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LUÍS NASSIF
A volta do pêndulo
Para quem consegue desenvolver certa sensibilidade, os
movimentos da opinião pública são relativamente previsíveis e pendulares e obedecem a
uma espécie de teoria de valor.
Um país, governante ou empresa não é bom ou ruim em si:
é caro ou barato -já escrevi
sobre esse tema há algum tempo.
Quando o analisado está
"caro", cada notícia vem com
conotação negativa e vai derrubando seu valor. Até que
chega o momento em que ele fica "barato". Aí a opinião pública começa a valorizar detalhes antes esquecidos, constatar que, afinal, "não é tão ruim
assim", promovendo um movimento de revalorização. Se revaloriza demais, os defeitos
voltam a ser salientados, trazendo o pêndulo de volta.
É curioso esse movimento
porque acaba com essa noção
de que existem valores absolutos. Governos podem melhorar
ou piorar. Mas as análises sobre governos podem variar dependendo apenas do momento
em que se está analisando: se
ele está "caro" ou "barato".
Aliás, poderia algum jovem
economista com formação de
física ou algum especialista em
marketing com formação matemática investigar mais esse
fenômeno, fundamental para
avaliar os movimentos de curto prazo dos mercados.
O curioso é que nem o governo nem a oposição parecem se
dar conta desses movimentos.
Há tempos o governo FHC está
"barato". Não significa que esteja bom, embora tenha melhorado sensivelmente em relação a períodos anteriores. Significa que é menos ruim do que
parecia ser.
Basta ver o que ocorreu com
a avaliação da privatização
das telecomunicações. Hoje há
empregadas domésticas comprando celular, milhões de brasileiros tendo acesso a linhas fixas, uma montanha de investimentos em novas linhas, em
redes de fibra ótica, uma competição ampla que, em breve,
vai derrubar mais ainda os
preços das tarifas. E há quem
diga que houve um desmonte
nas telecomunicações por problemas, que poderiam ter sido
evitados, que precisam ser resolvidos, mas que são passageiros.
Como a oposição não trabalha com essas sutilezas, carregou demais nas tintas. Sentiu o
enfraquecimento, mas não
avaliou os limites desse desgaste. Embora tratando de um governo cheio de defeitos e culpas, não chega a ser um governo Sarney -em termos de desgoverno- nem Collor -em
termos de desgaste político. Assim, quando se tenta levar o
pêndulo para extremos, ocorre
um movimento natural de reação e de revalorização do objeto de crítica.
Com mais senso de oportunidade por parte de FHC, haveria condições de uma retomada da governabilidade. De um
lado, há cansaço com essa sucessão infindável de crises. Por
outro, um conjunto de informações que, se não apontam
para um céu de brigadeiro, pelo menos não indicam o fim do
mundo. O governo está mais
operacional que antes, o próximo Programa Plurianual
(PPA) vem com uma agenda
carregada da investimentos e,
mesmo com dificuldades, as reformas avançam. A distância
das eleições, além disso, desestimula movimentos oportunistas de defecção da base aliada.
Infelizmente, saem os que se
movem por princípios, como o
admirável senador Arthur da
Távola.
Se FHC tivesse visão estratégica, era o momento de inverter o pêndulo. Mas muitas outras oportunidades como essa
foram desperdiçadas pela incapacidade de sair do ramerrame de uma política econômica
passiva.
Tem que pensar, ousar grandes lances que rompam com a
inércia econômica e política.
Há uma lista de temas grandes
aguardando medidas, que permitam não apenas sua solução, mas que sinalizem para
uma reconciliação entre nação
e Estado, permitindo que o país
rompa com a inércia.
Tem a questão do encontro
de contas, a "concordata Brasil", o uso da privatização para
resolver problemas da Previdência e tantos mais.
Em todos os momentos de
crise FHC recorre ao mesmo
arsenal de balas de festim. Sabe
que as crises refluem e aguarda
que isso ocorra. Passa o momento crítico, retoma-se algum oxigênio para respirar,
mas a situação é sempre pior
do que era antes da eclosão da
crise. E essa falta de ação ativa
acaba abrindo espaço para novas crises.
Como a esperança é a última
que morre, aguarda-se que
FHC deixe de se apequenar.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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