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Fed contesta ação de banco na Grécia
BC dos EUA diz que vai investigar papel de Goldman Sachs e outras instituições na crise da dívida grega
Bancos criaram em 2009 índice que permite a
investidores apostar na
possibilidade de quebra da
Grécia e de outros europeus
DA REDAÇÃO
O presidente do banco central dos EUA (Fed), Ben Bernanke, disse que a entidade vai
examinar o papel do Goldman
Sachs e de outros bancos de
Wall Street em acordos financeiros que teriam ajudado o governo grego a esconder a dívida
pública crescente. Por esses
mesmos acordos, bancos e fundos de hedge estariam apostando em um calote grego.
"Estamos olhando uma série
de questões relacionadas com o
Goldman Sachs e outras companhias e seus acordos de derivativos", disse, em depoimento
no Senado americano. "Usar
esses instrumentos de maneira
que desestabiliza intencionalmente uma empresa ou um
país é contraprodutivo."
Em 2001, o Goldman Sachs
ajudou o governo grego a pegar
emprestado bilhões de dólares
sem que esse dinheiro acabasse
aparecendo no deficit do país.
Isso ocorreu porque o banco
propôs um instrumento financeiro que era definido como
transação cambial, e não como
empréstimo, o que ajudou Atenas a cumprir as metas da UE
(que impõem teto de 3% do PIB
para o deficit), enquanto gastava mais do que podia.
No final de 2009, com a troca
de governo, foi descoberto que
o deficit no Orçamento grego
representava 12,7% do PIB, e
não os 3,7% estimados pela administração anterior. Com isso,
investidores temem que o país
acabe dando calote na dívida.
Incêndio
Ao mesmo tempo, os contratos feitos pelo governo grego,
conhecidos como "credit default swaps" (CDS), efetivamente permitem que bancos e
fundos de hedge apostem no
equivalente financeiro a um incêndio grave: a moratória do
país. Caso Atenas dê calote em
sua dívida, os investidores que
detiverem esses CDS lucrarão.
"É como comprar uma apólice de seguro sobre a casa de seu
vizinho -você cria um incentivo para que aquela casa seja
queimada", disse Philip Gisdakis, do UniCredit.
Mas, mesmo antes que o papel dos bancos na crise grega se
tornasse aparente, uma companhia pouco conhecida que
conta com investimentos de
Goldman Sachs, JPMorgan e
cerca de uma dúzia de outras
instituições havia criado um índice que permitia aos participantes do mercado apostar na
possibilidade de quebra da Grécia e de outros países europeus.
Em setembro, essa empresa,
o Markit Group, introduziu um
índice baseado nesses CDS que
permitiu que operadores começassem a apostar na Grécia,
logo antes da crise.
Como resultado, dizem operadores, há um círculo vicioso.
Enquanto bancos e outras instituições correm para adquirir
esses CDS, o custo de seguro da
dívida grega cresce. Alarmados
por esse sinal negativo, os investidores no mercado de títulos passam a rejeitar os papéis
gregos, o que torna mais difícil
a captação do país. Isso, por sua
vez, faz crescer a ansiedade, e
logo o processo todo se reinicia.
Nas mesas de operações, ocorre um debate feroz sobre o
que exatamente vem causando
os problemas recentes da Grécia. Alguns operadores dizem
que os CDS podem ter agravado a situação, enquanto outros
atribuem o problema à deterioração nas finanças gregas.
"Trata-se de um país que está
emitindo títulos apesar da debilitação do mercado", disse
Ashish Shah, do Barclays Capital, em referência à contínua
necessidade grega de captação.
As operações com o índice do
Markit dispararam neste ano, o
que ajudou a elevar o custo de
seguro de títulos de dívida grega e, com isso, elevou o custo
em que Atenas incorre na sua
captação. O custo de seguro para US$ 10 milhões em títulos
gregos, por exemplo, subiu para mais de US$ 400 mil, neste
mês, ante os US$ 282 mil do começo de janeiro.
O índice Markit é formado
pelos 15 CDS mais negociados
da Europa e cobre também outras economias em crise, como
Portugal e Espanha. E, à medida que a preocupação quanto
às dívidas desses países causava movimento nos mercados
de todo o mundo, as transações
com o índice explodiam.
Neste mês, a demanda por
contratos do índice atingiu
US$ 103,9 bilhões, ante US$
52,9 bilhões em janeiro. O
Markit recebe honorários fixos
dos corretores que licencia para operar com o índice.
Os bancos europeus envolvidos incluem os suíços Credit
Suisse e UBS, os franceses Société Générale e BNP Paribas e
o alemão Deutsche Bank, que
estiveram entre os maiores
compradores de seguros em
forma de CDS, segundo operadores e executivos financeiros.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Com agências internacionais e o "New York Times"
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