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FINANCIAMENTOS
Banco libera R$ 159 bi nos anos FHC; região mais rica do país e grandes indústrias abocanham maior fatia
BNDES prioriza Sudeste e grandes empresas
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Durante os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso,
o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) terá liberado R$ 159 bilhões
em financiamentos para investimentos na economia.
Esse valor equivale a cerca de
12% do PIB (Produto Interno
Bruto) do país neste ano, estimado em R$ 1,348 trilhão.
Com recordes obtidos ano a ano
no seu orçamento, os desembolsos do banco no governo FHC aumentaram quase cinco vezes. Saltaram de R$ 7 bilhões em 1995 para mais de R$ 32 bilhões em 2002.
Apesar de toda essa montanha
de dinheiro, a distribuição de recursos do banco ainda continua
muito concentrada nas grandes
empresas e na região Sudeste (São
Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo).
"O BNDES continua sendo o
banco da grande empresa", diz
Clarice Messer, diretora do Departamento de Pesquisas da Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Dos R$ 159 bilhões de financiamentos concedidos nos oito anos
do governo FHC, 81% foram destinados às grandes empresas, apesar de o banco ter definido, em
seu programa estratégico, a pequena empresa como uma de
suas prioridades.
Sudeste lidera
Durante esses oito anos, a diferença até aumentou um pouco.
Em 1995, as grandes empresas absorviam 77,7% do total dos recursos do banco. Neste ano, o volume saltou para 78,6%.
Nesse mesmo período, o dinheiro para as pequenas e médias
empresas caiu. Em 1995, do total
de desembolsos do BNDES,
22,2% foram para as pequenas e
médias empresas. Em 2002, a participação caiu para 21,4%.
A economista Lia Valls Pereira,
coordenadora de projetos do Instituto Brasileiro de Economia da
FGV (Fundação Getúlio Vargas),
observa que uma grande dificuldade do BNDES é financiar as exportações para as pequenas e médias empresas.
Uma idéia que pode facilitar o
acesso das pequenas e médias é o
banco incentivar a criação dos
chamados "clusters", que são industriais formados em determinadas regiões voltados para a exportação.
A concentração dos financiamentos para a região Sudeste é
outra marca que chama a atenção
na análise dos números do
BNDES sob o governo FHC. No
primeiro ano do governo, em
1995, 48% dos financiamentos se
dirigiam para o Sudeste. Em 2002,
último ano do governo, o volume
aumentou para 65%.
"Há ainda um longo caminho a
percorrer em termos de distribuição regional dos financiamentos", diz Clarice Messer.
Parte menor à indústria
Na radiografia dos números do
BNDES durante o governo FHC,
chama a atenção também a queda
da participação da indústria nos
financiamentos do banco. Em
1995, a indústria representava
57,4% dos empréstimos do
BNDES. Neste ano, o setor terá
absorvido 48,4% do total dos financiamentos.
Esses números desmentem a tese de que o BNDES seria o banco
da indústria. Durante um bom
tempo, nas décadas de 60 e de 70,
o BNDES funcionou como o principal agente financiador da industrialização brasileira. Foi nesse
período que se consolidaram os
grandes grupos industriais brasileiros.
Nos últimos anos, pelos números do BNDES, os setores que
mais têm elevado sua participação são a agropecuária, a infra-estrutura, o comércio e os serviços.
"A indústria deixou de ser uma
prioridade do BNDES", diz Clarice Messer. "Ao BNDES foram incorporadas novas funções", diz
Flávio Castello Branco, economista-chefe da CNI (Confederação Nacional da Indústria).
No governo FHC, a indústria,
ainda que continue como o carro-chefe da economia, foi obrigada a
dividir a importância no BNDES
com outros setores. A privatização obrigou a economia a fazer
vários investimentos em infra-estrutura.
Área social perde
Ao mesmo tempo, a década de
90 assistiu também à construção
de muitos shopping centers,
grande parte deles financiados
pelo BNDES, o que fez com que o
banco aumentasse bastante seus
desembolsos para o comércio e os
serviços.
Mesmo assim, a indústria ainda
foi o setor que mais recebeu recursos do BNDES durante os anos
FHC. Nesses oito anos, o banco
destinou R$ 70,4 bilhões para o
setor. Ou seja, 46,2% do total de financiamentos do banco.
Outra área anunciada como
prioridade do banco, mas cujo
desempenho, em termos de desembolsos, ficou bem abaixo das
expectativas, foi a social. Depois
de ter dado um salto de R$ 650
milhões em 1996 para cerca de R$
1,5 bilhão durante dois anos seguidos, em 1997 e em 1998, os recursos para a área social no
BNDES caíram significativamente durante os quatro anos do segundo mandato de FHC.
Os financiamentos para investimentos sociais ficaram em cerca
de R$ 1 bilhão a R$ 1,2 bilhão
anuais durante os últimos quatro
anos. Ou seja, na faixa de 3,5% do
orçamento do banco.
A meta prevista pelo BNDES em
seu programa estratégico é de, a
partir de 2005, a área social consumir recursos correspondentes a
R$ 5 bilhões, marca ainda muito
distante dos objetivos do BNDES,
pelo menos neste governo.
Uma empresa, individualmente, foi a grande beneficiada no governo FHC: a Embraer. Privatizada em dezembro de 1994, ela recebeu praticamente a totalidade dos
R$ 15,77 bilhões emprestados pelo banco ao setor de equipamentos de transportes (exceto veículos automotores) nos últimos oito
anos.
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