São Paulo, quinta-feira, 26 de fevereiro de 2004

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EUA vêem expansão de fusões e aquisições

CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK

Impulsionado pela retomada da economia americana, o mercado de fusões e aquisições nos EUA está em expansão.
Em janeiro deste ano, houve 632 anúncios de negociações no setor contra 590 no mesmo período de 2003. Traduzindo em números, esses projetos somam US$ 84 bilhões ante US$ 26 bilhões do ano passado, segundo dados da consultoria Thomson Financial.
Um dos exemplos mais emblemáticos no aquecimento do mercado de fusões e aquisições foi visto na semana passada. A norte-americana Cingular Wireless acertou a aquisição da AT&T Wireless por US$ 41 bilhões. A transação criará o maior grupo de telefonia celular dos EUA.
O interesse da companhia de televisão a cabo Comcast em comprar o grupo Disney por US$ 66 bilhões também é considerado como termômetro da tendência.
Para Andrew Hodge, economista da consultoria Global Insight, a recente onda de fusões e aquisições é sustentada pelos níveis historicamente baixos dos juros, que proporciona a contratação de empréstimos baratos. A taxa básica de juros dos EUA está em 1%.
"Vemos uma retomada nesse setor, mas não é selvagem ou insustentável", disse.
Antonio Caggiarno Filho, sócio da área de fusões e aquisições da Deloitte Touche Tohmatsu, também vê com otimismo moderado a atual fase do mercado. "Ainda é cedo para dizer que é um "revival". Tomara que sim, mas acredito que seja uma recuperação cíclica. Esse mercado foi muito mal em 2001 e 2002, depois do estouro da bolhas das ações de tecnologia e dos atentados terroristas de setembro de 2001", afirmou.
De acordo com recente relatório da Thomson Financial, a recuperação do mercado de capitais americano em 2003, com forte emissão de bônus corporativos, é outro fator que explica o dinamismo do setor. Fortalecidas por novos financiamentos, as empresas tiveram mais recursos para sair à caça de negócios.
A revitalização das transações de fusão e aquisição nos Estados Unidos está inserida num contexto mundial. Dados da Thomson Financial mostram que, em termos globais, o setor cresceu 10% em 2003 em relação ao ano anterior. A cifra dessas negociações chegou a US$ 1,3 trilhão no ano passado.
Para 2004, as consultorias ouvidas pela Folha projetam expansão, mas nenhum dos economistas quis projetar o tamanho dessa taxa de crescimento.
Mesmo na Europa, que apresenta um estilo de negociação menos agressivo que o americano, o reaquecimento desse mercado forma transações bilionárias. No mês passado, a Sanofi-Synthélabo, gigante francesa do setor farmacêutico, ofereceu US$ 68,7 bilhões pela concorrente Aventis.
Para Bruce Greenwald, professor da Columbia Business School, essa onda de fusões é "loucura", pois os preços das ações estão muito altos. Dean Baker, do Cepr (sigla em inglês para Centro de Pesquisa Econômica e Política), afirma que média histórica da relação de retornos sobre os preços das ações é de 15 para 1. Hoje, está em torno de 24 para 1.

Setores em alta
A exemplo da aquisição do FleetBoston Financial pelo Bank of America em 2003, o setor dos bancos comerciais deve ser a vedete em 2004. A Global Insight também antevê fusões na área de produtos médicos. "Isso já está em andamento, mas não são grandes negociações. Nesse caso, são grandes empresas que compram pequenas empresas que estão crescendo", afirmou Hodge.
No caso do Brasil, segundo a Deloitte Touche Tohmatsu, as áreas de agronegócios e siderurgia, sustentadas pela alta dos preços das commodities no mercado mundial, devem liderar as transações de fusões e aquisições.


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