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Caso Cisco é "ponta de iceberg", diz Receita
Outras multinacionais do setor são investigadas por prática de importação irregular para escapar do pagamento de impostos
De acordo com auditores, apurações em andamento indicam que empresas fabricantes apenas
simulam produzir no país
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Receita Federal vai fechar
o cerco ao setor de tecnologia
da informação, após auditores
fiscais identificarem que as
fraudes na importação que envolveram a Cisco Systems são
"a ponta de um iceberg".
A Folha apurou com auditores que atuam nas investigações que o esquema que teria
sido adotado pela Cisco pode
estar sendo utilizado por outras empresas do setor. Estão
na mira do fisco outras multinacionais que importam mercadorias para vender no país.
O setor de tecnologia da informação deve movimentar
cerca de US$ 19,8 bilhões no
país neste ano, segundo estimativa da empresa IDC (International Data Corporation).
Segundo auditores fiscais, algumas empresas dizem que são
fabricantes no país, mas, na
verdade, trazem tudo do exterior e podem estar importando
de forma irregular.
Eles afirmam que investigações em andamento mostram
que há empresas agindo de forma semelhante à que teria sido
utilizada pela Cisco, com uso
de vários laranjas e, outras, de
maneira distinta, mas o objetivo é sempre o mesmo: driblar o
fisco para escapar do pagamento de impostos.
A Operação Persona, realizada por Receita, Ministério Público Federal e Polícia Federal
na semana passada para desarticular esquema de importação
ilegal que teria sido planejada
pela Cisco Systems, será seguida de outras para desbancar
fraudes no setor. Com essa
fraude, a sonegação de impostos teria sido de R$ 1,5 bilhão
nos últimos cinco anos.
O IDC informa que há milhares de empresas que formam o
mercado de tecnologia da informação no país, uma vez que
o setor reúne empresas de
equipamentos (hardware),
software e serviços, que estão
mais concentradas nas regiões
Sul e Sudeste do país.
Na Bahia, auditores fiscais
informam que no pólo de informática de Ilhéus praticamente
"não há produção". Investigações mostraram que ao menos
20 empresas das 57 instaladas
no local estavam "inaptas", nas
palavras dos próprios fiscais.
Em Ilhéus, agentes da Polícia
Federal apontaram irregularidades em quatro empresas
-Waytec, Prime, Livon e Brastec. Segundo a PF, essas empresas seriam o "canal de importação" no Brasil da Mude,
que se apresentava como revendedora da Cisco no Brasil.
Há cerca de dez anos as empresas do pólo teriam sido
atraídas para a região em busca
de incentivos fiscais estaduais
(ICMS) e federais (IPI/PIS e
Cofins). As indústrias têm descontos de até 75% no ICMS sobre o que importam e revendem, segundo o sindicato que
as representa. Sobre a produção, a isenção chega a 100%. Os
incentivos fiscais vão até 2014.
Em contrapartida, as empresas beneficiariam a região com
a criação de empregos e aumento da renda da população
-o que não ocorreu, segundo a
Folha apurou com auditores
fiscais. O Sinec (Sindicato das
Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos, Computadores, Informática e similares de
Ilhéus e Itabuna) afirma que o
faturamento anual do pólo é de
R$ 2 bilhões e que 1.642 empregos diretos foram criados.
A Secretaria da Fazenda do
Estado da Bahia vai pedir à Justiça Federal para ter acesso aos
documentos apreendidos na
Operação Persona porque quer
verificar quanto do R$ 1,5 bilhão sonegado nos últimos cinco anos, segundo estima a PF e
a Receita, pode retornar aos cofres do Estado da Bahia.
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