São Paulo, quarta-feira, 26 de março de 2008

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Venda da Cesp fracassa pela terceira vez

Empresas alegam preço alto e dúvidas quanto à renovação das concessões de Jupiá e Ilha Solteira, que vencem em 2015

Nenhum dos interessados depositou garantias para participar do leilão marcado para hoje; Serra culpa crise financeira internacional

TONI SCIARRETTA
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo do Estado de São Paulo fracassou ontem em sua terceira tentativa de privatizar a Cesp (Companhia Energética de São Paulo), terceira maior geradora de eletricidade no país. O leilão estava marcado para hoje, no que seria a maior privatização do país desde a venda do Banespa, em 2000.
O governo Serra esperava arrecadar R$ 6,6 bilhões, que pretendia investir em infra-estrutura, como transporte público. Tentativas de vender a Cesp em 2000 (Covas) e 2001 (Alckmin) também fracassaram.
Nenhum dos cinco interessados pré-qualificados depositou garantias para participar da disputa. As empresas tinham até o meio-dia de ontem para entregarem à Bolsa uma fiança bancária, seguro garantia ou dinheiro no valor de R$ 1,74 bilhão para terem direito de apresentar lance no leilão.
As razões alegadas pelos participantes foram as incertezas em relação à renovação das concessões de duas das maiores usinas hidrelétricas da Cesp -Jupiá e Ilha Solteira, 67% do parque gerador da estatal-, que vencem em 2015. Para os interessados, o preço mínimo pedido pelo governo paulista não compensava os riscos regulatórios envolvidos.
Na disputa pela terceira maior geradora do país, estavam as maiores empresas do setor elétrico nacional: a franco-belga Tractebel/Suez, dona da antiga Gerasul, a maior geradora privada, e a CPFL Energia, maior grupo privado de energia, distribuidor no interior de São Paulo. Também concorriam a brasileira Neoenergia, que tem capital da espanhola Iberdrola, a portuguesa EDP e a Alcoa, produtora de alumínio.
"O risco não era compatível com o investimento", disse Wilson Ferreira Junior, diretor presidente da CPFL.
A compra da Cesp era um negócio de pelo menos R$ 22 bilhões. Considerando que todos os acionistas minoritários aderissem à oferta pública de recompra de ações exigida no edital, o novo controlador teria de desembolsar R$ 16 bilhões, sendo R$ 6,6 bilhões pelos papéis do governo. Teria ainda de assumir dívidas da ordem de mais de R$ 6 bilhões.
O governador José Serra (PSDB) atribuiu a desistência dos grupos também à crise financeira internacional, que reduziu a disponibilidade de capital para financiar a operação de compra. O governador citou ainda o preço considerado alto pelos empresários e as incertezas quanto à renovação das concessões. "O governo estabeleceu um preço mínimo que valorizava o ativo do Cesp. Nós não venderíamos abaixo desse valor", afirmou Serra.
Até a segunda, todos os pré-qualificados ainda estudavam formar um consórcio único para participar do leilão. As negociações prosseguiram durante todo o feriado prolongado de Páscoa. As empresas não admitem que negociaram entrar juntas no leilão nem que decidiram conjuntamente não fazer uma oferta pela Cesp.
Mesmo diante da redução da liquidez de crédito do mercado internacional, o fim das concessões de duas das principais usinas da Cesp foi o fator determinante para o abandono do negócio. Pela atual lei das concessões, as usinas hidrelétricas de Ilha Solteira e Jupiá terão de ser devolvidas à União em 2015.
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, chegou a dizer que estudava "brecha" na atual legislação para garantir a prorrogação da concessão das duas usinas por mais 20 anos, mas depois não quis se comprometer com a renovação.
A mudança alteraria completamente a avaliação do negócio. O preço mínimo de R$ 49,75 por ação, determinado por avaliações dos bancos Citibank e Fator, embutia a venda de energia já feita pela Cesp para além dos prazos da concessão.
A Folha apurou que os grupos interessados, durante a avaliação econômico-financeira, retiraram do cálculo feito pelos avaliadores a receita referente à venda da energia correspondente às duas usinas mesmo após o fim da concessão, em 2015.
Segundo a Folha apurou, nessa avaliação, o preço mínimo para a compra da Cesp que asseguraria taxas de retorno ao novo controlador era de R$ 36 a R$ 38 por ação. Daí surgiram pressões dos interessados para que o governo reduzisse o valor, o que não foi aceito.


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