a Fiesp precisaria libertar-se das amarras do
sindicalismo getulista -e isso
não depende dela. "A filiação
compulsória deveria acabar", diz
Mário Ernesto Humberg, presidente do PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais).
Ele diz que a Fiesp ainda tem um
papel importante no cenário político e que na gestão Piva destacou-se pela independência em relação ao governo.
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