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TERRA EM TRANSE
Desempenho dos países europeus decepciona; China oferece potencial, mas importações do país são baixas
Para analistas, EUA terão que liderar recuperação global
DANIEL ALTMAN
DO "THE NEW YORK TIMES"
Na eleição quanto ao país que
tem mais chance de conduzir a recuperação econômica mundial,
só há um candidato recebendo
votos: os EUA.
Não importa que o crescimento
do país seja apenas moderado
neste ano, com expectativas semelhantes para 2003. Reino Unido, França, Alemanha e Japão tiveram, todos, desempenho ainda
pior. Apenas a China vem emergindo como um desafio formidável, mas seu momento de apogeu
pode demorar alguns anos.
"Há pouca chance de que tenhamos uma recuperação mundial liderada por alguém diferente
dos EUA", disse Kermit Schoenholtz, economista-chefe do Salomon Smith Barney. As economias
européias vêm apresentando desempenho inferior ao esperado ao
longo de todo o recente ciclo econômico. O claudicante Japão, que
no passado contribuiu para a expansão da economia mundial, até
que entrou em depressão no começo dos anos 90, continua a retardar o crescimento asiático,
acrescenta Schoenholtz.
Entre os países mais ricos, apenas Canadá e Austrália crescerão
mais rápido que os EUA em 2002
e 2003, de acordo com a maioria
das projeções. Mas suas economias são pequenas demais para
que eles arrastem o resto do mundo por meio de investimento em
indústrias no exterior e da importação de bens e serviços. Combinadas, as duas economias equivalem a apenas um sétimo da norte-americana.
A falta de crescimento acelerado no Japão e na Europa Ocidental é fonte de consternação para
John Taylor, subsecretário do Tesouro dos EUA para assuntos internacionais. "Todos os países do
mundo deveriam crescer mais rápido do que os EUA", diz.
Más decisões políticas retardaram muitas das maiores economias, explica Taylor. "O Banco do
Japão tornou as condições para o
crescimento muito difíceis", afirma. Sem que a espiral de queda de
preços seja detida, diz, não se pode esperar que o país reviva.
A Alemanha, prossegue Taylor,
não conseguira reproduzir os ganhos norte-americanos em produtividade, a quantidade de bens
e serviços que um dado número
de trabalhadores é capaz de gerar
em um período determinado de
tempo. Criticou ainda as restrições a contratações e demissões,
dizendo que elas dificultam a resposta da economia alemã às mudanças.
Modelo imperfeito
Alemanha, França e os demais
países que adotaram o euro como
moeda talvez também estejam
sendo prejudicados por uma política monetária conservadora, diz
David Dodge, o presidente do
Banco Central do Canadá. "Obviamente, eles estão funcionando
muito abaixo de sua capacidade",
afirma. O economista sugere que
o Banco Central Europeu (BCE)
poderia reduzir as taxas de juros
sem aumentar a ameaça de inflação, mas lamenta as imperfeições
do sistema regional. "Temos uma
política monetária severa demais
para a Alemanha e frouxa demais
para a Irlanda."
Ainda que haja apenas letargia
do outro lado do Atlântico, do outro lado do Pacífico há um vislumbre de esperança, que pode se
inflamar. "Existe outro grande
propulsor de crescimento lá na
Ásia", diz Gerard Kleisterlee, presidente da Royal Philips Electronics, da Holanda. "Trata-se da
China."
Números oficiais sobre o crescimento econômico chinês vêm variando entre 7% e 8%, ajustados
pela inflação, já há alguns anos.
Em termos de dólares, a economia chinesa equivale a um nono
da norte-americana. Se ajustada
pelas diferenças entre os preços
relativos, equivale a cerca de metade da economia dos EUA.
Os maiores parceiros importadores da China são Japão, Taiwan,
Coréia do Sul e EUA. Mas as importações respondem por 5% do
PIB chinês, enquanto nos EUA
respondem por 11%, e os padrões
de vida chineses são apenas um
oitavo dos norte-americanos. A
China talvez ainda não esteja preparada para alimentar o crescimento econômico no exterior,
mas empresas de todo o mundo já
começam a se aproveitar do potencial de crescimento de seu
mercado.
Carlos Ghosn, presidente da
Nissan, diz que a demanda chinesa por veículos a motor vem crescendo mais rápido do que qualquer um poderia esperar. Mais de
3 milhões de unidades foram vendidas neste ano, e as vendas da
Nissan subiram 80%. Por volta de
2010, prevê Ghosn, a China estará
comprando 5 milhões de veículos
ao ano.
Emergentes
Com a admissão da China na
OMC (Organização Mundial do
Comércio), ingressar no mercado
do país deve se tornar mais fácil.
Mas Ghosn adverte que as empresas que ainda não têm boas relações com o governo chinês talvez
encontrem dificuldades.
Além de destacar a China, Kleisterlee diz que a Philips está desenvolvendo novos produtos para a
Índia e outros mercados com
classes médias em expansão.
Ghosn diz que o Irã e o Iraque,
que ele espera se tornem democracias voltadas ao comércio, ainda demorarão para entrar nesse
grupo. O Brasil, apesar das dúvidas a respeito do novo governo,
também poderia apresentar
oportunidades valiosas assim que
sua economia se estabilizar, afirma Dodge. Por pelo menos mais
dois anos, porém, o ônus da liderança econômica mundial cabe
claramente aos EUA. Esse papel
pode ter seus custos.
O déficit comercial, que vem subindo há uma década e bate novos recordes a cada ano, só pode
aumentar, caso os EUA continuem importando aceleradamente e mantenham sua posição
como destino preferencial do investimento estrangeiro. Se a alegação de Taylor de que todo país
deveria crescer mais rápido que
os norte-americanos um dia se
realizar, essa situação decerto
mudará.
Dólar fraco?
Quando isso acontecer, o que
pode demorar, os estrangeiros
preferirão aplicar seu capital financeiro em outro lugar. Os EUA
perderão uma fonte crucial de financiamento de investimento e
terão de poupar mais, em lugar de
consumir mais, para manter o
crescimento.
Com menos demanda por ações
e títulos do governo norte-americanos, haverá menos demanda
pelos dólares necessários a comprá-los. O dólar, portanto, perderá terreno nos mercados de câmbio. Ainda que um dólar mais fraco possa estimular as exportações, pode também causar altas
de preços nos EUA, o que levaria
o Federal Reserve (banco central
norte-americano) a segurar a economia por um período prolongado. Mas à medida que os estrangeiros passaram a adquirir bens e
serviços norte-americanos, em
lugar de papéis, o déficit comercial desaparecerá.
Ghosn, cuja empresa está sediada no Japão, diz não se preocupar
com essa possibilidade, devido à
capacidade de produção da Nissan nos EUA. Se o dólar desabar,
o custo de um carro produzido
nos EUA não mudará muito.
Walter B. Wriston, ex-presidente do Citicorp, vai um passo além.
O déficit comercial, diz, é "um dos
dois números que quer dizer menos", junto com o déficit público.
Tradução de Paulo Migliacci
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