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Lucros recordes turbinam investimentos
Balanços de 220 das maiores empresas do país revelam alta de 46% nos ganhos; cenário externo em 2008 traz incerteza
Além do resultado recorde
de R$ 368,6 bi nos primeiros
três trimestres deste ano,
houve redução de dívidas
e ampliação das margens
FERNANDO CANZIAN
CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL
As maiores empresas brasileiras de capital aberto (com
ações na Bolsa) nunca lucraram tanto como em 2007. Os
resultados do ano devem garantir fortes investimentos em
2008, apesar das incertezas no
cenário internacional.
A aposta é que o mercado interno continuará sendo, como
neste ano, o carro-chefe do
crescimento. Uma crise externa de maior intensidade, porém, pode azedar o otimismo.
Balanços de 220 companhias
publicados até a semana passada mostram que nos primeiros
três trimestres deste ano essas
empresas faturaram R$ 368,6
bilhões e tiveram lucro líquido
de R$ 39,2 bilhões.
São recordes absolutos para
essa amostra, realizada para a
Folha pela Economática, empresa de consultas econômicas.
O lucro apurado entre essas
220 empresas, em nove meses,
foi 45,6% maior do que em
igual período de 2006. No ano,
a Bolsa paulista, em que as
ações dessas empresas são negociadas, subiu 37%.
Em 2007, houve também expressiva queda no endividamento das 220 empresas da
amostra (a despesa financeira
caiu de R$ 10,1 bilhões em 2006
para R$ 2,8 bilhões neste ano) e
aumento de 8% para 11% na
margem líquida de ganhos nos
negócios.
A redução no endividamento
esteve fortemente atrelada à
queda do dólar, cuja desvalorização acumula 14% no ano, reduzindo os passivos externos.
Os resultados finais de 2007,
que devem ser ainda mais robustos após as vendas do último trimestre, tendem a garantir fortes investimentos nos
próximos anos.
"Devemos ter um bom ano
em 2008, com aumento nos investimentos e clima de otimismo entre os empresários", afirma Armando Monteiro Neto,
presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
"O ano de 2007 foi excepcionalmente bom, e o de 2008
aponta como o melhor da história da empresa", afirma Marcel Malczewski, presidente da
empresa de automação de varejo Bematech.
A companhia foi uma das 91
que abriram capital nos últimos dois anos e, com R$ 406
milhões em caixa, partiu para
aquisições. Comprou quatro
empresas e pretende levar mais
quatro até o fim de 2008.
"Há uma tendência grande
de formalização no pequeno e
médio varejo e temos crescido
muito, principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste",
diz Malczewski.
Graças a investimentos como
esse, o setor privado aposta,
apesar de ter ressalvas, que o
mercado interno aquecido poderá compensar em boa medida um provável esfriamento da
economia internacional, com
considerável risco de uma recessão no maior mercado do
planeta, os EUA.
Levantamento realizado pelo BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) nos setores industrial e
de infra-estrutura, por exemplo, revela boa dose de otimismo com o futuro.
Os números e valores de novos empréstimos já analisados
e aprovados pelo banco estatal
confirmam, na prática, muitas
dessas expectativas.
Entre janeiro e outubro, o
BNDES aprovou mensalmente,
em média, 10% mais verbas (R$
7 bilhões ao mês) para empresas do que em 2006. O setor de
alimentos e bebidas, chave para
manter a inflação sob controle,
teve 45% mais empréstimos
aprovados em dez meses (R$ 6
bilhões) do que em 2006.
Mapeamento do BNDES
mostra que na área industrial
poderão ocorrer investimentos
13,2% maiores ao ano entre
2008 e 2011 na comparação
com o período 2003-06. O "estoque" de investimentos entre
os dois períodos saltaria de R$
124,6 bilhões (já realizados) para R$ 232 bilhões (previstos).
Já na infra-estrutura o aumento anual seria de 12,4%. O
"estoque" subiria de R$ 249,4
bilhões (2003-06) para R$ 447
bilhões (2008-11).
"O crescimento do mercado
interno é quem puxa esses investimentos", afirma Fernando
Puga, do BNDES.
A perspectiva desse crescimento interno parece inevitável para Teresa Vernaglia, presidente da AES Eletropaulo Telecom. A empresa vende a infra-estrutura de fibra ótica para
operadoras de telefonia e viu a
capacidade de sua rede, projetada para ser atingida em três
anos, alcançar o limite em um
ano e meio. Com isso, sua margem de lucro operacional, que
atingiu espantosos 59% em
2006, deve aumentar ainda
mais neste ano.
"Com a tendência de convergência, a demanda por banda
larga é cada vez maior", diz Vernaglia. "Não acredito que haja
crise externa que reduza a necessidade de ganho de escala
tanto de empresas quanto de
residências."
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