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EUA socorrem o Citi, 2º maior banco do país
Governo Bush injeta mais US$ 20 bi na instituição e decide bancar a maior parte de US$ 306 bi em créditos considerados "podres"
Inédito, tipo de resgate marca uma nova fase na intervenção do governo dos EUA no mercado financeiro; acordo anima os mercados
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Numa complexa operação financeira que livrou o segundo
maior banco dos EUA do desastre, o governo norte-americano
injetou US$ 20 bilhões no Citigroup e se comprometeu a honrar a maior parte de US$ 306
bilhões em papéis "podres". É a
segunda intervenção no mesmo banco, que em outubro levara outros US$ 25 bilhões, e a
terceira grande operação resgate no mercado em três meses.
Com isso, o governo se torna
o maior proprietário do banco,
segundo o executivo-chefe financeiro do Citigroup, com o
equivalente a 7,8% em ações,
seguido do príncipe saudita Alwaeed bin Talal, com 5%, e da
autoridade financeira de Abu
Dhabi (Emirados Árabes Unidos), com 4,9%. Extirpa ainda o
"banco podre", ao se comprometer a garantir a banda ruim
da instituição, lastreada em papéis cuja origem são financiamentos de má qualidade.
Em troca, Washington terá
entre outras coisas controle sobre os bônus dados aos executivos do banco e imporá limites
ao pagamento de dividendos
aos acionistas. A operação faz o
total gasto ou comprometido
em dinheiro público norte-americano na atual crise financeira encostar nos US$ 5 trilhões -ou quatro vezes o total
de riquezas produzidas pelo
Brasil em um ano. Só a garantia
de ativos ruins do Citigroup
equivale ao PIB da Dinamarca.
Como resultado direto da
operação e também do anúncio
da nova equipe econômica do
presidente eleito, Barack Obama, o índice industrial Dow fechou em alta de 4,9%, levado
pelo salto de 60% nas ações do
Citi, numa onda de efeitos positivos que tomou os mercados
do mundo inteiro -no Brasil, a
Bovespa subiu 9,4%, e o dólar
tem recuo de 5,4%.
O tipo de resgate anunciado é
inédito e marca uma nova fase
na intervenção do governo dos
EUA no mercado financeiro. A
primeira fase, em que o Tesouro prometia usar os US$ 700 bilhões aprovados pelo Congresso para comprar os títulos podres das instituições em dificuldades, nunca saiu do papel.
A segunda, em que o governo
injetou dinheiro direto nas empresas, levou quase a metade do
montante -foi a ocasião em
que o Citi, o JPMorgan e o
Wells Fargo, entre outros, receberam US$ 25 bilhões cada um.
A de ontem mistura as duas
operações de maneira mais refinada. "O governo aprendeu
com as experiências passadas",
disse Jason Goldberg, analista
do Barclays Capital.
Abre as portas, no entanto,
para que outras instituições financeiras venham bater na
porta do Tesouro em busca de
acordo parecido. E aumenta a
pressão já exercida por outros
setores da economia para que
recebam auxílio semelhante
-é o caso das três maiores
montadoras, que querem um
pacote de US$ 25 bilhões.
"Tomamos esse tipo de decisões no passado, tomamos na
noite passada [domingo] e, se
necessário, vamos tomar esse
tipo de decisão para proteger
nosso sistema financeiro no futuro", disse ontem o presidente
George W. Bush, falando nas
escadarias do Tesouro, em
Washington, ao lado do secretário, Henry Paulson.
Para o CEO do Citibank, Vikram Pandit, o aporte fortalece
o banco, e o acordo "mostra total confiança" na instituição.
Segundo maior banco dos EUA,
atrás do JPMorgan, o Citibank
tem US$ 2 trilhões em ativos,
mais de 200 milhões de clientes em 106 países e se encaixa
na categoria de instituições
qualificadas pelo governo como
"muito grandes para quebrar".
Ainda assim, o socorro federal não saiu fácil. Depois de ver
suas ações caírem mais de 60%
na semana passada, a pior marca em 16 anos, por conta de sua
exposição excessiva a papéis de
má qualidade originados na crise do "subprime", o banco apresentou um plano de resgate ao
governo na sexta à noite.
O Departamento do Tesouro,
o Fed (o banco central americano) e o FDIC (o órgão garantidor de depósitos bancários no
país) passariam as 48 horas seguintes em duras negociações
com os executivos. Um dos modelos era o acordo recente entre o governo suíço e o UBS.
Do Peru, onde estava em viagem, Bush era informado das
ações por telefone e informou o
presidente eleito, Barack Obama, que também monitorava a
negociação com o atual titular
do Tesouro, Henry Paulson, e
seu sucessor, Timoty Geithner,
atual presidente do Fed de Nova York.
Perto da meia-noite de domingo (3h de ontem de Brasília), chegou-se ao acordo, e o
Citigroup foi salvo. Agora, analistas aguardam para ver se o
efeito positivo nos mercados é
duradouro, como se espera, ou
fugidio, como aconteceu das últimas duas vezes.
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