São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 2002

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Dólar e consumo baixo fazem elétricas atrasar R$ 2,2 bi

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Pressionadas pela alta do dólar, pela maior inadimplência e pela queda no consumo desde o início do racionamento, as distribuidoras de energia acumulam uma dívida de ao menos R$ 2,2 bilhões com as geradoras. O valor é referente a contas de fornecimento que estão em atraso -algumas delas há mais de dez anos.
É o que revela levantamento exclusivo feito pela Folha com as cinco maiores geradoras do país.
Proporcionalmente, a pior situação é da estatal federal Eletronorte, subsidiária da Eletrobrás. Três distribuidoras -as únicas privadas na região a que ela atende- têm faturas em atraso que somam R$ 290 milhões.
Estão em débito a Cemar (R$ 110 milhões), que sofre intervenção da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), a Celpa e a Celtins -ambas controladas pelo privado Grupo Rede, cuja dívida é de R$ 90 milhões. Também deve a companhia a estatal CEA (R$ 90 milhões), do Amapá.
A dívida mais elevada, no entanto, é a que distribuidoras têm com a maior geradora do país. Furnas, também subsidiária da Eletrobrás, tem contas em atraso no valor de R$ 1,2 bilhão.
Entre as empresas de geração consultadas, apenas duas não sofrem com a inadimplência de seus clientes: a estatal paulista Cesp e a federal Chesf (Nordeste).
A alta do dólar é uma das principais razões para a inadimplência. "Quase todas as distribuidoras não estão pagando a energia de Itaipu", disse o diretor financeiro de Furnas, Márcio Nunes.
É Furnas que comercializa a energia de Itaipu, cotada em dólar. Da dívida total com Furnas, R$ 300 milhões são referentes à energia da usina.
O preço da energia ao consumidor também sofre reajuste pelo dólar só uma vez por ano. As concessionárias, porém, podem pedir um aumento extraordinário por causa desse custo excepcional.
Outro problema é que o consumo não se recuperou desde o fim do racionamento, ao contrário do esperado. No caso da Light, por exemplo, a queda é de 15%. A redução levou a empresa a acumular débitos de R$ 88 milhões com Furnas, o maior entre as devedoras privadas. Segundo a Light, a dívida foi quitada na sexta-feira.
"Não é um privilégio da Light. Existem empresas que têm dívidas maiores", disse na semana passada à Folha o diretor financeiro da companhia, Paulo Roberto Ribeiro Pinto.
Segundo Ribeiro Pinto, a inadimplência dos clientes também têm crescido, dificultando ainda mais a situação das companhias. É um efeito em cascata, disse.
Também sofre com a inadimplência a única grande geradora privada do país, a Tractebel -antiga Eletrosul, comprada pela holding belga de mesmo nome atual. Duas distribuidoras devem, juntas, à empresa R$ 750 milhões: a goiana Celg (R$ 200 milhões) e a alagoana Ceal (R$ 550 milhões).
A estatal Celg, que está sendo federalizada para depois ser privatizada, é a recordista em dívidas. Os débitos com geradoras chegam a R$ 800 milhões. Segundo Furnas, que tem R$ 600 milhões a receber, a empresa atrasa os pagamentos desde agosto de 2000.
A CEA paga irregularmente à Eletronorte há dez anos. Já a CEB (DF) tem com Furnas uma dívida de R$ 250 milhões acumulada desde janeiro de 2001.
Segundo a Folha apurou, algumas empresas já aceitaram usar parte do crédito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), dado para compensar as perdas com o racionamento, para saldar dívidas.

Privadas
Furnas informou na semana passada que tem R$ 27 milhões a receber da paulista CPFL, que diz não estar inadimplente pois tem 15 dias de carência pelas regras do contrato com a geradora.
A CPFL diz que devido à volatilidade do dólar, tem optado por pagar fora do prazo, mas dentro do limite contratual, conseguindo taxas de câmbio mais favoráveis.
Procurado, o Grupo Rede não respondeu aos recados deixados pela reportagem.


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