São Paulo, sábado, 25 de setembro de 2004

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LUÍS NASSIF

A informatização do TJ

Conheço juízes estaduais paulistas dedicadíssimos ao seu trabalho, assim como desembargadores e funcionários de tribunais. E existem juízes relapsos, assim como desembargadores e funcionários. O que os diferencia são princípios de responsabilidade individual, porque não existe um modelo de gestão adequado que reconheça o trabalho sério e eficiente e puna o relapso. Esse problema é extraordinariamente ampliado pela Justiça estadual paulista.
Vamos retomar a história do convênio com a Nossa Caixa para tirar lições para o futuro.
O Banespa havia sido privatizado e pretendia manter os depósitos judiciais do tribunal. A Nossa Caixa entrou na parada alegando sua condição de banco público. Mas públicos são também o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, que ofereciam vantagens aos correntistas da Justiça paulista.
Por iniciativa de um dirigente, a Nossa Caixa ofereceu como contrapartida a informatização da Justiça. Houve resistências à idéia da parte do então presidente da Nossa Caixa, Geraldo Gardenalli, pessoa séria, mas impermeável a novas idéias, especialmente de terceiros. Um trabalho eficiente e individual de diretores da instituição acabou convencendo a alta direção do Tribunal de Justiça a aceitar o convênio.
Para a Nossa Caixa, foi um grande negócio. Com depósitos de R$ 4 bilhões (hoje estão em R$ 8 bilhões), conseguiu um "spread" adicional de R$ 500 milhões. Em troca, firmou dois convênios com o Tribunal de Justiça. O primeiro consistia em informatizar o Judiciário, investimento de R$ 76 milhões em quatro anos. O segundo, para garantir o upgrade das máquinas.
Além disso, a Nossa Caixa se programaria um sistema de gestão e "data flow" similar ao bancário. Não se tratava meramente de fornecer computadores, mas de o Judiciário passar a trabalhar com a idéia de "work flow", revendo processos administrativos e de gestão.
Nesse período, o TJ não contratou ninguém para revisar os processos administrativos e, eventualmente, jurisdicionais, mesmo estando previsto o financiamento desses trabalhos pela Nossa Caixa.
O resultado foi o caos armado, ampliando o descontentamento dos funcionários e resultando em uma greve de mais de 80 dias -que não mereceu sequer a mediação do governador do Estado.
A revolução gerencial, uma realidade nacional, presente nas empresas e em vários Estados e poderes nacionais, não chegou ao poder público de São Paulo. Em Mato Grosso, vê-se a parceria entre o governo do Estado e o Poder Judiciário permitindo o acompanhamento dos processos em tempo real. Em São Paulo, o que há são depósitos de papéis velhos.
São Paulo é um país europeu, com os melhores institutos de pesquisa e universidades, as maiores empresas, a melhor infra-estrutura, o maior acúmulo de talentos difusos. Tudo isso não resulta em um pacto de produtividade entre os diversos poderes, em um plano estratégico, em novos paradigmas conduzidos por lideranças de mente arejada.
Que pelo menos a greve obrigue a retomar esse convênio com a Nossa Caixa.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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