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LUÍS NASSIF
Proposta para uma política energética
O trabalho "Ciclo de Reflexões Estratégicas Sobre
Temas Centrais da Área de
Energia", preparado pela BR
Distribuidora, é documento relevante para repensar a matriz
energética brasileira. Durante
meses, a BR reuniu representantes de várias áreas para uma
discussão objetiva sobre o tema,
ainda à cata de um modelo. Definiram-se temas centrais e, para evitar dispersão, identificaram-se questões-chaves iniciais
e definiram-se propostas objetivas para resolver a questão. A
BR recebeu os "inputs" de cada
área e definiu a sua própria proposta para cada tema.
Um exemplo desse trabalho
diz respeito ao álcool. A questão-chave é a dificuldade de garantir um suprimento estável do
álcool, devido ao fato de as usinas reverterem sua produção
para açúcar, produto que tem
mais liquidez e, portanto, mais
facilidades de financiamento.
A partir desse diagnóstico, a
solução proposta consiste em estimular os contratos futuros para que se transformem efetivamente no principal instrumento
de comercialização do álcool,
garantindo rentabilidade ao
produtor e assegurando o abastecimento. O papel do governo
seria o de fiador de mudanças
no sistema de operações da Bolsa de Mercadorias & Futuros
que assegurem a credibilidade
dos contratos negociados.
Além disso, é necessário uniformizar as alíquotas do ICMS
do setor, principal fonte de sonegação do mercado do álcool. Finalmente, é preciso haver ação
integrada juntando governo e
os demais agentes do mercado
para dar suporte a um trabalho
institucional e comercial, em nível internacional, para transformar o álcool numa commodity
energética.
O segundo tema de análise foi
o do mercado de distribuição de
derivados. É um mercado de
R$ 100 bilhões/ano, que se caracteriza principalmente pela
escala, já que as margens de comercialização são pequenas. O
trabalho constata que internacionalmente é um segmento
com poucos "players", que exige
capilaridade de rede e investimentos permanentes na manutenção da qualidade de produtos. No Brasil, o mercado é pulverizado por 234 empresas distribuidoras cadastradas na
Agência Nacional de Petróleo,
grande parte das quais atuando
à margem da lei devido à alta
tributação do setor e a uma legislação que permite manobras.
Por outro lado, as regras
atuais não permitem a livre relação entre os agentes econômicos. As refinarias, por exemplo,
não podem vender aos grandes
consumidores, postos não podem comprar diretamente de
refinarias e distribuidoras não
podem operar postos.
O aparato legal é constantemente questionado no judiciário, inibindo a ação dos agentes
reguladores. Se for detectada
uma fraude em uma bomba de
combustível de um posto que
pertença a uma rede, só a bomba específica poderá ser lacrada.
As propostas são, inicialmente, permitir a livre relação entre
os agentes, de modo a gerar ganhos econômicos para eles; rever
o atual aparato regulatório, de
modo a permitir a efetividade
de atuação dos órgãos fiscalizadores; rever com a maior urgência a política tributária incidente sobre os combustíveis, estabelecendo valor unificado para o
ICMS; desestimular a adulteração e a sonegação de produtos
concorrentes. Por exemplo, os
solventes usados na adulteração
devem ter carga tributária similar à da gasolina e do diesel.
E-mail -
lnassif@uol.com.br
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