|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Câmbio faz dívida estourar teto do FMI
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em consequência da disparada do dólar, o governo brasileiro não conseguirá manter sua dívida nos níveis acertados com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Pelo acordo fechado em agosto, o endividamento do setor público
deveria ficar em, no máximo, R$ 810 bilhões neste mês.
Para que esse teto seja respeitado, porém, o dólar precisaria cair
para R$ 3,18 até o final do mês, segundo o chefe do Departamento
Econômico do Banco Central, Altamir Lopes. O que representa
uma queda de 15,9% na cotação
do dólar em relação ao fechamento de ontem -R$ 3,78.
No mês passado, a dívida líquida do setor público estava em R$
784 bilhões. Esse cálculo foi feito
com base na cotação do dólar no
último dia útil de agosto, quando
a moeda era negociada a R$ 3,02.
Se o dólar fechar o mês de setembro em R$ 3,70, o endividamento
do governo chegaria a aproximadamente R$ 874 bilhões.
"A taxa de câmbio está num patamar um pouco exagerado. Isso
vai passar", afirma Lopes. Segundo ele, a alta do dólar é consequência, principalmente, das turbulências do mercado internacional, diante da possibilidade de
uma guerra entre os EUA e o Iraque. Para Lopes, as cotações estão
"influenciadas pelo processo eleitoral". Ele observa, porém, que as
condições do cenário externo têm
um peso "mais significativo".
Aproximadamente metade do
endividamento líquido do setor
público (União, Estados, municípios e estatais) é corrigida pelo
dólar. Além da dívida externa, o
governo possui ainda títulos negociados dentro do país que são
atrelados ao câmbio.
Em agosto, a dívida representava 58,3% do PIB (Produto Interno
Bruto). Se o dólar se mantiver em
R$ 3,70, essa relação ficaria próxima de 64%. A intenção do governo era estabilizar a proporção em
59% até o final do ano.
O fato de a dívida pública ficar
acima do fixado pelo acordo com
o FMI não impede o governo de
ter acesso aos empréstimos oferecidos pelo Fundo. O novo entendimento deu ao Brasil acesso a
uma linha de crédito de US$ 30 bilhões, dos quais US$ 3 bilhões foram sacados neste mês e outros
US$ 3 bilhões poderão ser liberados em dezembro.
Esforço em vão
Embora não limite o acesso do
Brasil aos dólares do FMI, o não-cumprimento da meta relativa ao
endividamento mostra que o esforço fiscal do governo não foi suficiente, pelo menos por enquanto, para frear o crescimento da dívida pública.
Ao fechar o acordo com o FMI,
o governo se comprometeu a elevar sua meta de superávit primário (receitas menos despesas, exceto gastos com juros) de 3,75%
para 3,88% do PIB.
O superávit primário é o dinheiro que o governo economiza para
abater parcelas de sua dívida. A
expectativa da equipe econômica
era que, ao anunciar o empréstimo de US$ 30 bilhões do FMI, o
mercado se acalmasse e a cotação
do dólar caísse.
Combinados, os dois fatores
-a esperada queda da cotação do
dólar e o maior esforço fiscal-
deveriam fazer com que a dívida
se mantivesse abaixo de R$ 810 bilhões neste mês, o que não deve
ocorrer.
Lopes não quis comentar a possibilidade de o governo ter que
elevar novamente sua meta para o superávit primário para conter o
avanço da dívida.
Texto Anterior: Dólar alto não tem base real, afirma FHC Próximo Texto: Frases Índice
|