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EMPRESAS
Samsung contesta lei que a obriga a investir em pesquisa e desenvolvimento
STJ decide política de tecnologia
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Superior Tribunal de Justiça
(STJ) pode definir a qualquer momento parte da política de investimentos em tecnologia do Brasil.
Está nas mãos do vice-presidente
do STJ, ministro Edson Vidigal, o
poder de acabar com uma polêmica referente à produção de celulares.
Até 2000, esses produtos não
eram considerados bens de informática, e assim seus fabricantes
estavam desobrigados de investir
5% da receita em pesquisas e desenvolvimentos de novas tecnologias.
A nova legislação, elaborada em
2001, reverteu a situação. Mas a
empresa Samsung, um dos maiores grupos de informática do
mundo, que fatura cerca de US$
320 milhões ao ano no país, se rebelou contra a nova lei de informática e não têm investido o dinheiro em desenvolvimento e
pesquisa. Vem recorrendo da decisão na Justiça.
O secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio do governo do
presidente Fernando Henrique
Cardoso, Benjamin Sicsu, diz à
Folha que a inclusão dos celulares
na lista de produtos de informática faz parte da política do governo
de adequar o país aos novos rumos da tecnologia.
"Os celulares funcionam com
tecnologia digital. Oferecem mais
serviços do que apenas telecomunicações, como agenda eletrônica", afirma Sicsu. Segundo ele, todo produto que tiver um chip embutido tenderá a ser enquadrado
na nova lei de informática. "Em
breve, será o caso dos televisores
digitais."
Recursos
A Suframa (Superintendência
da Zona Franca de Manaus) tem
registrado forte crescimento nos
investimentos em pesquisa e desenvolvimento no pólo de informática da Amazônia. Em 1996, foram apenas R$ 12 milhões. Em
2000, o número saltou para R$ 113
milhões. Neste ano, pode chegar a
cerca de US$ 150 milhões (o pólo
de informática deve faturar cerca
de US$ 3 bilhões).
A nova lei de informática determina que 5% da receita das indústrias do setor sejam destinados a
pesquisas e desenvolvimentos de
tecnologias (2,7% em investimentos internos, e 2,3% em fundos ou
institutos de pesquisa).
A Samsung, que tem uma fábrica com capacidade para produzir
1,5 milhão de celulares por ano,
faturou US$ 320 milhões no ano
passado. Em 2002, sua divisão de
celulares deve responder por cerca de 40% da receita total da empresa no país.
A empresa também fabrica em
Manaus monitores e discos rígidos. Tem recorrido à Justiça para
não investir 5% da sua receita
com celulares em pesquisa e desenvolvimento.
A Samsung afirma que sua divisão de celulares iniciou as atividades em 1999, antes da nova lei de
informática. Portanto, estaria
imune à legislação. A companhia
já sofreu várias derrotas na Justiça
sobre o caso. Atualmente, tem um
recurso extraordinário no STJ.
Atualmente, a Suframa está justamente criando o Comitê das
Atividades de Pesquisa e Desenvolvimento da Amazônia. Pretende direcionar melhor o dinheiro
das indústrias de informática.
Os celulares devem ser uma excelente fonte de receita. O Brasil
tem atualmente 33,2 milhões de
aparelhos em atividade. Somente
entre janeiro e novembro deste
ano, cerca de 4,5 milhões de unidades entraram em operação.
Indústrias como a Nokia, que
também estavam instaladas em
Manaus antes de 2001, não recorreram à Justiça quanto à obrigatoriedade de investir 5% do faturamento em pesquisa e desenvolvimento. Uma decisão favorável do
STJ à Samsung pode reverter essa
situação. O STJ já rejeitou uma
medida cautelar da companhia
sobre o assunto.
Procurada pela Folha, a Samsung não quis comentar o caso. A
secretária da política de informática do Ministério da Ciência e
Tecnologia, Vanda Scartezini,
afirma que nenhuma empresa de
informática fora da Zona Franca
de Manaus contestou a nova legislação do setor.
"O fato de empresas como a
Samsung não estarem investindo
em pesquisa e desenvolvimento
prejudica concorrentes fora de
Manaus, que estão instalados
mais ao sul do país."
Segundo ela, empresas que não
investem os 5% em pesquisa e desenvolvimento acabam tendo
produtos mais competitivos do
que aqueles que cumprem a legislação. A Motorola, por exemplo,
tem sua fábrica de celulares instalada em Jaguariúna, no interior de
São Paulo.
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