UOL


São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RECEITA ORTODOXA

Para François Bourguignon, economista-chefe do Banco Mundial, taxas atuais desestimulam investimentos

Só queda do juro fará Brasil crescer, diz Bird

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O economista-chefe e vice-presidente sênior do Banco Mundial, François Bourguignon, disse ontem no Rio que, para o Brasil voltar a crescer, a taxa de juros terá de baixar. "O ponto-chave é que se necessita de uma baixa da taxa de juros para que o crescimento possa acontecer de novo", afirmou.
Com os atuais níveis dos juros, disse ele, há desestímulo ao investimento: "Como uma empresa, um empresário, pode investir com juros reais [descontada a inflação] de 12% [ao ano]? Essas taxas são incompatíveis com investimentos na produção".
Segundo o economista, "para haver a retomada do crescimento no Brasil, a política monetária deve ser afrouxada".
O economista também relacionou os juros altos à alta taxa de desemprego no Brasil -12,9% em setembro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). "Para baixar o desemprego, é preciso uma maior atividade econômica e ela só aumenta com taxas [de juros] mais baixas", afirmou.
Bourguignon considerou ainda que "há necessidade de investimentos em infra-estrutura para que o Brasil consiga um crescimento sustentado".

"Pior já passou"
O economista-chefe e outros dirigentes do Banco Mundial participaram de seminário realizado ontem no Rio para analisar o relatório "Desigualdades na América Latina e no Caribe: Rompendo com a História", divulgado pelo banco em 7 deste mês.
Segundo o relatório, o Brasil "é o país mais desigual da região mais desigual" do mundo -na América Latina, os 10% mais ricos detêm 48% da renda e os 10% mais pobres, apenas 1,6%.
Apesar de enfatizar a necessidade de reduzir os juros, Bourguignon ressaltou pontos positivos da economia brasileira e afirmou que o pior momento para o país "já passou".
"Provavelmente, o tempo mais difícil para o Brasil já passou. Acho que temos de ficar esperançosos em relação ao próximo ano", disse o economista.
David de Ferranti, vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina, ressaltou o fato de o risco-país ter baixado de 2.400 para perto de 600 pontos. Para ele, a queda é importante não só para o setor privado, mas também para o governo, "que é um grande tomador de crédito".
"Se o custo do dinheiro é tão mais baixo [houve uma redução de 75% no risco-país, segundo ele], isso significa mais dinheiro disponível para o governo."
Ao completar a declaração de Ferranti, Bourguignon afirmou que a única forma de o Brasil conseguir manter a credibilidade no mercado internacional é "seguir com uma política rigorosa no campo fiscal".
Ferranti citou ainda as reformas estruturais -tributária e da Previdência Social- como outras condições para a retomada do crescimento.

Meirelles
Presente ao mesmo seminário, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que a economia reagiu ao corte dos juros e já mostra os primeiros indícios de recuperação, especialmente no caso da indústria.
"Já começam agora a aparecer os primeiros sinais de retomada do crescimento, particularmente na produção industrial", disse.
Meirelles afirmou, porém, que ainda é "prematuro" prever uma expansão do PIB [Produto Interno Bruto] neste trimestre. Sua estimativa é de crescimento de, ao menos, 3% em 2004.
"Não temos previsões específicas para este trimestre. É um pouco prematuro para dizer isso [se a economia vai crescer com o corte dos juros]."
O que importa, segundo ele, é que "as condições para o crescimento estão dadas" a partir da mudança da política monetária.
"O país vai crescer à taxa de 3% ou mais em 2004, mas é muito importante que se façam investimentos para aumentar o crescimento potencial do país [nos próximos anos]."
Segundo Meirelles, "o desafio é crescer a taxas altas de forma sustentada e gerar o volume de empregos que o Brasil precisa para ter crescimento com inclusão social".


Texto Anterior: Exportação supera US$ 70 bi, diz Furlan
Próximo Texto: Frase
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.