São Paulo, sábado, 26 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sistema S reage contra proposta pública

Senac e Sesc dizem que são transparentes e que terão de diminuir atividades oferecidas se suas verbas forem cortadas

Governo afirma que não quer recursos do sistema, mas, sim, garantir acesso de alunos da rede pública a cursos profissionalizantes

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

A proposta de reforma do Sistema S apresentada pelo governo causou comoção nas últimas semanas, em entidades como Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e Sesc (Serviço Social do Comércio).
"Se havia falhas com relação ao trabalho, que as apontassem", afirma Danilo Miranda, diretor regional do Sesc. "Eles fizeram uma intervenção grave, sem ouvir nenhum funcionário das instituições."
O ministro da Educação, Fernando Haddad, afirma que as discussões vêm sendo feitas com a representação nacional das entidades, que não têm um controle centralizado.
"Não dá para conversar com 120 pessoas, dos cinco S em 27 Estados diferentes", diz Haddad. "Estamos em meio ao diálogo. Não quer dizer que vamos chegar a um consenso, mas que está havendo diálogo, está."
Segundo ele, entre as propostas atualmente analisadas, está, por exemplo, a possibilidade de criar uma regra de transição para o uso das verbas do Sistema S. Isso porque, segundo as entidades, parte do valor arrecadado para o sistema será destinado à criação do Funtec (Fundo Nacional de Formação Técnica e Profissional).
Assim, a distribuição dos recursos não acontecerá mais apenas por percentuais fixos, mas será feita, entre outros critérios, de acordo com o número de matrículas gratuitas.
Algumas entidades como o Sesc, promotora de atividades culturais de qualidade e a bom preço, temem ter de acabar com um terço de sua estrutura, em razão de cortes.
O ministro diz que não é isso que acontecerá. "Da maneira como é feita a repartição interna de verbas no sistema, o Sesc fica com menos do que a proposta que está sendo feita", diz Haddad. "Teoricamente, eles teriam 1,5% sobre a folha mas, na prática, o que vai para os departamentos regionais é muito menos do que isso."

Acesso público
Com as mudanças, a intenção do governo é aumentar o acesso, aos cursos profissionalizantes, dos alunos egressos da rede pública de ensino.
O Senac, no entanto, discorda. Segundo Luiz Francisco de Assis Salgado, diretor regional do Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), em São Paulo, apesar de haver oportunidades e vagas, elas não são preenchidas por alunos de escolas públicas por falta de interesse dos empresários, dos jovens e por deficiência em sua formação.
"O egresso do ensino público é tão defasado, mas tão defasado, que ele não consegue acompanhar", afirma Salgado.
De acordo com ele, os alunos do Senac vêm de colégios e resolveram seguir carreira técnica. "É para isso que fomos criados", diz Salgado. "Não para suprir as necessidades governamentais, mas sim para dar o embasamento técnico."
Outro motivo que levou o governo a propor as mudanças diz respeito a uma alegada falta de transparência e eficiência nas instituições ligadas ao Sistema S. "O governo está presente nos conselhos das entidades", diz Miranda. "Eles fazem parte do órgão fiscalizador."
As entidades também questionam o fato de que o governo dificilmente conseguiria ser mais eficiente na gestão das verbas ligadas ao Sistema S. "Não pretendemos administrar verbas", diz Haddad. "A proposta não prevê que nenhum centavo do Sistema S passe ao governo. O valor arrecadado deverá apenas financiar a gratuidade de alunos que não possam pagar pela educação profissional."


Texto Anterior: Alta do juro visa crescimento com equilíbrio, diz BC
Próximo Texto: Sesc diz que atividades terão de ser reduzidas em um terço
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.