São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 2006

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Acordo com Bolívia pode ser parcial, afirma Amorim

Ministro afirma que parte do acerto pode ser feita até sábado, deixando os aspectos mais polêmicos para serem discutidos depois

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Celso Amorim (Itamaraty) disse ontem que "o prazo é inimigo" de uma boa negociação entre o Brasil e a Bolívia para a exploração de gás no país e sugeriu uma solução de meio-termo: um acordo parcial até o sábado, véspera do segundo turno das eleições, deixando os aspectos mais polêmicos para depois.
"Podemos ter primeiro um acordo sobre alguns aspectos consensuais, adiando o fechamento de todo o pacote para mais adiante", disse Amorim à Folha, falando sobre a assinatura dos novos contratos de exploração de gás da Bolívia, inclusive com a Petrobras. Anteontem, o chefe da campanha de Lula, Marco Aurélio Garcia, já havia sinalizado à Folha que a estratégia do governo brasileiro é buscar um acordo amplo até o final do prazo. "Se os negociadores não conseguirem chegar aos detalhes do contrato, eles podem chegar, até o fim do mês, a um acordo e negociar as cláusulas de forma mais detalhada", afirmou.
A Bolívia ameaça expulsar as empresas do país se não houver acordo até sábado, e Amorim contou que tem conversado com o boliviano Juan Ramón Quintana (Casa Civil), tentando amenizar o clima de pressão. Apesar de dizer que não pediu explicitamente uma mudança nos prazos, o ministro disse que fez "ponderações" sobre a inconveniência de conduzir negociações tão complexas diante da pressão de uma data.
"A questão do prazo não pode ser a principal. Não podemos ficar escravos de prazos. Se o acordo for bom, vou fazer; se não for, não vou fazer."
Ele também tentou desmentir que a eleição seja o motivo da preocupação brasileira com o prazo: "Se o resultado for ruim, será ruim no dia da eleição, no dia seguinte, no segundo dia, no terceiro dia. Como chanceler do Brasil, o que me preocupa não é quando, mas se tiver de responder de forma dura a uma ação unilateral de um país amigo, abrindo um ciclo complicado de dificuldades".
Para Amorim, o problema é que tanto o governo brasileiro sofre pressões para "endurecer" contra a Bolívia quanto o governo boliviano recebe pressões no mesmo sentido contra o Brasil. Por isso, defendeu que as conversas tenham uma espécie de lema: "Vocês seguram seus radicais que nós seguramos os nossos". Antes, em entrevista coletiva, o ministro havia dito que, se necessário, o governo recorrerá a tribunais internacionais para defender seus interesses, mas não vai radicalizar o tom com a Bolívia. "Quando digo que o Brasil não vai aceitar medidas unilaterais, é que o Brasil tomará as medidas legais que couberem, não é que vai fazer retaliações ou que vai ameaçar."
A Folha apurou que o encontro entre representantes de Petrobras, Ministério de Minas e Energia e governo boliviano terminou sem avanços anteontem. Ontem à tarde houve nova reunião, mas o encontro não havia terminado até o fechamento desta edição.

"Arbitrário"
O ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero afirmou ontem que o prazo estipulado pelo governo boliviano para a assinatura de novos contratos de exploração de gás com as petrolíferas é "arbitrário" e que "o direito está do nosso lado". E criticou duramente a reação brasileira ao decreto de nacionalização. "O Brasil teve uma reação inadequada. A nota reconhecendo a soberania boliviana foi despropositada. A soberania nunca esteve em questão", disse Ricupero.


Colaboraram FABIANO MAISONNAVE, enviado especial a Santa Cruz de la Sierra, e a Redação

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