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Na periferia de SP, moradores elogiam plano, mas resistem a mudar de local
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Apesar de nunca ter ouvido
falar do pacote habitacional do
governo federal, que vai construir casas com parcelas mínimas de R$ 50, Geralda Pereira,
48, argumenta que o valor não é
o problema -a questão é que
ela não quer sair de onde mora,
em um quarto-cômodo no Jardim Piracuama 3, uma das favelas mais recentes de São Paulo,
localizada na zona sul.
"Imagina! Não troco isso
aqui mas nem... Minha vida é
aqui, a escola da filha é ali", diz
ela, que ocupa um espaço de
pouco mais de 20 m2, com o
marido e as duas filhas.
Posição semelhante tem Valmir Joaquim de Souza, 36. "Eu
mesmo construí minha casa.
Aqui tenho todo o espaço possível e liberdade para fazer o
que quiser, com vista maravilhosa. Você vai para um CDHU
e, dependendo do apartamento, fica preso, parece uma gaiola. E onde vão ser [as casas]?"
O pedreiro, cuja renda familiar é de R$ 1.500, vivia de aluguel em Catanduva até pagar
R$ 5.500 pelo terreno de Piracuama, sem regularização. Sua
casa nem sequer tem escritura.
"A solução é urbanizar, deixar o pessoal no lugar. Tenho
certeza de que muitos aqui não
trocariam de casa. O certo era
colocar água, luz, legalizar." Segundo o IBGE, há 620 mil domicílios em favelas no Estado.
Síndica de um dos conjuntos
da Cohab-Adventista, extremo
sul da capital paulista, Alzira
Vieira Lorga Rolim, 71, diz que
os moradores de favela não
querem se mudar porque "não
pagam água, luz e fazem gambiarra". "Cada um tem que morar no seu canto e pagar aquilo
que gasta, sem contar que alguns vendem e voltam para o
mesmo lugar", diz.
Para o urbanista Kazuo Nakano, a resistência dos moradores de favela tem a ver com a
rede de amizades e relações de
parentesco que eles têm nas
áreas onde moram. "Não são só
de sociabilidade, mas de sobrevivência. É por essas redes que,
às vezes, conseguem emprego,
dinheiro emprestado."
Outro fator é a combinação
de moradia e atividade econômica. Soma-se a isso a padronização dos projetos arquitetônicos. "Imagina você contratar
um arquiteto. Qual a sua reação
se, na primeira reunião, ele
chega com um projeto pronto,
sem escutar suas propostas?",
questiona.
(NATÁLIA PAIVA)
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