São Paulo, sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

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Fed contesta ação de banco na Grécia

BC dos EUA diz que vai investigar papel de Goldman Sachs e outras instituições na crise da dívida grega

Bancos criaram em 2009 índice que permite a investidores apostar na possibilidade de quebra da Grécia e de outros europeus

DA REDAÇÃO

O presidente do banco central dos EUA (Fed), Ben Bernanke, disse que a entidade vai examinar o papel do Goldman Sachs e de outros bancos de Wall Street em acordos financeiros que teriam ajudado o governo grego a esconder a dívida pública crescente. Por esses mesmos acordos, bancos e fundos de hedge estariam apostando em um calote grego.
"Estamos olhando uma série de questões relacionadas com o Goldman Sachs e outras companhias e seus acordos de derivativos", disse, em depoimento no Senado americano. "Usar esses instrumentos de maneira que desestabiliza intencionalmente uma empresa ou um país é contraprodutivo."
Em 2001, o Goldman Sachs ajudou o governo grego a pegar emprestado bilhões de dólares sem que esse dinheiro acabasse aparecendo no deficit do país.
Isso ocorreu porque o banco propôs um instrumento financeiro que era definido como transação cambial, e não como empréstimo, o que ajudou Atenas a cumprir as metas da UE (que impõem teto de 3% do PIB para o deficit), enquanto gastava mais do que podia.
No final de 2009, com a troca de governo, foi descoberto que o deficit no Orçamento grego representava 12,7% do PIB, e não os 3,7% estimados pela administração anterior. Com isso, investidores temem que o país acabe dando calote na dívida.

Incêndio
Ao mesmo tempo, os contratos feitos pelo governo grego, conhecidos como "credit default swaps" (CDS), efetivamente permitem que bancos e fundos de hedge apostem no equivalente financeiro a um incêndio grave: a moratória do país. Caso Atenas dê calote em sua dívida, os investidores que detiverem esses CDS lucrarão.
"É como comprar uma apólice de seguro sobre a casa de seu vizinho -você cria um incentivo para que aquela casa seja queimada", disse Philip Gisdakis, do UniCredit.
Mas, mesmo antes que o papel dos bancos na crise grega se tornasse aparente, uma companhia pouco conhecida que conta com investimentos de Goldman Sachs, JPMorgan e cerca de uma dúzia de outras instituições havia criado um índice que permitia aos participantes do mercado apostar na possibilidade de quebra da Grécia e de outros países europeus.
Em setembro, essa empresa, o Markit Group, introduziu um índice baseado nesses CDS que permitiu que operadores começassem a apostar na Grécia, logo antes da crise.
Como resultado, dizem operadores, há um círculo vicioso. Enquanto bancos e outras instituições correm para adquirir esses CDS, o custo de seguro da dívida grega cresce. Alarmados por esse sinal negativo, os investidores no mercado de títulos passam a rejeitar os papéis gregos, o que torna mais difícil a captação do país. Isso, por sua vez, faz crescer a ansiedade, e logo o processo todo se reinicia.
Nas mesas de operações, ocorre um debate feroz sobre o que exatamente vem causando os problemas recentes da Grécia. Alguns operadores dizem que os CDS podem ter agravado a situação, enquanto outros atribuem o problema à deterioração nas finanças gregas.
"Trata-se de um país que está emitindo títulos apesar da debilitação do mercado", disse Ashish Shah, do Barclays Capital, em referência à contínua necessidade grega de captação.
As operações com o índice do Markit dispararam neste ano, o que ajudou a elevar o custo de seguro de títulos de dívida grega e, com isso, elevou o custo em que Atenas incorre na sua captação. O custo de seguro para US$ 10 milhões em títulos gregos, por exemplo, subiu para mais de US$ 400 mil, neste mês, ante os US$ 282 mil do começo de janeiro.
O índice Markit é formado pelos 15 CDS mais negociados da Europa e cobre também outras economias em crise, como Portugal e Espanha. E, à medida que a preocupação quanto às dívidas desses países causava movimento nos mercados de todo o mundo, as transações com o índice explodiam.
Neste mês, a demanda por contratos do índice atingiu US$ 103,9 bilhões, ante US$ 52,9 bilhões em janeiro. O Markit recebe honorários fixos dos corretores que licencia para operar com o índice.
Os bancos europeus envolvidos incluem os suíços Credit Suisse e UBS, os franceses Société Générale e BNP Paribas e o alemão Deutsche Bank, que estiveram entre os maiores compradores de seguros em forma de CDS, segundo operadores e executivos financeiros.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

Com agências internacionais e o "New York Times"


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