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RECEITA ORTODOXA
Superávit primário acumulado no ano equivale a 5,82% do PIB; resultado de agosto é o segundo melhor da série
Aperto fiscal supera nova meta com folga
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Antes mesmo de o governo
anunciar sua intenção de fazer
um maior aperto fiscal neste ano,
a economia que o setor público
(União, Estados, municípios e estatais) fez para pagar juros da dívida já atingia níveis recordes, acima até da nova meta divulgada
nesta semana pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
Entre janeiro e agosto deste ano,
o superávit primário (receitas menos despesas, exceto o pagamento
de juros) acumulado pelo setor
público somou R$ 63,728 bilhões,
valor equivalente a 5,82% do PIB
(Produto Interno Bruto).
Na última quarta-feira, o governo anunciou que elevaria a meta
para o superávit primário deste
ano de 4,25% do PIB para 4,5%, o
que representará um aperto adicional de aproximadamente R$ 4
bilhões. Nos últimos 12 meses,
porém, a economia para pagamento de juros já é equivalente a
4,95% de todas as riquezas produzidas pelo país no período.
No mês passado, o superávit
primário chegou a R$ 10,931 bilhões, o maior já registrado num
mês de agosto desde que o Banco
Central passou a calcular esse indicador, em 1991. Foi o segundo
maior resultado da história, só
abaixo dos R$ 11,901 bilhões conseguidos em abril último.
Graças à arrecadação recorde de
impostos e à redução nos investimentos públicos, a economia feita
pelo setor público foi suficiente
para que fosse cumprida, antecipadamente, a meta acertada no
acordo do Brasil com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Pelo entendimento, o país deveria acumular um superávit primário de, no mínimo, R$ 56,9 bilhões
entre janeiro e setembro deste
ano -até agosto, o resultado efetivamente obtido já superava essa
meta em R$ 6,8 bilhões.
Para todo o ano de 2004, a meta
acertada com o FMI -calculada
com base no objetivo de 4,25% do
PIB- é de R$ 71,5 bilhões. "Sem
dúvida, o cumprimento da meta é
perfeitamente factível", afirmou
ontem o chefe do Departamento
Econômico do BC, Altamir Lopes.
O superávit do mês passado foi
bastante influenciado pelas estatais, que fizeram uma economia
de R$ 5,528 bilhões -também a
maior já feita pelas empresas num
mês de agosto. Lopes disse que o
resultado das estatais varia muito
a cada mês, não havendo uma explicação específica para o comportamento de agosto.
O mesmo raciocínio foi usado
por ele para justificar o déficit de
R$ 30 milhões registrado pelos
municípios. Segundo Lopes, porém, esse déficit não foi causado
por um aumento de gastos públicos no período pré-eleitoral.
Nem mesmo essa economia,
porém, foi suficiente para pagar
todos os juros da dívida pública.
As despesas financeiras dos oito
primeiros meses do ano somaram
R$ 83,786 bilhões.
Quando o superávit primário
não é suficiente para cobrir os
gastos com juros, registra-se o
chamado déficit nominal (diferença entre todas as receitas e despesas públicas, inclusive com encargos da dívida). Até agosto, o
déficit foi de R$ 20,058 bilhões.
Ainda assim, esse déficit é o menor já registrado no país, graças à
combinação de dois fatores. Além
do superávit primário recorde, os
gastos com juros sofreram uma
redução de 18% em relação aos oito primeiros meses de 2003. Isso é
reflexo, principalmente, da queda
dos juros básicos (Selic) ocorrida
desde o ano passado. A taxa
-que remunera metade da dívida do governo federal- chegou a
26,5% ao ano no primeiro semestre de 2003 e está hoje em 16,25%.
Com isso, o déficit nominal deve encerrar o ano em um valor
equivalente a 2,9% do PIB. Se
confirmado, esse resultado seria
menor, por exemplo, do que os
3% fixados pela União Européia
como teto para o déficit público
de seus países-membros.
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