São Paulo, segunda-feira, 25 de dezembro de 2000

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FINANCIAL TIMES

Parque finlandês se reestrutura para vencer Noruega, Suécia e Groenlândia no disputado mercado natalino

Papai Noel, em crise, demite ajudantes e corta gastos

Reuters
Papai Noel em seu trenó no norte da Finlândia; tradicional parque temático do país está em crise, com alto custo e poucos visitantes


NICHOLAS GEORGE
DO "FINANCIAL TIMES"

Os ventos frios da economia de mercado chegaram à caverna de Papai Noel na Lapônia finlandesa.
O jovial mensageiro da alegria para as crianças de todo o mundo foi obrigado a cortar custos, demitir alguns de seus assistentes e enfrentar uma questão de marca praticamente inédita.
O Santa Park (Parque Papai Noel), o nome pelo qual seu lar é conhecido, foi aberto dois anos atrás na cidade de Rovaniemi, Finlândia, na beira do Círculo Ártico.
No entanto o parque atraiu apenas metade dos 200 mil visitantes esperados por ano.

Falta de dinheiro
O esconderijo de Papai Noel está perdendo dinheiro e foi criticado por oferecer uma versão pouco imaginativa, plástica e dispendiosa da experiência natalina em forma de parque temático.
Sentado atrás do trono do Papai Noel, que fica em uma enorme caverna -na verdade um abrigo construído em caso de guerra nuclear-, o diretor-executivo do Santa Park, Aaro Lehtoniemi, sinaliza a necessidade de mudança.
O parque, que tinha a pretensão de se tornar um local tão visitado como outros também destinados a crianças, não tem conseguido cumprir as suas metas.

Poucos visitantes
"Custos demais e renda de menos. A explicação é assim simples, e a necessidade de mudar o conceito também", explica Lehtoniemi, que assumiu a direção do parque no ano passado.
Ele anunciou que está reduzindo o número de dias de funcionamento e que irá cortar a equipe permanente para um total de três a cinco funcionários. Atualmente o Santa Park conta com 10 empregados.
Outros gastos também terão de ser reduzidos, da quantidade de lâmpadas natalinas que elevam o custo da eletricidade ao marketing do Papai Noel.
Enquanto os pequenos vagões do passeio de helicóptero de Papai Noel chamam a atenção dos visitantes, Lehtoniemi apresenta uma nova visão para os negócios.
"O Santa Park será mais finlandês, mais singular, mais caloroso e com mais espírito. O Natal não é só Coca-Cola ho ho ho", explica ele.

Apoio ao Papai Noel
O principal investidor do Santa Park, o Ministério do Interior da Finlândia, apóia as mudanças.
De acordo com Henrik Raiha, funcionário do ministério, "o plástico e essas coisas" (referindo-se ao estilo visual do parque) podem atrair os visitantes anglo-saxões, mas ele não se enquadra aos ideais nórdicos.
O conceito precisa se basear muito mais "em nossas tradições nacionais", explica ele.
Mas as tradições locais representam um problema a mais para os negócios. A crença de que só pode existir um Papai Noel de verdade força o ator que o representa a se deslocar do parque à aldeia de Natal.
Como resultado, o Santa Park fica sem Papai Noel por diversas horas a cada dia. Para enfrentar o problema, as duas atrações rivais concordaram em adotar uma política de marca comum. "Desenvolveremos o perfil de Papai Noel e todos adquiriremos os serviços de Papai Noel da mesma empresa, com o objetivo principal sendo o de Papai Noel sempre ter a mesma aparência", diz Lehtoniemi.
Noruega, Suécia e Groenlândia também alegam ser o lar de Papai Noel, mas os finlandeses estão determinados a superar os intrusos.
Os papais noéis finlandeses boicotam o congresso internacional de papais noéis realizado todo ano na Dinamarca, e uma Fundação Papai Noel foi criada em Helsinque para "salvar Papai Noel" para a Finlândia.
A fundação, uma organização sem fins lucrativos, é apoiada por diversas das maiores empresas do país e criou um logotipo para o Papai Noel -no qual ele aparece com a mão estendida, dando a elas um lugar onde colocar seus produtos.
Matti Lipponen, agente da fundação, descarta as acusações de comercialização. "É impossível alegar que o Papai Noel não tenha nada a ver com negócios. Ele foi comercializado muito tempo atrás", afirma.

Marketing estratégico
Em Rovaniemi, o Natal é um setor econômico importante.
Vinte e um aviões fretados pousaram no pequeno aeroporto da cidade na semana passada. Segundo Angus Barr, organizador de excursões para a agência britânica de viagens Transun, a empresa trará 12 mil pessoas à cidade até o final de dezembro, ante 8,6 mil que chegaram no ano passado.
A região agora está solicitando verbas à União Européia para desenvolver o "triângulo do Natal", que abrange o aeroporto de Rovaniemi, a aldeia de Natal e o Santa Park.
De acordo com Lehtoniemi, a meta é criar mil novos empregos, a maior parte deles no Parque Tecnológico do Papai Noel, em construção perto do aeroporto.
Na verdade, Papai Noel já aderiu à nova economia e sua caverna é a sede de uma empresa iniciante de vídeo digital, a Joulupukki TV, cujo site santatelevision.com exibe uma novela baseada nos duendes, em inglês, e oferece dicas sobre comida e brinquedos.
Tommi Lappalainen, o vice-presidente da empresa, diz que sua meta é desenvolver produtos para o mercado japonês de mídia móvel.
"A cada manhã você receberia uma nova história sobre os duendes em seu celular", diz ele. Lappalainen espera também formar uma aliança com um laboratório de observação espacial próximo para que possa enviar imagens ao vivo do espetacular crepúsculo setentrional para diversos celulares.
Talvez os usuários até consigam vislumbrar Papai Noel em seu trenó. Em meio a um clima econômico cada vez mais severo, talvez as receitas do serviço ajudem Papai Noel a evitar uma aterrissagem dura para seus negócios.


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