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Juiz e massa falida querem tela de Edemar
Para Justiça, obras adquiridas pelo ex-banqueiro devem ir para museus; massa falida cobra leilão e que dinheiro vá para credores
Para administrador da
massa falida do Banco
Santos, governo federal ou
estadual poderia compensar
os credores com precatórios
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Na última sexta-feira, o juiz
federal Fausto Martin de Sanctis enviou ao governo dos EUA
um pedido de repatriamento
do quadro "Hannibal", de Jean-Michel Basquiat, que pertenceu à coleção do ex-banqueiro
Edemar Cid Ferreira. A tela,
comprada por Edemar por US$
825 mil, foi apreendida pelo
FBI (a polícia federal dos EUA)
neste mês em Connecticut, onde estava à venda.
O que parece ser o fim de
uma novela que já dura dois
anos é apenas o começo de uma
outra disputa. A Justiça Federal e a massa falida do Banco
Santos têm planos distintos para o quadro do pintor americano: o juiz já determinou em
sentença que todas as obras de
Edemar devem ir para um museu, enquanto a massa falida
quer o dinheiro da obra para
ressarcir os credores do banco.
A Folha revelou em maio de
2005 que a tela de Basquiat
(1960-1988) estava fora do país
depois que a Justiça determinou o seqüestro das obras do
ex-banqueiro. A reportagem
informava que deixaram o país
outras nove obras, entre as
quais a mais cara da sua coleção, uma escultura do britânico
Henry Moore pela qual pagara
US$ 1,475 milhão em 2003. Esse lote de obras que saíram do
país vale cerca de US$ 5,5 milhões. Estavam no pacote justamente os trabalhos mais caros do ex-banqueiro.
Público x privado
Martin de Sanctis diz que, se
a obra de Basquiat vier para a 6ª
Vara Federal, da qual é o titular,
vai encaminhá-la para um museu. "Já determinei que todas
as obras de Edemar devem ir
para um museu. Não tem sentido esse quadro ficar restrito a
meia dúzia de pessoas." Numa
decisão inédita no Brasil, o juiz
distribuiu a museus mais de 10
mil obras do banqueiro. A própria casa do ex-banqueiro, projetada por Ruy Ohtake, deveria
ser convertida em museu, de
acordo com a decisão.
A massa falida do banco entrou com um pedido no STJ
(Superior Tribunal de Justiça)
para que o órgão decida quem
tem direito aos bens do banqueiro: a União, como decidiu o
juiz, por considerar que o crime
principal foi o de lavagem de dinheiro, ou os credores do banco. O pedido está há um ano no
STJ, sem que haja uma decisão
definitiva. O relator do pedido,
o ministro Castro Filho, aposentou-se sem tomar uma decisão. Uma liminar de dezembro
do ano passado determinou
que o juiz da 2ª Vara de Falências de São Paulo deve decidir
os pleitos mais urgentes.
Vânio Cesar Pickler Aguiar,
administrador da massa falida,
diz não ser contra o envio das
obras para museus, mas acha
que os credores têm direito a
receber ao menos parte dos recursos que perderam -o Banco
Santos, que quebrou há três
anos, deixou um rombo de R$
2,6 bilhões.
Aguiar diz que a retirada das
obras dos museus seria uma
medida impopular e de pouco
efeito prático para cobrir o
rombo. A coleção, na opinião
dele, vale de R$ 30 milhões a R$
50 milhões. Num eventual leilão, no qual as obras fossem
vendidas pela preço máximo,
não cobriria nem 2% do rombo.
Segundo ele, é preciso encontrar uma maneira criativa de
reparar os credores sem que os
museus precisem abrir mãos
das obras. Uma das idéias é o
governo federal ou estadual
compensar os credores com
precatórios (títulos que podem
ser negociados no mercado).
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