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MERCADO FINANCEIRO
Segundo analistas, ainda vai demorar para o BC constatar se a inflação se mostrará mais estável
Juros podem estacionar por até três meses
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A parada "estratégica" na redução dos juros pode durar de dois a
três meses, segundo analistas do
setor financeiro.
Depois do susto provocado na
quarta-feira passada pela decisão
do Copom (Comitê de Política
Monetária) de manter os juros
básicos em 16,5%, economistas
afirmam que, por coerência, o
Banco Central sustentará a posição por mais algum tempo.
A autoridade monetária alegou,
em nota após a reunião, ter interrompido o ciclo de queda dos juros "considerando que os efeitos
do corte de dez pontos percentuais na taxa Selic nos últimos
meses ainda não se refletiram integralmente na economia."
"Eles vão parar três meses", diz
Hugo Penteado, economista-chefe do ABN Amro Asset Management. "Não vai dar para ver se a
inflação se mostrará estável mais
para a frente em só 30 ou 60 dias."
"Três meses é tempo demais",
afirma Jorge Simino, da MS Consult, com relação à freada na redução de juros. Ele concorda, porém, que, em 30 dias, o BC não teria ainda como fazer a avaliação
mencionada na nota do Copom.
"Em março, o efeito da pressão
baixista dos preços dos alimentos
já seria mais visível sobre a inflação", diz Simino. Em dois meses,
segundo ele, a queda de preços
agrícolas deve se intensificar.
Até há três meses comentava-se
que em janeiro o BC cessaria os
cortes para ver os efeitos da política monetária. Mas, desde novembro, quando acelerou o ritmo da
queda, ao cortar 1,5 ponto percentual, não se falou mais nisso.
Segundo economistas, imaginava-se que a freada ocorreria mais
para a frente, em razão de metas
de inflação apertadas e da tentativa de recomposição de margens
por parte de alguns setores, como
a indústria cimenteira, petroquímica e siderúrgica. Esse setor reajustou preços em janeiro -mês
em que isso nunca aconteceu.
"A tentativa de repassar preços
é cíclica. Sempre ocorre no começo do ano. Eles vão tentar, mas
não serão totalmente bem-sucedidos", diz Simino.
Para Penteado, a cautela demonstrada pelo Copom é "necessária, mas poderia ter esperado e
continuado a reduzir os juros."
Com o reajuste de 7,8% dos preços administrados previsto para o
ano, os preços livres teriam de cair
(de 8,1% para 4,5%) para que a
meta de inflação de 5,5% fosse
cumprida, segundo analistas.
Os preços livres (de bens comercializáveis e de não-comercializáveis, como serviços) representam 70% dos índices de inflação.
"A previsão de alta de 7,8% dos
preços administrados tem a premissa de que nada de ruim vai
acontecer. Um cenário de Papai
Noel e coelhinho da Páscoa", diz
Penteado. "O BC tem uma margem pequena de manobra e agiu
preventivamente."
Em 2003, a apreciação do câmbio e a demanda fraca contribuíram para a queda da inflação.
Neste ano, porém, segundo economistas, esses dois fatores não
estarão mais presentes.
O câmbio não deverá cair abaixo de R$ 2,85, e a economia, dizem economistas, se reaquecerá.
"É a recuperação mais forte, se
comparada a períodos semelhantes da história do país. O reflexo
no varejo deverá aparecer em
meados do segundo trimestre,
quando renda e emprego começarão a mostrar efeitos da queda
de juros. Mas excesso de demanda o país nunca viu. Só choques
de oferta", afirma Penteado.
A divulgação da ata da última
reunião do Copom, prevista para
quinta, é o evento mais aguardado nesta semana. Analistas esperam poder entender melhor o que
motivou a decisão do BC.
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