São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

Ministro ignorante ou eleitoreiro?

O MINISTRO do Trabalho não sabe onde o IBGE encontrou os números que indicam o desemprego em alta. Poderia bem ser. Luiz Marinho não é especialista em trabalho. Formou-se advogado e líder do sindicalismo de resultados eleitorais, aquele que baixa a cabeça no governo de seu partido e incita greves no governo dos adversários.


Ministro do Trabalho não sabe como o IBGE calcula a alta do desemprego, mas sabe como fazer propaganda


O desemprego aumentou nas seis regiões metropolitanas onde o IBGE busca seus números. Marinho ao menos sabe que o IBGE, por falta de dinheiro e gente, não faz pesquisa no interior. O ministro costuma dizer ainda que o "Caged apura os dados reais". Mas o Caged é um cadastro oficial de pessoas empregadas com carteira assinada. O IBGE pergunta ao cidadão se ele procura e encontra emprego, qualquer um, com carteira ou não. Para Marinho, o cidadão que fala com o IBGE habita o reino das fadas; que quem vive de bico ou montou uma carrocinha de cachorro-quente e faliu são entes sobrenaturais. Marinho poderia torturar as estatísticas de modo mais sofisticado. Elas assim confessariam até coisas menos ruins para o presidente-candidato. Por exemplo, que o número de pessoas empregadas nas grandes cidades voltou a crescer -estava caindo na primeira metade do ano. Mas o que aconteceu agora é que o ritmo de criação de empregos nas grandes cidades parou de subir em julho de 2004 (veja o gráfico ao lado, que mostra também, na linha verde, a alta do número de pessoas empregadas). De resto, agora há mais gente à procura de trabalho. No primeiro semestre, o desemprego foi menor que o do ano passado porque havia menos gente procurando trabalho. Devido à escassez de dados, só no final de 2007 vamos saber o que aconteceu com o emprego de 2006 tanto no Brasil das metrópoles como do interior. É quando sai a Pnad, a pesquisa social nacional do IBGE. Estudos recentes sobre pobreza, interiorização da economia, a Pnad e pesquisas do Datafolha indicam que, sob Lula, até este ano o desemprego era menor no interior. Com a crise do agronegócio, há dúvidas. Mas aconteceu algo ruim, abaixo das expectativas já medíocres para este ano. O resultado do PIB sai só na semana que vem e, por vezes, este, sim, acontece de surpreender. Mas as estimativas, por ora, são que, nos últimos 12 meses, a economia cresceu num ritmo tão pífio como o do ano passado, uns 2,5%, perto da média modorrenta do país pós-Real. Gente do mercado que esteve com a diretoria do Banco Central nesta semana notou que o pessoal estava algo amuado, pessoal de hábito pimpão e certo de que não havia exagerado nos juros. Isto é, que não havia jogado mais areia do que o necessário (na concepção deles) na economia e no emprego. Na semana que vem, o BC decide se baixa os juros. Se baixarem meio ponto, até o BC dirá que jogou areia demais no motor do nosso caminhãozinho.

vinit@uol.com.br


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