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Acordo com Bolívia pode ser parcial, afirma Amorim
Ministro afirma que parte do acerto pode ser feita até sábado, deixando os aspectos mais polêmicos para serem discutidos depois
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Celso Amorim
(Itamaraty) disse ontem que "o
prazo é inimigo" de uma boa
negociação entre o Brasil e a
Bolívia para a exploração de gás
no país e sugeriu uma solução
de meio-termo: um acordo parcial até o sábado, véspera do segundo turno das eleições, deixando os aspectos mais polêmicos para depois.
"Podemos ter primeiro um
acordo sobre alguns aspectos
consensuais, adiando o fechamento de todo o pacote para
mais adiante", disse Amorim à
Folha, falando sobre a assinatura dos novos contratos de exploração de gás da Bolívia, inclusive com a Petrobras.
Anteontem, o chefe da campanha de Lula, Marco Aurélio
Garcia, já havia sinalizado à Folha que a estratégia do governo
brasileiro é buscar um acordo
amplo até o final do prazo. "Se
os negociadores não conseguirem chegar aos detalhes do
contrato, eles podem chegar,
até o fim do mês, a um acordo e
negociar as cláusulas de forma
mais detalhada", afirmou.
A Bolívia ameaça expulsar as
empresas do país se não houver
acordo até sábado, e Amorim
contou que tem conversado
com o boliviano Juan Ramón
Quintana (Casa Civil), tentando amenizar o clima de pressão.
Apesar de dizer que não pediu explicitamente uma mudança nos prazos, o ministro
disse que fez "ponderações" sobre a inconveniência de conduzir negociações tão complexas
diante da pressão de uma data.
"A questão do prazo não pode
ser a principal. Não podemos ficar escravos de prazos. Se o
acordo for bom, vou fazer; se
não for, não vou fazer."
Ele também tentou desmentir que a eleição seja o motivo
da preocupação brasileira com
o prazo: "Se o resultado for
ruim, será ruim no dia da eleição, no dia seguinte, no segundo dia, no terceiro dia. Como
chanceler do Brasil, o que me
preocupa não é quando, mas se
tiver de responder de forma dura a uma ação unilateral de um
país amigo, abrindo um ciclo
complicado de dificuldades".
Para Amorim, o problema é
que tanto o governo brasileiro
sofre pressões para "endurecer" contra a Bolívia quanto o
governo boliviano recebe pressões no mesmo sentido contra
o Brasil. Por isso, defendeu que
as conversas tenham uma espécie de lema: "Vocês seguram
seus radicais que nós seguramos os nossos".
Antes, em entrevista coletiva, o ministro havia dito que, se
necessário, o governo recorrerá
a tribunais internacionais para
defender seus interesses, mas
não vai radicalizar o tom com a
Bolívia. "Quando digo que o
Brasil não vai aceitar medidas
unilaterais, é que o Brasil tomará as medidas legais que couberem, não é que vai fazer retaliações ou que vai ameaçar."
A Folha apurou que o encontro entre representantes de Petrobras, Ministério de Minas e
Energia e governo boliviano
terminou sem avanços anteontem. Ontem à tarde houve nova
reunião, mas o encontro não
havia terminado até o fechamento desta edição.
"Arbitrário"
O ex-ministro da Fazenda
Rubens Ricupero afirmou ontem que o prazo estipulado pelo governo boliviano para a assinatura de novos contratos de
exploração de gás com as petrolíferas é "arbitrário" e que "o direito está do nosso lado".
E criticou duramente a reação brasileira ao decreto de nacionalização. "O Brasil teve
uma reação inadequada. A nota
reconhecendo a soberania boliviana foi despropositada. A soberania nunca esteve em questão", disse Ricupero.
Colaboraram FABIANO MAISONNAVE, enviado
especial a Santa Cruz de la Sierra, e a Redação
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