UOL


São Paulo, sábado, 26 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TRABALHO

Paralisação em São José dos Campos chega ao quarto dia; outras unidades começam a parar por falta de peças

Governo vai intermediar a greve da GM

MARIA TERESA MORAES
DA FOLHA VALE

O governo Lula decidiu intermediar para pôr fim ao impasse na greve da fábrica da General Motors em São José dos Campos (91 km de São Paulo). Ontem, em seu quarto dia, a greve provocou a paralisação, por falta de peças, da produção nas unidades da montadora em São Caetano do Sul (SP) e Gravataí (RS).
Ontem, o ministro do Trabalho, Jaques Wagner, determinou que a SRT (Secretaria de Relações do Trabalho) procure mediar as negociações entre o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e a montadora.
O secretário Osvaldo Martinês Bargas vai participar de uma reunião com a montadora e o sindicato, em São Paulo, na próxima segunda-feira.
A decisão contraria as declarações dadas anteontem pelo ministro, quando afirmou que o governo não iria intervir nos movimentos grevistas. Segundo o ministro, empresas e trabalhadores deveriam buscar acordos sem o envolvimento do governo.
Um fator que influiu na decisão do ministério foi a expansão das consequências da greve na fábrica de São José dos Campos para outras duas unidades da montadora.
"A greve faz parte da democracia, o ministério vê a paralisação como um instrumento justo e legal, mas estamos abertos para intermediar os conflitos existentes", disse Bargas.
Segundo o Palácio do Planalto, o secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Trabalho, Osvaldo Bargas, foi designado para acompanhar as negociações entre trabalhadores e empresários em São Paulo, na GM, porque essa é sua função e não porque haja uma preocupação maior do governo quanto à possibilidade de volta da indexação.
O Planalto informou também que, embora essa não fosse a prática do governo anterior, a partir de agora o Ministério do Trabalho procurará colaborar com negociações trabalhistas sempre que julgar necessário.
Apesar de a manutenção da greve descumprir uma decisão do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) de Campinas, que, anteontem, a considerou abusiva e determinou o imediato retorno ao trabalho, os operários da fábrica de São José decidiram, em assembléia, manter a paralisação.
Apesar da desobediência, o sindicato e os funcionários não devem ser punidos pela Justiça do Trabalho. De acordo com o juiz-auxiliar da presidência do TRT, Francisco Alberto da Motta Giordani, o tribunal só pode multar o sindicato se uma das partes envolvidas encaminhar uma ação pedindo a punição.
"O que competia ao TRT era julgar a legalidade da greve. Não existia na solicitação nenhum pedido de punição ao descumprimento da decisão", disse.
Ontem, em uma assembléia unificada, os 10,5 mil trabalhadores da GM e sua subsidiária, GM Powertrain, decidiram manter a greve até que a montadora aceite conceder os 10,39% de reajuste salarial referentes à inflação acumulada entre novembro de 2002 e fevereiro deste ano.
Até agora, a única proposta apresentada pela GM aos operários de São José foi o pagamento de um abono salarial de 56% para aqueles que recebem até R$ 1.600 por mês, sem incorporação aos salários. Segundo o sindicato, o pagamento do abono beneficiaria apenas 60% do efetivo.
O ministro do Trabalho, Jaques Wagner, falou na manhã de ontem por telefone com o vice-presidente nacional da General Motors, José Carlos Pinheiro Neto, com quem conversou sobre a greve na empresa.
Wagner estava em Porto Alegre, onde teve uma passagem rápida para a inauguração de uma nova unidade da fabricante de cigarros Souza Cruz.
Havia diretores da General Motors no local, que estabeleceram o contato entre o ministro e o empresário.
O ministro do Trabalho, Jacques Wagner, disse que não tem conversado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre as recentes greves nas montadoras de automóveis. Mas declarou que o Ministério do Trabalho tem acompanhado sem interferir no movimento dos trabalhadores. O ministro esteve ontem, em Campo Grande (MS), participando do 62º Fórum Nacional dos Secretários de Trabalho.
Segundo o petista, a greve faz parte da relação empregado-empregador. E que não passa por sua cabeça que, pelo fato de ele e o presidente serem ex-sindicalistas, não iriam acontecer greves neste governo.
Com relação às paralisações nas montadoras, Wagner disse que o ministério tem acompanhado e se oferecido para intermediar e acompanhar as negociações, mas sem interferências.


Colaboraram a Sucursal de Brasília e a Agência Folha


Texto Anterior: Ano do dragão: IPCA-15 de abril repete março
Próximo Texto: Palocci diz que pior caminho é o da indexação
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.