São Paulo, Sexta-feira, 26 de Fevereiro de 1999
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MERCADO TENSO
Segundo técnicos do governo, PIB pode sofrer queda de 3%; produção industrial em janeiro recuou 7,5%
Argentinos já admitem recessão em 99

MAURÍCIO SANTANA DIAS
de Buenos Aires

O ministro da Economia, Roque Fernández, já reconhece que a Argentina poderá entrar em recessão neste ano. Segundo analistas privados e técnicos do ministério, a previsão de crescimento de 3% em 99 é hoje insustentável; o país poderia inclusive -dizem os mais pessimistas- sofrer uma queda de 3% no PIB.
A hipótese de recessão, descartada em recente viagem que a equipe econômica fez aos Estados Unidos, foi retomada depois que o Instituto Nacional de Estatística e Censo anunciou uma queda de 7,5% na produção industrial de janeiro, comparada com a de dezembro de 98.
O encolhimento da economia argentina fará com que o Estado arrecade menos, ocasionando um déficit nas contas públicas de US$ 4,5 bilhões, US$ 1,5 bilhão acima do que foi acordado com o Fundo Monetário Internacional. Isso obrigará o governo argentino a rever as metas fiscais acertadas com o Fundo no final do ano passado.
Ademais, a fim de compensar o aumento do déficit o governo deverá fazer cortes adicionais em suas despesas -previstos para abril, quando uma nova missão do FMI chegará a Buenos Aires.
A possibilidade de que se façam mais cortes está provocando a reação de alguns ministérios -como o da Educação, do Trabalho e da Saúde. De acordo com os ministros dessas pastas, seus orçamentos já estão muito apertados e não têm margem para suportar novas reduções.

O "efeito Brasil" como álibi
Para poder renegociar com sucesso as metas fiscais de 99 e obter o aval do FMI, o governo argentino aposta num único argumento: o elevado déficit público não decorreria de problemas internos, mas dos efeitos causados pela crise econômica brasileira -que teria levado o país à recessão.
Com isso os funcionários do Ministério da Economia esperam convencer a delegação do FMI -chefiada por Teresa Ter Minassián- de que será necessário incrementar o déficit em pelo menos US$ 600 milhões.
Entretanto a tese de que os problemas da economia argentina resultam todos da crise brasileira foi indiretamente rechaçada pelo embaixador do Brasil na Argentina, Sebastião do Rego Barros.
"Quem chega à Argentina e lê os jornais fica com a impressão de que todos os problemas argentinos decorrem do Brasil; o Brasil não é a causa de todos os problemas argentinos", afirmou o embaixador num encontro com empresários, realizado na quarta-feira em Buenos Aires.


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