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RECEITA ORTODOXA
Para François Bourguignon, economista-chefe do Banco Mundial, taxas atuais desestimulam investimentos
Só queda do juro fará Brasil crescer, diz Bird
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O economista-chefe e vice-presidente sênior do Banco Mundial,
François Bourguignon, disse ontem no Rio que, para o Brasil voltar a crescer, a taxa de juros terá
de baixar. "O ponto-chave é que
se necessita de uma baixa da taxa
de juros para que o crescimento
possa acontecer de novo", afirmou.
Com os atuais níveis dos juros,
disse ele, há desestímulo ao investimento: "Como uma empresa,
um empresário, pode investir
com juros reais [descontada a inflação] de 12% [ao ano]? Essas taxas são incompatíveis com investimentos na produção".
Segundo o economista, "para
haver a retomada do crescimento
no Brasil, a política monetária deve ser afrouxada".
O economista também relacionou os juros altos à alta taxa de
desemprego no Brasil -12,9%
em setembro, segundo o IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística). "Para baixar o desemprego, é preciso uma maior
atividade econômica e ela só aumenta com taxas [de juros] mais
baixas", afirmou.
Bourguignon considerou ainda
que "há necessidade de investimentos em infra-estrutura para
que o Brasil consiga um crescimento sustentado".
"Pior já passou"
O economista-chefe e outros dirigentes do Banco Mundial participaram de seminário realizado
ontem no Rio para analisar o relatório "Desigualdades na América
Latina e no Caribe: Rompendo
com a História", divulgado pelo
banco em 7 deste mês.
Segundo o relatório, o Brasil "é
o país mais desigual da região
mais desigual" do mundo -na
América Latina, os 10% mais ricos
detêm 48% da renda e os 10%
mais pobres, apenas 1,6%.
Apesar de enfatizar a necessidade de reduzir os juros, Bourguignon ressaltou pontos positivos da
economia brasileira e afirmou
que o pior momento para o país
"já passou".
"Provavelmente, o tempo mais
difícil para o Brasil já passou.
Acho que temos de ficar esperançosos em relação ao próximo
ano", disse o economista.
David de Ferranti, vice-presidente do Banco Mundial para a
América Latina, ressaltou o fato
de o risco-país ter baixado de
2.400 para perto de 600 pontos.
Para ele, a queda é importante
não só para o setor privado, mas
também para o governo, "que é
um grande tomador de crédito".
"Se o custo do dinheiro é tão
mais baixo [houve uma redução
de 75% no risco-país, segundo
ele], isso significa mais dinheiro
disponível para o governo."
Ao completar a declaração de
Ferranti, Bourguignon afirmou
que a única forma de o Brasil conseguir manter a credibilidade no
mercado internacional é "seguir
com uma política rigorosa no
campo fiscal".
Ferranti citou ainda as reformas
estruturais -tributária e da Previdência Social- como outras
condições para a retomada do
crescimento.
Meirelles
Presente ao mesmo seminário,
o presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, afirmou que
a economia reagiu ao corte dos juros e já mostra os primeiros indícios de recuperação, especialmente no caso da indústria.
"Já começam agora a aparecer
os primeiros sinais de retomada
do crescimento, particularmente
na produção industrial", disse.
Meirelles afirmou, porém, que
ainda é "prematuro" prever uma
expansão do PIB [Produto Interno Bruto] neste trimestre. Sua estimativa é de crescimento de, ao
menos, 3% em 2004.
"Não temos previsões específicas para este trimestre. É um pouco prematuro para dizer isso [se a
economia vai crescer com o corte
dos juros]."
O que importa, segundo ele, é
que "as condições para o crescimento estão dadas" a partir da
mudança da política monetária.
"O país vai crescer à taxa de 3%
ou mais em 2004, mas é muito importante que se façam investimentos para aumentar o crescimento potencial do país [nos próximos anos]."
Segundo Meirelles, "o desafio é
crescer a taxas altas de forma sustentada e gerar o volume de empregos que o Brasil precisa para
ter crescimento com inclusão social".
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