|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Justiça dá liminar contra regra trabalhista
Empresas desaprovam as novas regras do governo que buscam punir quem não investe em segurança no trabalho
Multiplicador a ser aplicado em contribuição de seguro contra acidente de trabalho elevará arrecadação em
R$ 5 bilhões, estima a CNI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Empresas e entidades de setores patronais, como o Sinditêxtil (sindicato paulista da indústria têxtil), começam a obter liminares da Justiça para
escapar das novas regras para o
cálculo da contribuição ao RAT
(Riscos Ambientais do Trabalho) -antigo Seguro Acidentes
do Trabalho-, que passaram a
vigorar a partir deste mês.
Essa contribuição incide sobre a folha de pagamento e é cobrada de cerca de 1 milhão de
empresas em todo o país. Estimativa do Ministério da Previdência é de uma arrecadação de
R$ 8,1 bilhões com essa contribuição no ano passado e de uma
despesa de R$ 14,2 bilhões.
Com o objetivo de premiar as
empresas que investem na segurança do trabalho e de punir
as menos preocupadas com
prevenção de acidentes e doenças ocupacionais, o Conselho
Nacional de Previdência Social
criou o FAP (Fator Acidentário
de Prevenção), um multiplicador, que varia de 0,5 a 2, para
ser aplicado sobre alíquotas de
1%, 2% e 3% da contribuição ao
RAT incidente sobre a folha de
salários das empresas.
Essas alíquotas de 1%, 2% e
3% são estabelecidas a setores,
considerando o risco que oferecem aos trabalhadores. E o FAP
-criado pela lei 10.666 de 2003
e regulamentado por decretos,
portarias e resoluções- é determinado a cada empresa e varia de acordo com os registros
de doenças, acidentes e mortes
no ambiente de trabalho.
Projel Engenharia Especializada Ltda, Fresenius Hemocare Brasil Ltda (produtos médicos e hospitalares), Coats Corrente Ltda (têxtil) e Caliendo
Metalurgia e Gravações Ltda.
são exemplos de empresas que
obtiveram liminares da Justiça
para não adotar o FAP.
O Sinditêxtil obteve liminar
em favor de 108 empresas associadas durante plantão judiciário em dezembro e espera a
confirmação. A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo) também entrou
com pedido de liminar na Justiça e aguarda decisão.
Para empresas e entidades
que foram à Justiça, não ficou
transparente como o ministério definiu os setores que pagam 1%, 2% e 3% de contribuição ao RAT e como estabeleceu
o multiplicador a ser aplicado a
cada empresa. O ministério não
teria divulgado o ranking de setores que oferecem mais e menos riscos aos empregados, o
que, para elas, é outra falha.
"Essas novas regras têm problemas. A maioria das entidades passou a pagar alíquota
maior sem saber a razão. A
Fiesp pagava alíquota de 1% e
agora pagará 3%. A federação já
recorreu à Justiça contra o
RAT e o FAP", diz Hélcio Honda, diretor titular do Departamento Jurídico da Fiesp.
A liminar favorável à Projel
foi concedida pelo juiz federal
José Henrique Prescendo, da
22ª Vara Federal de São Paulo.
"A alíquota determinada para o setor da Projel é de 3%, e o
FAP, de 1,64, o que significa que
a contribuição da empresa, que
era de 3%, passou para quase
5% sobre a folha de pagamento.
A empresa, no entanto, só registrou dois afastamentos por
doença de trabalho e nenhum
acidente no período considerado (abril de 2007 a dezembro
de 2008). A ideia do FAP é boa,
só que ninguém sabe como são
feitos os cálculos", diz Juliano
Di Pietro, advogado da Projel.
A liminar favorável à Fresenius Hemocare foi concedida
pelo juiz federal substituto
Douglas Camarinha Gonzales,
da 7ª Vara Federal de São Paulo; a da Coats, pelo juiz federal
João Batista Gonçalves, da 6ª
Vara Federal de São Paulo.
Emerson Casali, gerente executivo de Relações do Trabalho
da CNI (Confederação Nacional da Indústria), diz que a confederação é favorável à filosofia
de premiar quem investe em
saúde e segurança no trabalho e
de onerar quem não investe.
"Só que, na prática, as novas
regras não foram nessa direção.
O RAT aumentou para dois terços dos setores, até para as empresas que não têm registro de
acidente de trabalho. Foi criada
uma fórmula para reduzir o
desconto para quem não registrou acidente", afirma.
A CNI estima aumento de R$
5 bilhões na arrecadação com a
contribuição ao seguro acidente neste ano com as novas regras. "A arrecadação deve chegar a R$ 13 bilhões neste ano,
sendo que o governo disse que
não iria elevar encargos das
empresas com as mudanças."
Texto Anterior: Desenvolvimento: Coutinho quer mais investimento em inovação Próximo Texto: Governo cita alta em acidentes e decide recorrer Índice
|