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Venda da Cesp fracassa pela terceira vez
Empresas alegam preço alto e dúvidas quanto à renovação das concessões de Jupiá e Ilha Solteira, que vencem em 2015
Nenhum dos interessados depositou garantias para participar do leilão marcado para hoje; Serra culpa crise financeira internacional
TONI SCIARRETTA
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo do Estado de São
Paulo fracassou ontem em sua
terceira tentativa de privatizar
a Cesp (Companhia Energética
de São Paulo), terceira maior
geradora de eletricidade no
país. O leilão estava marcado
para hoje, no que seria a maior
privatização do país desde a
venda do Banespa, em 2000.
O governo Serra esperava arrecadar R$ 6,6 bilhões, que pretendia investir em infra-estrutura, como transporte público.
Tentativas de vender a Cesp em
2000 (Covas) e 2001 (Alckmin)
também fracassaram.
Nenhum dos cinco interessados pré-qualificados depositou
garantias para participar da
disputa. As empresas tinham
até o meio-dia de ontem para
entregarem à Bolsa uma fiança
bancária, seguro garantia ou dinheiro no valor de R$ 1,74 bilhão para terem direito de
apresentar lance no leilão.
As razões alegadas pelos participantes foram as incertezas
em relação à renovação das
concessões de duas das maiores
usinas hidrelétricas da Cesp
-Jupiá e Ilha Solteira, 67% do
parque gerador da estatal-,
que vencem em 2015. Para os
interessados, o preço mínimo
pedido pelo governo paulista
não compensava os riscos regulatórios envolvidos.
Na disputa pela terceira
maior geradora do país, estavam as maiores empresas do
setor elétrico nacional: a franco-belga Tractebel/Suez, dona
da antiga Gerasul, a maior geradora privada, e a CPFL Energia,
maior grupo privado de energia, distribuidor no interior de
São Paulo. Também concorriam a brasileira Neoenergia,
que tem capital da espanhola
Iberdrola, a portuguesa EDP e a
Alcoa, produtora de alumínio.
"O risco não era compatível
com o investimento", disse
Wilson Ferreira Junior, diretor
presidente da CPFL.
A compra da Cesp era um negócio de pelo menos R$ 22 bilhões. Considerando que todos
os acionistas minoritários aderissem à oferta pública de recompra de ações exigida no edital, o novo controlador teria de
desembolsar R$ 16 bilhões,
sendo R$ 6,6 bilhões pelos papéis do governo. Teria ainda de
assumir dívidas da ordem de
mais de R$ 6 bilhões.
O governador José Serra
(PSDB) atribuiu a desistência
dos grupos também à crise financeira internacional, que reduziu a disponibilidade de capital para financiar a operação
de compra. O governador citou
ainda o preço considerado alto
pelos empresários e as incertezas quanto à renovação das
concessões. "O governo estabeleceu um preço mínimo que valorizava o ativo do Cesp. Nós
não venderíamos abaixo desse
valor", afirmou Serra.
Até a segunda, todos os pré-qualificados ainda estudavam
formar um consórcio único para participar do leilão. As negociações prosseguiram durante
todo o feriado prolongado de
Páscoa. As empresas não admitem que negociaram entrar
juntas no leilão nem que decidiram conjuntamente não fazer uma oferta pela Cesp.
Mesmo diante da redução da
liquidez de crédito do mercado
internacional, o fim das concessões de duas das principais
usinas da Cesp foi o fator determinante para o abandono do
negócio. Pela atual lei das concessões, as usinas hidrelétricas
de Ilha Solteira e Jupiá terão de
ser devolvidas à União em 2015.
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, chegou a dizer que estudava "brecha" na
atual legislação para garantir a
prorrogação da concessão das
duas usinas por mais 20 anos,
mas depois não quis se comprometer com a renovação.
A mudança alteraria completamente a avaliação do negócio.
O preço mínimo de R$ 49,75
por ação, determinado por avaliações dos bancos Citibank e
Fator, embutia a venda de
energia já feita pela Cesp para
além dos prazos da concessão.
A Folha apurou que os grupos interessados, durante a
avaliação econômico-financeira, retiraram do cálculo feito
pelos avaliadores a receita referente à venda da energia correspondente às duas usinas
mesmo após o fim da concessão, em 2015.
Segundo a Folha apurou,
nessa avaliação, o preço mínimo para a compra da Cesp que
asseguraria taxas de retorno ao
novo controlador era de R$ 36
a R$ 38 por ação. Daí surgiram
pressões dos interessados para
que o governo reduzisse o valor, o que não foi aceito.
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