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OPINIÃO ECONÔMICA
Novo acordo com o FMI?
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Discute-se neste momento
se o Brasil deve ou não negociar um novo acordo com o FMI
para 2004. É uma discussão melancólica. Afinal, o Brasil assinou
nada menos que três acordos com
o Fundo desde fins de 1998. Esse
seria o quarto empréstimo num
período de apenas cinco anos!
Os defensores de mais um acordo argumentam que o aporte de
dinheiro ajudaria a financiar as
contas externas em 2004 e que a
renovação do aval do FMI fortaleceria a credibilidade da política
econômica.
Esses argumentos não são, contudo, inteiramente convincentes.
Houve notável melhora do balanço de pagamentos do Brasil desde
meados de 2002. O superávit comercial, acumulado em 12 meses,
é superior a US$ 20 bilhões. A
conta corrente chega a apresentar
um pequeno superávit.
Quanto à questão da credibilidade, a negociação de um quarto
acordo seria um sinal ambíguo.
Indicaria uma certa "Fund-dependence" do Brasil e poderia ser
tomada como indício de fraqueza.
De qualquer maneira, não se
pode esquecer que o aval do FMI
nunca sai de graça. As recomendações da tecnocracia do Fundo
nem sempre são as melhores (para dizer o mínimo). O FMI tem,
por exemplo, uma inclinação por
políticas monetárias e fiscais pró-cíclicas, isto é, costuma insistir em
taxas de juro e superávits primários elevados mesmo para economias estagnadas ou em recessão.
É o que estamos vendo no Brasil
em 2003. Submetida a políticas
fiscais e monetárias severamente
restritivas, a economia brasileira
entrou em recessão. A queda da
atividade e do emprego contribuiu para reduzir a arrecadação
tributária. A diminuição da arrecadação, por sua vez, colocou em
risco as ambiciosas metas de superávit primário e levou o governo a promover novos cortes de
gastos, reforçando a pressão recessiva e prejudicando ainda
mais as condições de funcionamento de diversos setores da máquina pública.
Além disso, essas negociações
têm, às vezes, aspectos não-escritos ou não-revelados. O FMI é, ao
mesmo tempo, um órgão técnico e
político, controlado por um pequeno grupo de países desenvolvidos, com influência preponderante dos EUA. A experiência recente
mostra que os EUA e outros países desenvolvidos não se constrangem em usar os programas
do FMI para impor os seus interesses a países devedores vulneráveis.
Ora, o Brasil tem um contencioso apreciável com os EUA em negociações comerciais de importância estratégica (OMC e, sobretudo, Alca). Podemos descartar o
risco de que Washington tente,
em determinado momento, estabelecer uma vinculação entre as
negociações financeiras e comerciais?
O melhor, assim, é não depender de favores em Washington.
Não é tão difícil tornar-se independente desses favores. O Brasil
precisaria atuar de forma sistemática para consolidar o superávit comercial e o ajustamento do
balanço de pagamentos em conta
corrente, mantendo uma taxa de
câmbio competitiva e acionando
instrumentos extra-cambiais de
estímulo às exportações e à substituição de importações. Precisaria, também, disciplinar os movimentos de entrada e saída de capitais na economia e aproveitar
todas as oportunidades para reforçar as reservas internacionais.
São condições indispensáveis
para que o Brasil possa crescer
com segurança, gerar empregos e
sustentar uma política externa
independente.
Paulo Nogueira Batista Jr., 48, economista, pesquisador visitante do Instituto
de Estudos Avançados da USP e professor da FGV-EAESP, escreve às quintas-feiras nesta coluna. É autor do livro "A Economia como Ela É..." (Boitempo Editorial, 3ª edição, 2002).
E-mail - pnbjr@attglobal.net
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