São Paulo, segunda-feira, 25 de setembro de 2006

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LIGAÇÕES PERIGOSAS

Novo depoimento no caso Telecom Italia deve afetar BrT

JANAINA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O depoimento do detetive particular Mário Bernardini ao Ministério Público italiano deve cair como uma bomba no Brasil e influenciar o caso Brasil Telecom.
Em reportagens veiculadas nos últimos dois dias, pelo jornal "Corriere della Sera", de Milão, Bernardini afirma que a Telecom Itália fez pagamentos a policiais, lobistas e consultores brasileiros com o intuito de ser beneficiada na disputa pelo comando da BrT.
Além disso, segundo Bernardini, a denúncia feita pela Telecom Italia em 2004 à Polícia Federal de que era vítima de espionagem da Kroll, a mando do grupo Opportunity, teria sido baseada em dados parcialmente produzidos dentro da própria Telecom Itália.
A Telecom Italia é a quinta maior operadora da Europa. Lá, está no centro de um escândalo que envolve centenas de pessoas. Um grupo ligado à operadora é acusado pelos promotores milaneses de patrocinar uma gigantesca rede de espionagem e venda de informações.
Por conta disso, 20 pessoas foram presas na Itália e outras participam de um programa de delação premiada. É o caso de Bernardini.
O Brasil tem sido considerado pelo Ministério Público italiano como peça-chave no quebra-cabeça das investigações. Por aqui, a Telecom Italia é sócia de duas operadoras: TIM (móvel) e Brasil Telecom (fixa).

Disputa
Desde 2001, a Brasil Telecom é alvo da maior disputa societária ocorrida no país. Seus principais acionistas -Telecom Italia, Opportunity, Citigroup e fundos de pensão- se digladiam pelo comando da concessionária.
Em meados de 2004, o então chefe da segurança para a América Latina da Telecom Itália, Angelo Jannone, veio ao Brasil entregar à Polícia Federal um CD que mostrava ter sido sua empregadora espionada pela Kroll, sob orientação da Brasil Telecom, então gerida pelo Opportunity. Jannone disse que o CD tinha chegado anonimamente à Telecom Italia.
Bernardini, porém, apresentou outra versão aos promotores. "Segundo o detetive particular, naquela ocasião, Fábio Ghioni [especialista em segurança tecnológica da Telecom Italia] disse que o conteúdo do CD havia sido produzido por ele e depois enviado de forma anônima, visto que continha dados delicados, interceptações [telefônicas] e dados de contas correntes e pagamentos a políticos brasileiros", reproduz o "Corriere della Serra". Ghioni nega e disse ao jornal italiano que se limitou a esquadrinhar o CD para garantir que não tivesse vírus.
Quanto ao repasse de dinheiro a brasileiros, Bernardini explicou que um advogado de São Paulo era responsável por receber o dinheiro e depois distribuí-lo a "uma série de personagens políticos e funcionários da Polícia Federal". De acordo com o "Corriere", "cerca de US$ 1,1 milhão" escoaram para esse tipo de pagamento, que serviria também a pessoas "muito influentes no Brasil, muito amigas da cúpula dos fundos de pensão".
Os fundos de pensão são sócios da Brasil Telecom e, em 2004, companheiros da Telecom Italia na luta pela operadora brasileira.


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