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LUÍS NASSIF
A informatização do TJ
Conheço juízes estaduais
paulistas dedicadíssimos
ao seu trabalho, assim como
desembargadores e funcionários de tribunais. E existem
juízes relapsos, assim como
desembargadores e funcionários. O que os diferencia são
princípios de responsabilidade
individual, porque não existe
um modelo de gestão adequado que reconheça o trabalho
sério e eficiente e puna o relapso. Esse problema é extraordinariamente ampliado pela
Justiça estadual paulista.
Vamos retomar a história do
convênio com a Nossa Caixa
para tirar lições para o futuro.
O Banespa havia sido privatizado e pretendia manter os
depósitos judiciais do tribunal. A Nossa Caixa entrou na
parada alegando sua condição de banco público. Mas públicos são também o Banco do
Brasil e a Caixa Econômica
Federal, que ofereciam vantagens aos correntistas da Justiça paulista.
Por iniciativa de um dirigente, a Nossa Caixa ofereceu
como contrapartida a informatização da Justiça. Houve
resistências à idéia da parte do
então presidente da Nossa
Caixa, Geraldo Gardenalli,
pessoa séria, mas impermeável a novas idéias, especialmente de terceiros. Um trabalho eficiente e individual de
diretores da instituição acabou convencendo a alta direção do Tribunal de Justiça a
aceitar o convênio.
Para a Nossa Caixa, foi um
grande negócio. Com depósitos de R$ 4 bilhões (hoje estão
em R$ 8 bilhões), conseguiu
um "spread" adicional de R$
500 milhões. Em troca, firmou
dois convênios com o Tribunal
de Justiça. O primeiro consistia em informatizar o Judiciário, investimento de R$ 76 milhões em quatro anos. O segundo, para garantir o upgrade das máquinas.
Além disso, a Nossa Caixa se
programaria um sistema de
gestão e "data flow" similar ao
bancário. Não se tratava meramente de fornecer computadores, mas de o Judiciário passar a trabalhar com a idéia de
"work flow", revendo processos administrativos e de gestão.
Nesse período, o TJ não contratou ninguém para revisar
os processos administrativos e,
eventualmente, jurisdicionais,
mesmo estando previsto o financiamento desses trabalhos
pela Nossa Caixa.
O resultado foi o caos armado, ampliando o descontentamento dos funcionários e resultando em uma greve de
mais de 80 dias -que não mereceu sequer a mediação do
governador do Estado.
A revolução gerencial, uma
realidade nacional, presente
nas empresas e em vários Estados e poderes nacionais, não
chegou ao poder público de
São Paulo. Em Mato Grosso,
vê-se a parceria entre o governo do Estado e o Poder Judiciário permitindo o acompanhamento dos processos em
tempo real. Em São Paulo, o
que há são depósitos de papéis
velhos.
São Paulo é um país europeu, com os melhores institutos de pesquisa e universidades, as maiores empresas, a
melhor infra-estrutura, o
maior acúmulo de talentos difusos. Tudo isso não resulta
em um pacto de produtividade entre os diversos poderes,
em um plano estratégico, em
novos paradigmas conduzidos
por lideranças de mente arejada.
Que pelo menos a greve obrigue a retomar esse convênio
com a Nossa Caixa.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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